segunda-feira, maio 28

Crítica: Bravura Indômita (2010)


Por Wendell Marcel

"O novo filme dos Coen é tão bom quanto o original"

Em 1969 John Wayne interpretou um pistoleiro bêbado e caolho numa fantástica história de Velho Oeste. O filme contava a perseguição do Xerife 'Rooster', da jovem Mattie Ross e do solidário porém ganancioso senhor LaBoeuf, em busca do assassino Tom Cheney, que matara à sangue frio o pai da mocinha nada frágil. O roteiro era baseado no romance de Charles Portis, e a direção assinada por Henry Hathaway. O curioso da versão original de Bravura Indômita (True Grit) de 1969, é que o filme proporcionou ao monstro John Wayne seu primeiro e único Oscar de Melhor Ator. Nos mais de seus 50 filmes anteriores ele apenas provou que a imagem de um sujeito desolado e de caráter forte conseguia criar uma imagem de homem carrancudo, na medida em que ordenava aos personagens marcantes de sua carreira, como o cowboy Ringo Kid de No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939) uma personalidade que seria para sempre fator comum a todos os demais personagens do gênero western. Em 2010 a refilmagem deste filme soou superior ao original, modernismo e peculiaridades dos realizadores Ethan e Joel Coen.

No ano em que o famoso cineasta francês Jean-Luc Godard foi homenageado na entrega do Oscar de 2011, a refilmagem do clássico de Hathaway dos irmãos Coen também foi reconhecido por suas qualidades indefectíveis. Dessa vez, Jeff Bridges, Hailee Steinfeld e Matt Damon interpretam o trio parada dura. Com algumas modificações nas passagens do tempo, os Coen adiantam o enredo, e colocam Mattie e Rooster numa relação mais vagarosa, refletindo a necessidade das personagens em incorporar as características evocativas dos dois, igual como no roteiro original de Portis. Já o ranger texano LaBoeuf é afastado parcialmente das complicações centrais da história; e ainda a apresentação do federal Rooster é feita quando ele está defecando numa casinha de madeira, no meio do nada, e totalmente desvinculado de uma imagem de nortear valores: isso mostra a novidade dessa nova edição feita pelos Coen: induzir ao personagem de Bridges o desapego ao homem totalmente correto, a honradez parcial. A história do novo Bravura Indômita é simples, assim como o primeiro, contudo repleto de imagens espontâneas, diálogos soltos e honestos, um verdadeiro filme sem cinismo, rápido, porém com uma graça interiorizada. Isso tudo era esperado vindo dos criadores de Fargo - Uma Comédia de Erros (Fargo, 1996) e Queime Depois de Ler (Burn After Reading, 2008) assim como a atuação fabulosa de Bridges, e a nada coadjuvante Steinfeld. Mesmo com a produção de Bravura se mostrar tão simpática à técnica dos Coen, esse é um filme diferente dos trabalhos dos irmãos que mostraram criatividade e perspectiva num cinema criado por eles mesmos, onde cada personagem não conhece os acontecimentos que virão, e são, na maioria das vezes, surpreendidos por uma situação anormal. Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men, 2007), aquele tão agraciado no Oscar de 2007, é a máxima imagem do que os diretores querem passar aos espectadores.

Não se pode negar diante dos fatos a superioridade deste de 2010 com aquele de 1969, sendo que a ideia das duas películas não são as mesmas. Criticar o Bravura dos Coen têm de ser feita não levando em conta a edição anterior, quando eles mesmo puseram em praxe que "os dois filmes são adaptações do livro de Charles Portis, e é ele o motivador da realização deste filme", que eles insistem em negar ser uma refilmagem. Em meio a todas as possibilidades comparativas, não existe aqui nada em que se possa inferir, sendo que todos os quadros e indevidamente todas as particularidades tornam-se pessoais nas mãos dos Coen. Os dois, na verdade, são verdadeiros expoentes da personalidade cinematográfica. Apesar da derrota esmagadora em 2011, foi gratificante ver o reconhecimento da Academia com este grande filme. 

Avaliação: 8/10





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