sexta-feira, janeiro 16

Crítica: Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014)


Por Maurício Owada

"A música mostrada não apenas como ofício,
mas como forma de demonstração da obsessão pela perfeição"

A comparação com Cisne Negro (Black Swan, 2010) é inevitável, ambas as obras lidam com jovens tentando ser perfeitos em seus ofícios, ainda na flor da juventude, sofrendo atingir a perfomance perfeita com muito suor e sangue, e um grande desgaste emocional. Em Cisne Negro, todo o suspense psicológico eleva ao clímax catártico e trágico. O final de Whiplash não exala tanta tragédia e drama no desgaste emocional do aspirante a baterista de jazz Andrew (Miles Teller, monstruoso) ao ápice do seu talento, sob a sombra de um regente que lida com seus músicos como um general, com tortura psicológica e às vezes, agressão física, numa atuação brilhante do já veterano ator J.K. Simmons, como Fletcher.

Nos levando ao mundo do jazz a moda antiga, nós conhecemos grandes músicos como Charlie 'Bird' Parker e Buddy Rich, o diretor e roteirista Damien Chazelle leva o espectador dentro deste mundo, assim como Aronofsky nos levou para o mundo pouco glamouroso e doloroso do balé clássico. O mais interessante diante das duas obras é como uma obra de arte em específico vira uma meta de ser reproduzido novamente com a mesma maestria. A todo momento, somos lembrados por Fletcher como Bird atingiu um dos melhores solos de bateria do jazz, o olhar desdenhoso destes músicos com o rock (na frase escrita num cartaz: 'Quem não tem talento, toca rock'), que também denota uma certa acidez do próprio cineasta com a música atual. Whiplash acompanha o protagonista fora dos parâmetros do limite aceitável pela busca do ritmo, da batida e da nota perfeita e isso transforma um personagem inicialmente tímido e dedicado, num jovem extremamente arrogante e anti-social, quase desprezível. Mas apesar do brilhantismo de Miles Teller, sem o personagem de J.K. Simmons, o protagonista não teria a força que tem. O Fletcher de J.K. Simmons ignora os limites psicológicos de seus personagens para levá-los a perfeição, uma intenção que não pode ser julgada nem como boa ou ruim, já que o ator trás uma humanidade ao tirano regente, que juntamente com o roteiro, acerta ao não transformá-lo num vilão unidimensional, pois nem vilão ele é.

Damien Chazelle é um diretor com um trabalho de misé-en-scene notável, através dos ensaios e apresentações que tomam proporções dramáticas e a interação dos atores com os instrumentos torna toda a abordagem do diretor tremendamente autêntica, aproveitando da montagem para dar força à própria música, seja a que dá nome ao título ou Caravan, que toma o embate final entre aprendiz e mentor, aonde se mistura rivalidade, ressentimento, raiva e admiração, esclarecida por um sorriso final no palco, o local apoteótico aonde tudo foi regido por suor, sangue e música. Aonde a perfeição artística encontra seu lugar decisivo e dramático ao som de um bebop.

Nota: 9,5/10,0




Trailer:

2 comentários:

  1. Só uma correção: Charlie "bird" Parker era Saxofonista.

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    1. To ligado, só esqueci de especificar no texto, mas obrigado por lembrar ;)

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