segunda-feira, janeiro 19

O Desafio dos 365 Filmes em Um Ano - 3ª Semana

Por Maurício Owada

A meta desta semana vai ser oito filmes diferentes. Mas antes, tem que se focar no assunto de que 365 filmes por ano não vale exatamente pela quantidade, mas pela qualidade de como vê o filme. Infelizmente, não vemos o cinema como deveria ser visto sempre: no cinema.

Hoje temos canal de filmes na TV a cabo, torrents, DVDs, serviços via streaming etc. Tudo hoje possibilita a busca e acesso a filmes que antes, teríamos dificuldade de achar, sejam por trabalhos primorosos da Criterion que resgata velhos clássicos ou a Versátil, que trabalha em obras de pouco apelo comercial que não tem espaço no mercado de vídeos.



Alguns dos filmes desta última semana:

#11 - Invencível (2014) - Unbroken ~~ (Maratona de Premiações) 

Nota: 4/10

Direção: Angelina Jolie

Talentosa no campo de atuação, mas pouco inspirada na cadeira de direção. Esquemático e arrastado, o filme apenas se sustenta numa bela fotografia e atuações boas, mas apesar da entrega de Jack O'Connell, o roteiro (que inusitadamente tem as mãos dos Irmãos Coen, devido a alta qualidade) é fraquíssima e cheio de diálogos motivacionais forçados. A única parte mais interessante como cinema é a deriva no mar, mas logo se perde no campo de prisioneiros, mostrando os japoneses como soldados rasos e unidimensionais e um apelo em criar uma cena icônica em seu final, como faziam os velhos filmes ganhadores de Oscar: o braço estendido de Willem Dafoe para o céu em Platoon, por exemplo. Típico filme feito para conseguir indicações. É necessário mais que boa história e um bom trabalho na parte técnica para agradar a Academia, até porque a tendência deles anda mudando.

#12 - Corvos (1994) - Wrony

Nota: 10/10

Direção: Dorota Kedzierzawska

Uma menina confinada em um micro-cosmo, onde a solidão a ronda em meio a ruas quase vazias e silenciosas. Apenas o eco de sua voz e de seus passos ecoam pela vizinhança, enquanto sua mãe dorme ou está trabalhando a noite. Uma obra de tão curta duração, nela se encaixa um filme de história simples, mas de uma beleza contemplativa incrível, mostrando a nossa relação com pessoas que amamos, o desejo pelo abraço caloroso da mãe, a carência de carinho e a vontade de fugir de casa como forma de escapar dos tormentos da alma, mas aonde a sua barreira vai além de não poder nadar o oceano a frente ou rodeado de tijolos encaixados, aonde mal vemos o céu. E o olhar de súplica pelo tão desejado abraço.

#13 - Era Uma Vez em Nova York (2013) - The Immigrant

Nota: 10/10

Direção: James Gray

O sonho americano sempre foi material para grandes filmes, principalmente a trilogia O Poderoso Chefão (do qual a fotografia é semelhante), aonde o imigrante puro sai de sua terra para os EUA almejando uma vida melhor, longe da miséria e da guerra, que toma rumos obscuros para sobreviver numa terra montada por lei, ordem e tijolos como sinônimo de progresso, mas selvagem por essência. As atuações sublimes de Marion Cotillard e Joaquin Phoenix tomam seu ápice no último diálogo, aonde dois rumos tomam seu caminho num único e belíssimo plano final, demonstrando a beleza de todo o trabalho de câmera em prol da força narrativa.

#14 - O Sentido da Vida (1983) - The Meaning of Life

Nota: 9/10

Direção: Terry Jones

A trupe do humor nonsense britânico "filosofa" sobre a vida nesta sátira às etapas da vida, o que nos é ensinado e o que nos é passado como forma de vida normal. O Monty Python tira sarro de tudo, da igreja, dos setores financeiros, das instituições governamentais etc... nada escapa. Contando com passagens memoráveis, como o seu início passado como um filme a parte, passando pelo jantar do Sr. Creosoto até seu final, aproveitando também para tirar sarro de sua própria estrutura narrativa (o filme é dividido em sketchs) e fazer piadas metalinguísticas. Um pérola do humor no cinema.

#15 - Operação Big Hero (2014) - Big Hero 6 ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 7/10

Direção: Don Hall e Chris Williams

Animação da Disney baseada na HQ de uma super-grupo da Marvel. Com o visual modificado para o estilo do estúdio, o trabalho não é brilhante como os filmes da Pixar, mas vêm demonstrando um patamar de qualidade desde Detona Ralph, além de estar expandindo novos gêneros num roteiro delicioso tanto para crianças, quanto para adultos, combinando humor físico, sem ignorar os elementos de sci-fi e filmes de heróis, não levando o seu público para um emburrecimento. É infantil, sem parecer bobo e é maduro sem ser muito adulto, talvez seja a animação mais bem balanceada do estúdio, que vem retomando seu nome na animação, que havia largado anos atrás, para retornar e quebrar até mesmo os próprios gêneros que ajudou a imortalizar.

