sábado, agosto 31

Crítica: Festa de Família (1998)


Por Wendell Marcel


"A desconstrução familiar" .

O diretor espanhol Luís Buñuel utilizava sua câmera para falar sobre a sociedade de uma maneira determinada, em outras palavras, crítica e aguda. Contava de forma genial as hipocrisias e as aparências das relações de pessoas que transformam-se em objetos criados para dar sentido a um processo macabro de viver o ciclo: a falsidade dos caracteres. A filosofia como Festa de Família (Festen) levanta seus conceitos, lembra muito esse mestre do cinema, e o seu diretor é igualmente determinado em elaborar uma discussão plausível e estreante de contar a sociedade, e mais especificamente, a família, o cerne da estrutura social.



É nítido. Todas as famílias são diferentes umas das outras, apesar de haver um símbolo entre elas. O elo são os segredos, encobertos pelo tempo. Christian possui um segredo que persegue ele durante toda sua vida, e ele encontra na oportunidade da festa de família (comemoração pelo aniversário de 60 anos do Pai) para revelar, diante de todos os parentes, muitos entes vale ressaltar, sendo esta uma família tradicionalmente dinamarquesa, as sombras de seu passado. No pré-tempo da reunião do jantar de comemoração, vários acontecimentos secundários vão ocorrendo, preparando o campo psicológico de todos os envolvidos na trama. Não caberia aqui nenhum detalhe sobre esses segredos, as revelações que fazem o filme acontecer tornando-o brilhante e dignificante para a obra do diretor. Mas algumas observações são importantes. Ao menos as centrais.



O paralelo entre uma das várias temáticas de Buñuel com o filme do Thomas Vinterberg é deveras interessante, pois os dois, ainda que separados pela sintética estética de seus filmes, parecem supor a uma mesma perspectiva de seus enredos. Vinterberg comete o espectador em perceber as podridões de uma típica família dinamarquesa, aparentemente integrada (mesmo diante do caso isolado recente) sob uma mesma premissa: mesmo diante das tragédias, a base deve ser sempre sólida. A solidez, no caso, é o pai, Helge. Hipocrisia. A representação clássica mitológica criada pelas ideologias religiosas de que a família é a base da sociedade, é criticada na raiz de seu problema, o patriarca. 



As situações desconfortáveis que se sucedem durante os anos só fazem aumentar a distância entre os filhos. A família não é só analisada em sua óptica micro, mas também macro: o preconceito cultural sobre a cor; a traição dentro das relações conjugais; a depressão nas simples trocas de amizade e sentimento, regido pela proeza excelentíssima da falsidade. A tradicionalidade neste filme é perseguida em cada detalhe, significativo para criar o enlace final do enredo: as crias contra seu produtor, e o nojo de terem sido criados por ele. O aperfeiçoamento é o retrato óbvio das atitudes de cada personagem. Um dos ápices, todos vão conhecer, pois é a linha dark que atravessa todo o filme.



O objeto máximo que se pode tirar de Festa de Família é a sombra eminente em cada sorriso, em cada aperto de mão, em cada palavra concedida por um viés dogmático concedido pela hierarquização das ações entre os familiares; o estranho sentimento eloquente da verdade e da traição de si próprio. Não é um segredo que destroi uma família, mas as ações perpendiculares atribuídas durante os anos, construindo um exemplo catastrófico que resulta em um sentimento imaginário, quase vazio. A vida privada acontece, pois, não apenas numa casa com os pais e os filhos, mas as resultantes são refletidas dentro de um conjunto imenso e complexo de relações, como o exemplo da festa da família.



Se Vinterberg inaugurou o seu movimento cinematográfico dogmático com este filme, ele também trouxe novamente em voga a reflexão tantas vezes propostas por Buñuel em O Discreto Charme da Burguesia (Le Charme discret de la bourgeoisie, 1972) e O Anjo Exterminador (El Ángel exterminador, 1962). Vinterberg recentemente contou uma história impactante, na mesma proposta que este aqui, sendo A Caça (Jagten, 2012) igualmente uma obra-prima, tão recente quanto o filme de Franco, o ótimo Depois de Lúcia (Después de Lucía, 2012).



