terça-feira, janeiro 27

Crítica: A Teoria de Tudo (2014)


Por Maurício Owada

"Cinebiografia trás um filme acomodado demais, 
diante de uma figura ousada que ultrapassou os limites da ciência"

Grandes personalidades sempre rendem filmes chamativos, já que a própria persona é o grande atrativo e a escalação de elenco pode ser tanto óbvio quanto impressionante. É o caso do ator Eddie Redmayne, que de aparência elegante e sempre com um ar charmoso, o jovem artista demonstra um estudo e um esforço em encarnar o cosmólogo Stephen Hawking desde o início até o estágio atual de sua doença, que não o permite a ter os movimentos musculares voluntários devido a doença degenerativa que descobriu no auge de sua juventude, quando iniciava uma das suas primeiras teorias que chamaria a atenção da ciência.

A Teoria de Tudo (The Theory of Everything) conta sobre a história de Stephen e Jane Hawking (Felicity Jones), como se conheceram até o casamento cheio de dificuldades, conforme ambos criam sentimentos por outras pessoas, numa relação complexa aonde a prioridade por uma mutualidade e ao mesmo tempo, um tempo para eles mesmos é sentido em cada olhar cansado de Jane ou o olhar desconfiado de Stephen, o acerto da direção é no trabalho com os atores, mas James Marsh é pouco inspirado na condução da narrativa, que não sai do lugar comum, usa e abusa dos recortes do cotidiano como se fosse uma filmagem caseira. Tais recursos dão uma dinamicidade, mas o roteiro de Anthony McCarten é muito linear e explora pouco da ciência no olhar de Hawking, aonde as mudanças de ideia são citadas, mas pouco exploradas, afim de trazer um interesse do assunto para o espectador.

Infelizmente, além do desempenho brilhante de Redmayne, assim como de Felicity Jones e uma belíssima trilha-sonora, A Teoria de Tudo não oferece muito, mas McCarten pelo menos não é covarde em retratar as intimidades do casamento dos Hawking, não mascara as personalidades de cada um e isso acaba sendo um ponto a mais para o projeto, mas ela sofre do mesmo mal de muitas obras que concorrem ao Oscar, que é a falta de um maior propósito artístico. Começa no primeiro plano e termina no último, não transcende além disso - típico filme de Oscar.

Nota: 7,0/10,0




Trailer:

segunda-feira, janeiro 26

O Desafio dos 365 Filmes em Um Ano - 4ª Semana

Por Maurício Owada

Com um mês para a maior premiação da indústria cinematográfica americana - lembrando que Oscar não é parâmetro, já que ainda temos Cannes, Berlim e Veneza, além dos nossos próprios festivais, mas que em geral, chega a ser divertido acompanhar as temporadas de premiações, ainda que infelizmente, elas sejam regidas mais como corrida de cavalo do que um cerimônia em celebração a arte de se fazer cinema. Mas acompanhar os filmes de circuito que passam em Sundance e Toronto é interessante para entender a própria indústria e analisa-la de como ela se encaixa nas tendências estéticas, narrativas e principalmente, temáticas.

Incluindo alguns filmes indicados a melhor filme e outros de países fora dos EUA, que dão o ar tímido de sua graça, apresentando um cinema particular, às vezes, simples e magistral, outras vezes, pretensioso e fraco, mas que ajuda a dar, seja ao cinéfilo, estudante de cinema, crítico etc... um panorama da indústria de filmes e como o seu maior centro enxerga o cinema de fora.

#19 - A Teoria de Tudo (2014) - The Theory of Everything ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 7/10

Direção: James Marsh

(Essa opinião foi reescrita por mudanças de pensamento): A Teoria de Tudo se encaixa bem no tipo de premiação e público que pretende alcançar. Baseado na vida de Stephen e Jane Hawking, principalmente de Stephen (Eddie Redmayne), responsável por teorias que revolucionaram o mundo da física, na área de cosmologia. Um homem limitado em sua condição física, cuja doença o impede de mover todos os músculos, que abrange o universo e seu conceito além de suas capacidades, através de equações, buscando uma resposta definitiva ou talvez, a falta de respostas claras como respostas. É um filme correto e cai em muitos clichês de cinebiografias, mas o bom desempenho de seus atores e uma bela fotografia ajudam a suportar um filme com muitas falhas, que não perde mais por um roteiro competente que retrata bem a vida pessoal e carreira do cosmólogo sem ser covarde com os fatos, como fez Uma Mente Brilhante, mas também não sai do lugar comum.