#16 - Uma Rua Chamada Pecado (1951) - A Streetcar Named Desire

Nota: 10/10

Direção: Elia Kazan

Diversos filmes sofreu da censura até meados dos anos 60, mas ela se intensificou nos anos 50 com obras que transgrediam a boa moral americana, com obras encunhadas a revelar o interior do ser humano ou a sociedade em que vivíamos, e sem mostrar certas coisas ou sugeri-las, não havia como repassar a mensagem. Este filme, baseado numa famosa peça de teatro, delineia a casa do casal Kowalski como o palco para o conflitos internos, os desejos recriminados, a tensão sexual entre Stanley (Marlon Brando) e sua cunhada Blanche (Vivien Leigh) e o amor louco de Stanley por Stella (Kim Hunter). Elia Kazan constrói naquele pequenos espaço cênico, uma explosão de sentimentos incontroláveis, ruídos de uma mente fragmentada pela perda e pela ânsia desesperada por um príncipe encantado, dá a tonalidade a personagem de Blanche, que após sem ter pagado a minha dívida com esse clássico, percebi as nuances de sua estrutura em outra obra recente: Blue Jasmine, e como a personagem de Blanchett é o reflexo moderno de Woody Allen da perturbada personagem de Leigh.

#17 - F.I.S.T. (1978) - F.I.S.T.

Nota: 8/10

Direção: Norman Jewison

Numa época em que Sylvester Stallone não era taxado como ator de filmes de ação, ele tinha acabado de sair prestigiado de sua atuação e roteiro por Rocky, Um Lutador. É interessante ver ele em trabalhos fora do gênero que o prestigiou. O ator interpreta Johnny Kovak, um caminhoneiro que se torna um poderoso sindicalista, mas lida com problemas morais quando se envolve com a máfia para conseguir a influências dos trabalhadores, lidando com a repressão física e psicológica por parte de autoridades e empresários. É interessante ver Stallone mais como um ator do que uma cara para estampar um cartaz que chame a atenção do público que queira ver tiros, além do ótimo trabalho também de David Huffman, como o companheiro de luta de Kovak por direitos melhores. Um trabalho excelente de Norman Jewison em retratar uma época no qual os direitos do trabalhadores eram ignorados, retratando o pioneirismo no sindicalismo.

#18 - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorãncia) (2014) - Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance) ~~ (Maratona de Premiações)

Nota: 9,5/10

Direção: Alejandro González Iñárritu

Há um bom tempo não se via filmes metalinguísticos tão bem trabalhados como esta obra de Iñárritu, saindo de sua própria zona de conforto, seguindo o exemplo de seu compatriota Cuáron: fazer um grande filme americano com um vigor técnico impressionante. Transcedendo o limite da localização e diegese, o cineasta filma quase todo o filme como se fosse um grande plano-sequência, sem o uso de cortes bruscos e mesmo a mudança de cenários é intercalada por um objeto em comum, sempre de perto do rosto de seus atores, como se estivéssemos em uma verdadeira peça de teatro, a qual é o objeto de Riggan (Michael Keaton) para atingir sua meta: ser amado e prestigiado, por algo maior. Com um elenco afiado, Billy Wilder iria adorar o texto ácido à indústria cinematográfica atual, citando os sucessos da Marvel Studios, passando pela crítica nova-yorquina. Um trabalho de grande respeito e que pode prestigiar de vez, tanto Iñárritu tanto quanto Michael Keaton.

2 comentários:

  1. Desta lista assisti apenas dois:

    O ótimo "O Sentido da Vida" foi o último trabalho no cinema do grupo Monty Python. Um humor peculiar e absurdo que somente eles sabiam fazer.

    Vi também "F. I. S. T.", este bom drama que poucos conhecem e que tem um Stallone antes de se transformar em astro de ação. O filme é livremente baseado na vida do sindicalista Jimmy Hoffa, que desapareceu sem deixar vestígios. A mesma história foi contada em "Hoffa - Um Homem, uma Lenda" com Jack Nicholson e Danny DeVito.

    Abraço

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    1. FIST é interessante de ver um Stallone em um filme de drama, apesar de achar Rambo suficientemente dramático, pelo menos o primeiro, principalmente com o lance do soldado treinado contra o próprio Estado, antes de virar uma franquia patriótica em plena Era Reagan.

      O Sentido da Vida expande mentes e transgride qualquer parâmetro do padrão de sociedade.

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