Como tudo que deve ser comentado dentro do universo das artes, o cinema possibilita interpretações múltiplas de uma obra autoral. Festa de Família sairia o prato principal do ano de 1998 na Dinamarca, e cairia em vantagem absoluta, quando a originalidade e a pretensão nesta sétima estava se tornando frágil e esquecida.



É o sorriso incessante da mãe, a brutalidade do caçula, a confusão de Helene, a depressão do primogênito, a postura imbatível do pai e as lembranças da irmã gêmea os sabores confluentes dessa história servida à luz natural, som ambiente e edição sufocante no filme arrebatador de Thomas Vinterberg. Um gênio até as últimas consequências.  


Nota: 8,0/10,0




Trailer:

sexta-feira, agosto 30

Sessão Curta+: La Jetée (1962)


Filme: La Jetée
Direção: Chris Marker
Roteiro: Chris Marker
Gênero: Romance/Drama/Ficção-científica
Origem: França
Duração: 28 minutos
Sipnose: Esta é uma história de um homem marcado por uma imagem de infância. A cena que o perturbou pela sua violência, e cujo significado compreenderia apenas muito mais tarde, ocorreu na plataforma principal do aeroporto de Orly, alguns anos antes do início da III Guerra Mundial.

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Filme:

terça-feira, agosto 27

9 filmes selecionados: Biografias Musicais

Por João Inácio

A biografia consiste em narrar a história da vida de uma ou de varias pessoas, nessa semana o E Aí, Cinéfilo, Cadê Você uma seleção de biografias de grandes nomes da musica de diferentes épocas e estilos.


9. A Fera do Rock, de Jim Mcbride (1989)



8. The Doors, de Oliver Stone(1991)



7. Noel – O Poeta da Vila, de Ricardo Van Steen (2006)



6. Bird, de Clint Eastwood (1988)



5. Johnny & June, de James Mangold (2005)



4. Elvis, de John Carpenter (1979)



3. Control, de Anton Corbijn (2009)


2. O Garoto De Liverpool, de Sam Taylor-Johnson (2010)



1.  Não Estou lá, de Todd haynes (2007)

sexta-feira, agosto 23

Sessão Curta+ : Hezarfen (2011)


Filme: Hezarfen
Direção: Tolga Ari
Roteiro: Tolga Ari
Gênero: Animação/Comédia
Origem: França
Duração: 3 minutos 
Sinopse: Hezarfen, um jovem turco que em 1632 teria conseguido alçar o primeiro voo humano partindo da famosa Torre de Gálata, em Instambul, utilizando asas artificiais, receoso pelo pulo, acaba gerando várias situações, até ser obrigado a se jogar da torre.

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Filme:

quinta-feira, agosto 22

Notícia: Star Wars VII será em 35mm

Foi revelado no site The Film Stage que a cinematografia de Star Wars VII, filme que retoma a franquia e iniciará uma nova trilogia, ficará por conta de Daniel Mindel.

Daniel é colaborador frequente do diretor J.J. Abrams, trabalhou em filmes como Missão: Impossível III, Star Trek e Além da Escuridão - Star Trek, e revelou que filme será rodado em 35mm como a trilogia original, diferente da nova trilogia, que foi filmado em câmera digital.

Com a estreia marcada para meados de 2015 (com a possibilidade de ficar pro final desse ano), o filme contará com o roteiro de Michael Ardnt e conta com possibilidades de retorno de Ian McDiarmid como Palpatine e Ewan McGregor como o fantasma de Obi-Wan Kenobi, e mostrará os acontecimentos que seguem Luke (Mark Hamill), Han Solo (Harrison Ford) e Leia (Carrie Fisher) após o desfecho de O Retorno de Jedi.