#20 - Tangerinas (2013) - Mandariinid ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 10/10

Direção: Zaza Urushadze

Quando uma obra capta em sua simplicidade narrativa e visual, uma história que transcende os limites das fronteiras, quando dialogam com o ser humano em si, é um grande feito. Tangerinas se passa todo o tempo numa locação limitada, cercada de casas de madeira, terra e plantações de tangerina, que evocam um odor imaginário, um lugar simples onde todas as desavenças étnicas se neutralizam diante da convivência civilizatória, por intermédio de Ivo, um homem que reflete a sensatez humana, trazendo calma diante das faíscas dos dois homens que ajuda a salvar: um soldado checheno e outro georgiano, ambos em uma guerra de poucos propósitos e muitas mortes. Em pouco tempo (1h26), o longa desenvolve personagens riquíssimos e trás um panorama sobre os conflitos humanos, gerados por motivos torpes ou politicagens, aonde quem paga o pato são pessoas comuns que se veem envolvidas.

#21 - Para Sempre Alice (2014) - Still Alice ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 8/10

Direção: Richard Glatzer e Wash Westmoreland

O que mais desola uma pessoa do que deixar de ser ela mesma, esquecer como fazer coisas ou esquecer quem você é ou quem são as pessoas ao seu redor. A mente se desvanecendo do corpo, o olhar perdido de uma intensa Julianne Moore retrata os efeitos do mal de Alzheimer de forma assustadora, que aos poucos, deixa de ser uma mulher inteligente, professora de linguística na universidade de Columbia, para esquecer palavras simples. A cena do discurso de Alice, conscientiza a gente não só da condição da personagem, mas de todos aqueles que sofrem com a doença, demonstrando o desolamento de uma pessoa ao perceber como ela aparenta socialmente quando os sintomas atacam. O filme pode ser apenas correto, mas é conscientizador e é importante para todos, seja quem tem parente com alzheimer ou não.

#22 - Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo (2014) - Foxcatcher ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 9/10

Direção: Bennett Miller

Quando Miller resgata velhas filmagens da aristocrata família Du Pont, demonstra um passado glorioso que contrasta tremendamente com a figura misteriosa e perturbada de John (Steve Carell) e sua senil mãe Jean (Vanessa Redgrave), onde ambos possuem uma relação conturbada, onde um tenta agradá-la para que ela o despreze de forma cruel. Do outro lado, os irmãos Schultz (Ruffalo e Tatum) são dois lutadores de greco-romano, ganhadores olímpicos que possuem uma relação conturbada, apesar de uma cumplicidade mútua. Com uma incrível direção de atores, há pouco de diálogo e muito de olhares e expressões que dizem muito mais daqueles personagens. Miller pontua a trilha-sonora em trechos isolados do filme, geralmente em poucos tons e poucas notas, trazendo um clima tenso de suspense que resultará em trágicas circunstâncias.

#23 - Dois Dias, Uma Noite (2014) - Deux jour, une nuit ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 10/10

Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne

Drama dos Irmãos Dardenne que acompanha Sandra (Marion Cotillard) num final de semana dificil, aonde ela precisa convencer a maioria dos seus colegas a votarem a favor de que ela fique no trabalho, contanto que abram mão do bônus de mil euros da firma aonde trabalham. Com poucos cortes e uma câmera que acompanha Cotillard visitando cada colega, aonde cada cena é filmada de forma isolada e única, sem muitos cortes e edições, os cineastas buscam um recorte da vida real - o drama de uma mulher que luta para manter o ganha-pão e manter os custos da família, ao mesmo tempo que acaba de sair de uma depressão. Cada personagem no longa oferece um mosaico, aonde não há lado certo e nem denominações morais comuns para cada decisão tomada pelos personagens, construindo um forte drama social e ao mesmo tempo, intimista.