As filmagens começarão em 2014.

quarta-feira, agosto 21

Crítica: Os Incompreendidos (1959)


Por Wendell Marcel

"O Antoine Doinel de François Truffaut"


Assistir ao filme Os Incompreendidos (Les Quatre cents coups) é uma experiência muito bonita, pois é o espectador e o diretor conversando sobre cinema, e da infância problemática dele mesmo. François Truffaut, tempos depois de lançar seu primeiro longa-metragem, e depois deste alcançar o sucesso com a premiação em Cannes, negou à imprensa ser Os Incompreendidos um retrato auto-biográfico de sua adolescência, pensando na condição que seus pais estavam, figurando como más pessoas no filme, principalmente sua mãe. Ele se arrependeu de ter realizado este discurso por toda sua vida.


Um dos filmes mais representativos da corrente cinematográfica Nouvelle Vague é até hoje um clássico do cinema francês, que na época de seu lançamento significou o repúdio ao tradicionalismo da cinematografia dos diretores franceses, em especial Jean Delannoy. Os Incompreendidos foi um grito que chegou em todos os cantos do planeta que consumiam cinema. Foi ouvido em diversos países, conquistou prêmios e revelou para os amantes do cinema, e os críticos conservadores, o jovem diretor de apenas vinte e nove anos. Se Truffaut muito se valeu de sua fama de crítico de cinema pelas revistas Cahiers e pela Arts, nas quais diferiu intensas críticas sobre as mesmices do cinema francês, o seu filme constatou que fazer cinema está aquém de recursos ou de uma concepção enfadonha de produção. Ele mostrou o lado dos jovens cineastas assíduos por fazer arte de uma forma prática e substancial.


Entender Truffaut é entender Os Incompreendidos. Entender Os Incompreendidos é compreender Jean-Pierre Léaud (ator que interpreta Antoine). É o artista e a obra máxima. O ator e sua representação. Assim como será no ano seguinte com Jean-Luc Godard e Acossado (À bout de souflle, 1960) e depois com Alain Resnais com Ano Passado em Marienbad (L' Année derniére à Marienbad, 1961), os três maiores cineastas do movimento.


A paixão de Doinel por cinema e literatura são os votos de recorrer a uma realidade diferente da sua em casa: ele não conhece o pai e a referência paterna substituta é de um homem abstrato, quase imperceptível diante das patéticas singularidades, mas lembrado pelo jovem Doinel como um personagem carinhoso; sua mãe, em contrapartida, pouco se importa com ele, retratada dubiamente. Essa mulher errática e distante será um marco para sempre na vida do jovem. Quando questionado pelo professor por ter faltado à escola, Doinel explana inconscientemente a mágoa pela sua mãe, mentindo "Minha mãe morreu"Os pais falam de Doinel como se ele não estivesse por perto: "O que faremos com o garoto no final de semana?". As fugidas de Doinel de casa, os castigos dos professores na escola, as amizades juvenis, as delinquências dos roubos, dos furtos, das peripécias de sustentar um vício da arte, da elocução de não ser pego; as paixões avassaladoras do jovem tímido, apaixonado por todas, não possuem nenhuma categoria romântica. O diretor espera fugir do símbolo teatral, e opta pela crua narrativa. Atentem a trilha sonora, que carrega nas notas compassos memoráveis.


Em outro momento, Doinel leva um tapa na cara diferida pelo seu pai na frente de toda a sala de aula. Decide fugir de casa, envia uma carta de despedida para seus pais. Percorre a cidade durante à madrugada. Com fome, rouba leite, tomando desesperadamente: simbologia para a falta de cuidados pela mãe. Quando já preso no centro de reabilitação, o encontro com a psicóloga é uma das mais representativas do que o jovem Doinel sente diante de sua família, e dele mesmo. A cena é rodada através da improvisação de Léaud, o que transmite grande verossimilhança. 


Antes, no parque de diversões, numa espécie de panela giratória, sente seu corpo ser involuntariamente estático, se contorcendo para tentar se mexer. É a mesma sensação de ter sua mente paralisada diante das normas impostas pelo cinema, pela política e pela sociedade. A crítica de Truffaut é pela liberdade, em todas as suas esferas. Em 68 tornaria ainda mais prática essa ideologia. 


Truffaut/Doinel caminharia entre tantos muros, até se encontrar preso, tendo as suas asas cortadas, no centro de reabilitação para jovens delinquentes. A sequência final, dele correndo sendo perseguido pela câmera de Truffaut num imenso plano-sequência deliciosamente lento, é a procura por algo, por alguém ou por ninguém. Eles (Doinel/Truffaut/Léaud) buscam o nada onde possam encontrar o tudo. É construir uma história particular nas remediações do passado, este tendo que ser em parte esquecido para poder retornar a sua aventura. O mar é o elo nessa troca de fases, representando uma liberdade tão intensamente almejada. 


Antoine Doinel viveu sua adolescência por muitos ângulos. Faltava às aulas para poder ir ao cinema. Roubava os cartazes dos filmes para poder vender futuramente. Criava junto com seu melhor amigo jogos de cinema; roubaram uma máquina de escrever da empresa do seu pai. Se viravam como puderam. Curtiram Renoir e Welles nos cinemas, e se apaixonaram pela coragem e poesia deles. O garoto que não era compreendido pelos pais, pela escola, pelo reformatório/prisão, também não se conhecia.  "Quem são vocês para me julgarem?", parece dizer no quadro final, impressionando o público com intensidade. 



Doinel é o elo voluntarioso de um jovem irado com sua construção, mesmo que inconscientemente. Só resta-lhe o cinema. Só falta-lhe o amor dos pais. Conhecera a literatura clássica lendo Balzac, se apaixona por escrever. O filme Os Incompreendidos atinge o espectador pelo viés de que sempre falta alguma coisa em nossas vidas, e que dificilmente a preencheremos. Essa é a aventura de todos nós, como ensina Doinel neste filme e nas outras quatro sequências, que terminam acompanhando suas aventuras e seus amores. Truffaut, no entanto, nunca mais repetiria tamanha eloquência na cultura da tela em outro filme como foi neste. Esta história épica de um jovem apaixonado por cinema é a mesma de milhares de outros do mesmo período (como muitos dos críticos de François citaram, negativamente). Pode ser, mas ninguém contou com poesia mais pungente essa realidade.



O diretor inicia filmando sua Paris (recorrendo ao estilo de Rosselini, um dos seus grandes ídolos), suas ruas, sua arte, sua luz saturna, sua Torre Eiffel. É bela homenagem à sua cultura, mesmo que dilacerada por ele, mas verdadeiramente amada pelo diretor. Não há dúvida de que Os Incompreendidos seja a Paris de Truffaut: sua amada cidade das luzes e das sombras. Apenas um exemplo é necessário para distinguir a ganância da arte em um homem, a fim de desconstruir o cinema vigente: François Truffaut. Não faltou coragem e nem tão pouco talento para ele. 


Os Incompreendidos é uma obra-prima necessária aos amantes do cinema, para conhecer um dos maiores autores da arte cinematográfica.


Nota: 8,0/10,0





Trailer:

segunda-feira, agosto 19

9 filmes selecionados: sobre MacGuffin's

Por Kaio Feliphe

Antes de qualquer coisa, você sabe o que é um MacGuffin? Se a resposta é não, nada melhor do que saber através de um dos maiores gênios da história do Cinema e o grande ícone desta técnica narrativa, Sir Alfred Hitchcock:


“Dois homens estão viajando em um trem. Um deles percebe que o outro carrega um estranho pacote e pergunta:

- O que é isso?
- Oh! Isso é um MacGuffin! - o outro responde.
O primeiro pergunta novamente:
- E o que é um MacGuffin?
- Bom, é uma ferramenta para caçar leões na Escócia’
Intrigado, o primeiro comenta:
- Mas não existem leões na Escócia.
- Então isso não é um MacGuffin!

Essa pequena anedota que Hitchcock exemplifica perfeitamente o que é um MacGuffin: um elemento que é imprescindível para os personagens, mas não importância direta para a história em si e para o espectador. Ou seja, o único pretexto de um MacGuffin existir é apenas ser a razão do suspense e/ou fazer a narrativa fluir.


Agora que você sabe o que é um MacGuffin, confira a lista que o E Aí, Cinéfilo, Cadê Você fez sobre os filmes e seus respectivos MacGuffin’s.