#24 - Ida (2013) - Ida ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 6/10

Direção: Pawel Pawlikowski

Cheio de dilemas psicológicos e religiosos, Ida é dotado de uma fotografia B&W belíssima, de atores imersos em seus personagens aonde o silêncio trabalha em prol da narrativa, que por este lado, peca por ser arrastado demais em 1h22. Tem muita cena pra muito nada, apesar da sinopse indicar um filme mais interessante. É aquele tipo de filme que possui diversos pontos positivos, mas que erra a mão por focar em um certo ritmo enfadonho. O conflito da freira Ida/Anna trás diversos conflitos na personagem, ainda mais com a presença de sua tia Wanda e a descoberta de sua origem judia. Os conflitos raciais e religiosos se ampara no silêncio, na falta de gestos e olhares tímidos, mas falta força em retratar os sentimentos envoltos.

#25 - O Jogo da Imitação (2014) - The Imitation Game ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 7/10

Direção: Morten Tyldum

A Segunda Guerra Mundial vista de outro ângulo. Todo a história de um matemático que ajudou a inventar o computador e quebrar o código Enigma, levando os Aliados a vencerem a Guerra, mistura um drama intimista com um drama histórico. Assim como A Teoria de Tudo, o filme ressalta a importância de outro gênio, no caso, Alan Turing, que caiu em desgraça após ser condenado pelo governo britânico por ser homossexual. Competente em sua proposta, ela segue e trilha os clichês do tipo de forma digna, entregando um trabalho bem acabado, com uma trilha climática, mas nada melodramático, assim como seus atores, principalmente os protagonistas Benedict Cumberbatch e Keira Knightley. Cumberbatch brilha, com trejeitos e tiques, denotando uma insegurança por trás de tanta arrogância de seu intelecto ou pelas suas atitudes anti-sociais.

sábado, janeiro 24

Crítica: Dois Dias, Uma Noite (2014)



Por Wendell Marcel



"Novo filme dos irmãos Dardenne é um drama social e psicológico excepcional"

Jean-Pierre e Luc Dardenne são ambos vencedores por duas vezes do maior prêmio do Festival de Cannes, a Palma de Ouro. Em seu mais novo drama, Dois Dias, Uma Noite, os irmãos reiteram a ideia de cinema próximo da realidade, com planos longos, sem muitos cortes, provocando no espectador a sensação de tempo e espaço no mesmo compasso em que as horas do dia passam, tornando a narrativa fluída um artifício psicológico para acompanhar a jornada de Sandra. É realmente um belo trabalho de cinema.

O filme conta a história de Sandra, uma mulher que durante um final de semana precisa convencer seus colegas de trabalho a votar para que ela continue no emprego, contudo, para isso eles terão que optar em não aceitar um bônus caso ela fique na empresa. Nesse contexto, o texto primoroso dos roteiristas encara a situação econômica e social que a França passa nos últimos anos, e no seu sentido macro, boa parte da Europa. Para Sandra, e sobretudo para o seu marido, Manu, o seu emprego é necessário para que as contas da casa estejam em dia. Por outro lado, a personagem além de ter que enfrentar olho no olho cada colega de trabalho, e tentar convencer cada um a renegar um extra no salário do fim do mês (o que faz "uma grande diferença quando colocar as contas em dia"), ela também precisa superar uma grave depressão que a impossibilitou de continuar no trabalho 3 meses atrás. 

Na jornada do fim de semana, enquanto visita um por um dos funcionários na empresa em que trabalha, os Dardenne, através de Sandra, vão apresentando como está constituída a moral dos franceses pós-crise mundial, representada quando as personagens indagam se o outro aceitou votar a favor de dela, e se ela, em um momento de empatia, se colocaria no lugar deles. Afinal, a grande maioria daquelas pessoas possuem mulheres e maridos, e filhos, casa para bancar e etc. As pessoas também poderiam se colocar no lugar de Sandra, que corre o risco de perder o emprego; pois ela também possui uma família. No entanto, Sandra pouco defende essa perspectiva, aceitando facilmente em alguns casos a decisão dos colegas desfavorável a ela.