9. O metal Unobtainium em Avatar, de James Cameron (2009)



8. O microfilme em Intriga Internacional, de Alfred Hitchcock (1959)



7. A ponte em A Ponte do Rio Kwai, de David Lean (1957)



6. O ouro em O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston (1948)



5. A maleta em Pulp Fiction: Tempo de Violência, de Quentin Tarantino (1994) 



4. A estátua de pássaro em Relíquia Macabra, de John Huston (1941)



3. A palavra “Rosebud” em Cidadão Kane, de Orson Welles (1941)



2. O tesouro em Três Homens em Conflito, de Sergio Leone (1966)



1.  Os US$ 40 mil em Psicose, de Alfred Hitchcock (1960)

Notícia: Fotos do set do novo filme de Woody Allen

O novo filme de Woody Allen, ainda sem título, que está sendo filmado após a produção de Blue Jasmine, teve suas primeiras fotos tiradas dos bastidores de filmagens, aparecendo os atores Colin Firth e Emma Stone com vestimentas de época.

Confira:


Marcia Gay Harden, Jacki Weaver, Eileen AtkinsSimon McBurneyHamish Linklater,Erica Leerhsen e Jeremy Shamos fazem parte do elenco, e assim como em todas as suas produções, Woody Allen mantém segredo do título e da trama, mas há especulações que o cineasta volte a filmar na França, especificamente em Côte d'Azur, entre os anos 20 e 30.

Sem um projeto posterior específico, Woody Allen tem entre suas cidades candidatas, o Rio de Janeiro, e o prefeito Eduardo Paes estaria empenhado em trazer o diretor para filmar aqui, segundo o jornal O Globo.

Blue Jasmine, que foi rodado ano passado irá estrear no Brasil em 11 de Outubro.

domingo, agosto 18

Crítica: Gente Grande 2 (2013)


Por Maurício Owada

"Piadas aleatórias estragam aquilo que
já não tinha salvação"

Não faz muito tempo que os filmes protagonizados por Adam Sandler não prezam pelo mínimo de qualidade, mas ultimamente as piadas sem engraçada são bastante aparentes. Gente Grande 2 (Grown Ups 2) é um exemplo (ou mal exemplo) das comédias que recheiam tanto o cinema americano no auge do seu verão, quando as férias são a oportunidade para Hollywood lotarem as salas com qualquer produto, seja de bom ou de ruim classificação.

Já parceiros de muitos anos, o diretor Dennis Dugan e o comediante Adam Sandler já fizeram filmes juntos, que são repetidamente transmitidos na TV aberta, como O Paizão (Big Daddy, 1999); e Gente Grande 2 não escapa de seus clichês com "C" maiúsculo presentes em seus filmes desde então. Mas o que afeta o resultado é a quantidade descriminada de piadas aleatórias, muitas delas grosseiras, de mal gosto e nojentas, sem coerência nenhuma com a estória, que aliás, não parece existir em meio a tantas situações escrachadas, parecendo muito mais um conjunto insuportável de esquetes.

Acreditem, não é nenhum spoiler: a cena mais engraçada do filme é aquela do bote que infla de dentro da caixa num hipermercado que é mostrada no trailer e tão aleatória que logo perde seu sentido. Na verdade, todas as sequências não têm sentido algum, uma auto-sabotagem exacerbada que não tem freios. Todos os personagens beiram entre o idiota e o sem-graça, papel desempenhado pela atriz Salma Hayek, até mesmo o núcleo principal (além de Sandler, é formado por Chris Rock, Kevin James e David Spade) não possui sequer graça e as cenas nojentas sobram para o ator Nick Swardson, que acrescenta apenas mais um personagem idiota já conhecido das comédias pastelão das quais já participava. Não bastando, ainda contamos com a participação de Taylor Lautner como o babacão da universidade, para formar aquele velho embate entre homens de meia-idade e rapazes vigorosos de pouco ou nenhum cérebro.