O diálogo que a protagonista tem com os coadjuvantes é muito bem dirigido, e a competência dos atores e atrizes está fortemente direcionado para essas cenas de enfrentamento. A fragilidade psicológica de Sandra frente à fragilidade econômica e moral do Julien, Kader, Willy e outros. Não podemos inferir ganância dos colegas de trabalho, mas talvez uma certa individualidade com a situação econômica do outrem, nesse caso o de Sandra que, nos intervalos das visitas, tem várias crises emocionais, pensando sempre em desistir, em voltar pra casa e deitar solitariamente na cama. O seu marido, personagem interpretado pelo excelente Fabrizio Rongione, tem importante papel no direcionamento de Sandra para conseguir o maior número de votos para manter-se no emprego. Voto a voto, pessoa a pessoa, "colega" a "colega" Sandra vai percebendo o quão difícil é saber em que momento podemos contar com as pessoas que antes diziam ser nossos amigos. Metaforicamente, os amigos se contam com os dedos da mão, ou com o número total de votos...

É principalmente pelo trabalho de Marion Cotillard, que interpreta o papel de Sandra, que Dois Dias, Uma Noite tem em sua estrutura uma carga dramática que não sofre desníveis em momento algum. A atriz, em confiança com os diretores, desempenha em várias cenas master uma ação dramática incorrigível, dando ao espectador a sensação de que ela está profundamente imersa na personagem. O percurso da ação dramática perpassa os atos até chegar em um clímax que dialoga mais profundamente com os significados retratados no decorrer do filme, aspectos como moral e ética. É Sandra agora o sujeito que será testado por uma decisão; dilema já contado pelos cineastas em outro grande filme, O Garoto da Bicicleta. Sublime!

Nota: 8,5 - 10

Trailer:

sexta-feira, janeiro 23

Crítica: Amor, Plástico e Barulho (2013)



Por Wendell Marcel

"Cinema que se repete"

O que sabemos sobre a arte cinematográfica é que a cada novo filme, o diretor, muitas vezes inconscientemente, realiza releituras de outros filmes para construir o seu próprio material audiovisual. Algumas pessoas repetem isso como um grande clichê na narrativa. No caso de Amor, Plástico e Barulho, o primeiro longa-metragem da diretora Renata Pinheiro, percebemos o jogo dramático presente em clássicos como A Malvada, onde uma mulher que admira o trabalho de uma grande estrela da Broadway termina por tomar o seu lugar nos holofotes da fama, de uma maneira sorrateira e munida de seus atributos sobretudo estéticos e sensuais. Neste filme pernambucano não é diferente. Jaqueline e Shelly estão, no início do filme, em posições diferentes: enquanto a primeira já alcançou o seu lugar ao sol, a outra ainda está sob a sombra da mesma. A transformação nessa posição social das personagens ocorre quando Shelly, num impulso de crise dramática, compra uma tinta de cabelo na cor loira. Nesse momento ocorre a diferenciação entre as duas.

A música brega está aqui fortemente presente na narrativa do filme, quando algumas músicas são diálogos das personagens, dando a entender de que esse estilo faz parte da vida das pessoas no nordeste brasileiro. Aqui encontramos uma crítica muito interessante sobre a representação que a música brega, e seus produtos relacionados, são vistos por outras regiões do país: um barulho. Ora, o que conhecemos por música é que precisamente a canção e a letra precisam estar sonoramente compatíveis. Dessa forma, o estilo musical brega é música como qualquer outra, e quando a letra "Chupa que é de Uva" é cantada lentamente e de forma dramática pela personagem Jaqueline, reconhecemos que a própria música popular brasileira sofre um padrão relacionado a interpretação das canções. Música de qualidade? O roteiro, nesse sentido, levanta algumas questões acerca da cultura da música, neste caso o brega, que está ligado a um comportamento mais agitado, de contato, ligado mais a paixão, localizado tanto no litoral do nordeste brasileiro, quanto no interior de Pernambuco. Essa temática foi apresentada de forma muito eficiente no documentário Faço de Mim o que Quero, curta-metragem premiado de Sérgio Oliveira e Petrônio Lorena. Ambos os filmes retratam que o brega é vendido nas ruas, em feiras livres.

terça-feira, janeiro 20

Crítica: Mommy (2014)



Por Wendell Marcel


"Xavier Dolan, um diretor que arrisca"

O canadense Xavier Dolan é um artista completo, e que se arrisca nas suas empreitadas cinematográficas. Conhecido por filmar seu primeiro longa de cinema aos 19 anos, com o seu mais novo filme, Mommy, o diretor que escreve, atua, edita e também é figurinista, procurou explorar a linguagem cinematográfica com mais liberdade. Em seus trabalhos anteriores, principalmente em Laurence Anyways era técnico demais, e em Eu Matei Minha Mãe, emoção em todos os contornos. Ora, em seu novo filme ele encontra o equilíbrio, sendo reconhecido pelo seu trabalho no festival mais "difícil" quando o assunto é cinema, o chique Festival de Cinema de Cannes, sendo um queridinho dele em outras edições. Levou o prêmio do júri!