Sem muito a acrescentar, Gente Grande 2 "decepcionou" por não ter Rob Schneider (que trabalhou no filme anterior de 2010), mas sua presença não faria diferença perante ao resultado desastroso que, porém, ainda consegue uma boa arrecadação graças a um público garantido em suas exibições nos cinemas nos EUA e ao redor do mundo. No fim, vê-se um filme que não metralha o espectador com piadas fáceis do nível de arrotos simultâneos, onde todos caem na gargalhada, quero dizer, quase todos.

Nota: 2,0/10,0




Trailer:

sábado, agosto 17

Sessão Curta+: Alice (2005)


Filme: Alice
Direção: Rafael Gomes
RoteiroRafael Gomes
Gênero: Romance/Drama
Origem: Brasil
Duração: 15 minutos
Elenco: Simone Spoladore e Fernando Alves Pinto
Sipnose: Em desencontro na cidade, Alice e Alex traçam uma geografia sentimental de amor e perda.

*Dica: aperta no item da lateral do vídeo para expandir a imagem.

Filme:

quinta-feira, agosto 15

Notícia: Trailer de The Wind Rises, nova animação de Hayao Miyazaki


Saiu o trailer do novo filme de Hayao Miyazaki, intitulado aqui no Ocidente de The Wind Rises e que passará no Festival de Toronto.

Originalmente com o nome de Kaze Tachinu, a nova produção do Studio Ghibli é uma biografia do aviador Jiro Horikoshi, designer do famoso avião de guerra Mitsubishi A6M Zero, usada na 2ª Guerra Mundial.

Confira:

Escrito e dirigido por Miyazaki, o filme estreará simultaneamente com Kaguya-hime no Monogatari, primeiro filme de Isao Takahata desde Meus Vizinhos, os Yamadas (Houhokekyo Tonari no Yamada-kun, 1999). Miyazaki e Takahata, fundadores do estúdio japonês de animação, já fizeram a mesma coisa ao lançarem O Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka) e Meu Vizinho Totoro (Tonari no Totoro) ao mesmo tempo em 1988.

O compositor Joe Hisaishi, parceiro de longa data do cineasta, está de volta na nova produção Ghibli.

terça-feira, agosto 13

9 filmes selecionados: sobre Biografias

Por Wendell Marcel

O gênero Biografia é muitas vezes requisitado para contar a história de uma grande personalidade. Ou então, o momento histórico em que essa pessoa viveu. A seguir, nove filmes que contam a história, os dramas, os acontecimentos, de forma romântica ou trágica.



9. A Rede Social, de David Fincher (2010)


8. Meu Pé Esquerdo, de Jim Sheridan (1989)


7. A Queda! As Últimas Horas de Hitler, de Oliver Hirschbiegel (2004)


6. O Homem Elefante, de David Lynch (1980)


5. O Diário de Anne Frank, de George Stevens (1959)


4. O Escafandro e a Borboleta, de Julian Schnabel (2007)


3. Na Natureza Selvagem, de Sean Penn (2007)


2. Diários de Motocicleta, de Walter Salles (2004)


1. O Milagre de Anne Sulivan, de Arthur Penn (1962)

segunda-feira, agosto 12

Crítica: Círculo de Fogo (2013)


Por Maurício Owada


"O cinema de Guillermo Del Toro e a homenagem a cultura nipônica
em uma escala maior, de proporções hollywoodianas"

Ao início do filme, vemos o significado de Kaiju e Jaeger: Kaiju é monstro gigante em japonês, enquanto Jaeger no alemão significa caçador. E assim se segue a introdução da história de Círculo de Fogo (Pacific Rim), onde mostra um mundo profundamente alterado pelas invasões de monstros que saíram de uma fenda dimensional localizada em uma falha vulcânica que divide duas placas tectôncias, com uma narração em off e noticiários de TV que mostram a destruição de cidades e a momentânea vitória dos robôs denominados Jaeger sobre os invasores, a fama dos heróis, até que tudo começa a desmoronar de vez. É a típica introdução de um anime ou mangá... exato! O diretor Guillermo Del Toro pega o roteiro simples e até clichê de Travis Beacham e transforma em uma homenagem ao cinema espetáculo japonês que vai desde o óbvio Godzilla, aos animes e mangás de mecha e filmes tokusatsu feito pelos estúdios Toei em meados dos anos 60.