Em Mommy, o diretor buscou reger sua linguagem de cinema com mais maturidade. A primeira surpresa é a definição da tela curta como um usufruto de linguagem, incorporando sentimentos das personagens juntamente com os espectadores. Não achei piegas a redução da tela. Assim, o primeiro sinal foi dado, "o espectador também será uma parcela da emoção do filme". E Dolan consegue tornar sua história, ainda que altamente tensa e histriônica, como próprio de sua pegada de roteirista, uma montanha russa de emoções, que vão se desgastando até chegar em um ápice que poderia ser calculado com maior precisão, ou seja, um clímax digno de obra-prima. As tomadas são bem dirigidas, e as atrizes parecem ser libertas de uma direção rígida, ao menos por um momento, na cena da varanda, aos risos deliciosos das duas. É um doce em uma mistura de pimenta.

Crítica: Relatos Selvagens (2014)



Por Wendell Marcel


"O que esperar do cinema argentino?"

Talvez o novo filme do jovem diretor Damián Szifron seja uma representação muito interessante do que se constitui o cinema argentino hoje, o texto visual que faz sucesso não apenas no seu país, mas na América Latina e que chega, com muito entusiasmo, às premiações de Hollywood. O filme de Szifron, ou como queira chamar um interessante apanhado de crônicas modernas sobre as relações humanas na urbanidade, é sobretudo um momento sublime da Argentina, desde outro grande clássico de sua cinematografia dos novos anos, O Segredo dos Seus Olhos

As tramas de Relatos Selvagens são estudos acerca da selvageria humana, a raiva, tentando investigar através de um texto delicioso "causos" onde o ser humano, em todas as etiquetas possíveis, provocam ao seu redor ações explosivas, motivadas por um sentimento em comum, a vingança. Esse mesmo sentimento é o ponto de partida para duas histórias, uma que inicia o filme, com muita graça e por uma perspectiva sustentada no humor negro, inigualavelmente cru no que consta sua crítica sobre os atos terroristas nas Américas; e uma no último ato, na análise sociológica do que vem a ser o discreto charme da burguesia (tomando emprestado de Buñuel), igualmente retratado, por outra trama, em Festa de Família

segunda-feira, janeiro 19

O Desafio dos 365 Filmes em Um Ano - 3ª Semana

Por Maurício Owada

A meta desta semana vai ser oito filmes diferentes. Mas antes, tem que se focar no assunto de que 365 filmes por ano não vale exatamente pela quantidade, mas pela qualidade de como vê o filme. Infelizmente, não vemos o cinema como deveria ser visto sempre: no cinema.

Hoje temos canal de filmes na TV a cabo, torrents, DVDs, serviços via streaming etc. Tudo hoje possibilita a busca e acesso a filmes que antes, teríamos dificuldade de achar, sejam por trabalhos primorosos da Criterion que resgata velhos clássicos ou a Versátil, que trabalha em obras de pouco apelo comercial que não tem espaço no mercado de vídeos.


sexta-feira, janeiro 16

Crítica: Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014)


Por Maurício Owada

"A música mostrada não apenas como ofício,
mas como forma de demonstração da obsessão pela perfeição"

A comparação com Cisne Negro (Black Swan, 2010) é inevitável, ambas as obras lidam com jovens tentando ser perfeitos em seus ofícios, ainda na flor da juventude, sofrendo atingir a perfomance perfeita com muito suor e sangue, e um grande desgaste emocional. Em Cisne Negro, todo o suspense psicológico eleva ao clímax catártico e trágico. O final de Whiplash não exala tanta tragédia e drama no desgaste emocional do aspirante a baterista de jazz Andrew (Miles Teller, monstruoso) ao ápice do seu talento, sob a sombra de um regente que lida com seus músicos como um general, com tortura psicológica e às vezes, agressão física, numa atuação brilhante do já veterano ator J.K. Simmons, como Fletcher.

terça-feira, janeiro 13

O Desafio dos 365 Filmes em Um Ano - 2ª Semana

Por Maurício Owada

Na segunda semana, não foi bem sucedida o trabalho de assistir um filme por dia ou pelo menos, sete filmes em sete dias.

Isso será recompensado na próxima semana

#5 - Brother - A Máfia Japonesa Yakuza em Los Angeles (2000) - Brother

Nota: 6/10

Direção: Takeshi Kitano

Com uma narrativa meio problemática ou estranha, a estória de Aniki (Kitano) que, após o massacre de sua família no Japão, decide visitar seu irmão nos EUA, começando por lá uma nova família de Yakuzas. Além da violência estilizada, toda ela é trabalhada pelo cineasta com um incrível esmero, mas seu roteiro perde o interesse da metade para o final e a direção de atores é confusa, havendo um desequilíbrio nas atuações, deixando os atores japoneses mais verossímeis, enquanto os americanos soam tremendamente estereotipados com diálogos repetitivos.

#6 - Doméstica (2012) - Doméstica

Nota: 9,5/10

Direção: Gabriel Mascaro

O documentário é revestido pela relação de empregado/patrão a partir do olhar de sete adolescentes sobre a vida e o convívio com as empregadas domésticas, cada um com uma realidade diferente, o que trás para o documentário uma tridimensionalidade incrível, nos faz conhecer estórias de vida que passaram por sofrimentos e alegrias. O que talvez problematiza é o fato dos jovens não terem os créditos como diretores, pois já que cada câmera tem um "olhar autoral", principalmente do último, que passeia a câmera no álbum de fotos da mãe e da empregada quando crianças ao som de Bob Dylan e uma tentativa de entrevista com a empregada sobre sua relação com a patroa, tentando descobrir quais fatores sociais há por trás daquele vínculo.

#7 - O Predestinado (2014) - Predestination

Nota: 8/10

Direção: Michael e Peter Spierig

Uma cobra comendo o próprio rabo. O que vem primeiro? O ovo ou a galinha? Talvez você já mate o filme nos primeiros minutos, mas a nuvem se torna mais densa e os propósitos de seus personagens cada vez mais nebulosos. Inspirado num conto de uma lenda da ficção-científica, Robert A. Heinlein, este filme é o exemplo perfeito de uma trama intrigante e cheio de surpresas contado de forma refinada e fica anos luz a frente de qualquer trama escrita por Christopher Nolan, apesar do filme não ter a mesma elaboração visual do diretor, mas sua direção de arte reproduz um futurismo misturado com um ar retrô. O Predestinado é daqueles que ficará dias matutando, tentando relembrar cada parte da trama para montar a peça que se monta novamente e novamente... e novamente... e novamente... E Ethan Hawke arrebenta, mas quem brilha é Sarah Snook.

#8 - Não Matarás (1988) - Krotki Film O Zubijaniu

Nota: 10/10

Direção: Krzysztof Kieslowski

Retirado de um dos episódios de uma série de 10 filmes feitos para a TV polonesa, conhecida como Decálogo, reconhecido pela crítica. O quinto mandamento de uma hora adquire mais 20 minutos (como não vi o corte da TV, não poderei fazer comparações), mas se vê em seus últimos momentos na fase polonesa, o estilo de Kieslowski filmar, tudo acontece devagar, objetos de cena e momentos aparentemente comuns adquirem uma simbologia forte na construção de seus personagens, além da reflexão do próprio fato de matar, aonde um jovem mata um taxista friamente e o Estado mata o condenado friamente. Um tipo de ciclo vicioso alimentado por uma sociedade acinzentada, com um céu amarelado e morto, como um cadáver em decomposição. O trabalho de luzes e sombra do cineasta atinge uma poética verdadeira de um mundo melancólico aonde a existência da vida é lidada por valores impregnados pela sociedade.

#9 - Whiplash - Em Busca da Perfeição (2014) - Whiplash ~~(Maratona de Premiações)

Nota: 9,5/10

Direção: Damien Chazelle

Jazz, sangue e suor se combinam num embate de Andrew (Miles Teller, descomunal) em se tornar um dos melhores bateristas do mundo, se inspirando nos grandes nome do jazz, vivendo sob a tutela de um rígido e pouco ortodoxo professor e condutor, Fletcher, vivido com monstruosidade por J.K. Simmons (um veterano que finalmente tem uma certa indicação ao Oscar e uma possível premiação). Ambos os atores estão em um nível de entrega tremendamente alto e Teller ignorado nesta temporada é uma afronta ao talento prodígio. Uma direção incrível e uma montagem rítmica e enérgica levam o frenesi de um solo de bateria ao ápice da catarse em seu final, com um virtuosismo técnico que se mantém camuflado diante das atuações e do roteiro bem desenvolvido. Damien surge como um novo cineasta, jovem ainda e que tem muito a oferecer para o cinema.

#10 - The Babadook (2014) - The Babadook

Nota: 8/10

Direção: Jennifer Kent

Terror excepcional numa época aonde é valorizado apenas a violência gráfica e os sustos fáceis, mas a diretora estreante bebe da fonte de Kubrick, tendo Essie Davis encarnando uma versão de Jack Nicholson em O Iluminado, além de outras referências. Jennifer preza o trabalho com os atores, aonde a atriz Essie e o garoto Noah Wiseman nos puxam para o pesadelo sobrenatural/psicológico que eles enfrentam. Com o acerto de não explicar a criatura-título, a trama embarga no melhor do terror, evitando os pulos da cadeira pra deixar o espectador grudado na poltrona, a transformação psicológica sugerida pela imagem do que mostrar o sangue arreganhado, espirrando na cara do espectador. Um terror psicológico de alta qualidade, que não é original, mas que brilha pela excelente condução.


sexta-feira, janeiro 9

Sessão Curta+: ¡Una Carrerita, Doctor! (2011)

Filme¡Una Carrerita, Doctor! 
Direção: Julio O. Ramos
RoteiroJulio O. Ramos
Gênero: Drama
Origem: Peru
Duração: 10 minutos
Sipnose: Teimoso médico atendente de emergência, Ramon Moran tem que dirigir um táxi para dar fim às despesas, na cidade de Lima (Peru), que desafia constantemente seu orgulho e ética de trabalho.

*Dica: aperta no item da lateral do vídeo para expandir a imagem. Legendas em inglês.

Filme:

terça-feira, janeiro 6

Crítica: Meu Amigo Totoro (1988)


Por Maurício Owada

"Miyazaki trás nesta animação todo o espírito
do olhar infantil perante o mundo"

A fantasia é um elemento sempre presente na nossa infância, seja no que lemos, assistimos ou brincamos. Quando somos criança, somos estimulados por uma imaginação que visa cada objeto como um elemento fantástico de um cenário projetado na nossa mente. Um graveto vira uma espada, um pano de cortina vira uma capa etc.

A historia é sobre duas irmãs que vivem no campo com o pai, enquanto a mãe está no hospital tratando de um câncer, o que faz com que elas a vejam poucas vezes. Um dia, a irmã mais nova encontra no quintal, uma pequena criatura que a leva uma toca, se encontrando com uma outra criatura, maior e de uma simpatia de tamanho semelhante, chamado Totoro. Através dele, as duas meninas embarcarão numa aventura contagiante, em meio a conflitos familiares.

domingo, janeiro 4

O Desafio dos 365 Filmes em Um Ano - 1ª Semana

Por Maurício Owada

Um desafio popularizado no meio cinéfilo nos últimos anos, foi tentar assistir 365 filmes em um ano, basicamente, um filme por dia... TODO DIA.

Ela aderiu na vida de muitos outros cinéfilos afora, aonde o que importa não é a quantidade em si, mas a grande variedade de obras vistas durante um período de tempo, que ajuda a enxergar o cinema além do próprio entretenimento.

Um dos editores deste blog tentará este desafio, postando toda semana, cada filme visto e outros também revistos, estes sendo colocados a parte.

E comece o ano com muitos filmes:


#1 - Big Man Japan (2007) - Dai Nipponjin

Nota: 7/10

Direção: Hitoshi Matsumoto

Uma homenagem aos filmes e séries de kaiju em forma de um mockumentary, contando com cenas típicas do humor japonês, nonsense e quase anárquico.