Um dos aspectos que chama mais atenção na produção do filme é a imersão que ele proporciona. É claro que para a experiência se tornar mais impactante, é recomendável a maior tela de cinema que lhe estiver disponível com um sistema de som de arrepiar. O cineasta, responsável já por divertidas e distintas adaptações de HQ e um dos filmes de fantasia mais esplendorosos e criativos da década passada (Labirinto do Fauno), apresenta todo um cuidado nas cenas, os detalhes e a toda a sensação de presenciar robôs colossais em combate com monstros gigantescos é de deixar o espectador preso na cadeira. A direção de Guillermo Del Toro preza cada cena do filme, não há algo que não tenha sido cuidadosamente pensado e os aspectos técnicos deixa isso bem claro.

A direção de arte é um ponto forte explícito em toda a duração do filme, os robôs de cada país, os monstros, e cidades que ganham restos de kaijus abatidos como parte do cenário, como uma costela que compõe a paisagem de metrópole superpopulosa de Hong Kong. O design de produção é detalhada em cada mínima parte e tudo isso é valorizado pelos efeitos visuais que intensificam o peso dos Jaegers lutando, seja no mar ou até mesmo, no espaço. As cenas em que os pilotos vividos por Rinko Kikuchi (Babel) e Charlie Hunnam (da série Sons of Anarchy) dentro da cabeça do Jaeger, onde compartilham as suas memórias e habilidades para conduzir o veículo através de uma conexão neural, lembra de certa forma, os Power Rangers (originalmente uma criação dos japoneses) quando conduziam os borgs, as faíscas e o desequilíbrio após levar uma pancada de um kaiju e ao mesmo tempo cria um laço entre eles e seus espectadores.

Apesar de serem caricatos baseado em arquétipos (não confunda com estereótipos), o roteiro busca uma conexão do espectador com os personagens, todos têm seu passado, suas motivações e seus sacrifícios quase suicidas nos remetem mais uma vez aos clichês dos nossos amigos nipônicos e ao invés de apresentar, como a grande maioria das produções desta magnitude, os americanos como heróis úncios, há toda uma uma junção multiétnica que vai desde os russos com sua aparência soviética (robustos e sérios), os chineses cheios de façanha e super habilidosos e os australianos que são ágeis e eficientes. Mesmo com o teor de heroísmo exagerado, não apresenta uma faceta nacionalista como o Transformers (idem, 2007) de Michael Bay ou os filmes catástrofes de Rolland Emmerich.

Grande parte do elenco é competente e seguem conforme manda o roteiro, mas conseguem segurar bem o filme e as suas interações, previsíveis, são bem colocadas e não são forçadas. Mas há de destacar a presença em cena de Idris Elba que impõe uma figura de autoridade e sobretudo de líder e Ron Perlman (Hellboy) em uma divertida aparição como um traficante de partes de corpos de kaiju abatidos. Os cientistas malucos também são um alívio cômico que funciona muito bem e nunca são forçadas ou irritantes, podendo ser comparadas a dupla R2-D2 e C3PO, da franquia Star Wars, onde aparentemente não se dão bem, mas não vivem sem o outro. Toda a estrutura do filme é semelhante ao primeiro filme de Star Wars, seja os seus personagens até a sua proposta, afinal, George Lucas também foi influenciado pelos orientais (O mestre Kurosawa em específico) e em aventuras de ficção-científica de heróis espaciais como Buck Rogers e Flash Gordon. Guillermo Del Toro aproveita de uma fórmula de sucesso estabelecida pelos pais dos blockbusters (Spielberg e Lucas) e faz sua própria homenagem a vasta e tão adorada cultura japonesa.

Apesar de ter sido um fracasso no EUA, a bilheteria mundo afora prova que pelo menos Círculo de Fogo conquistou seu público e já garantiu uma continuação (que esperemos que seja tão bom ou superior a este). Um roteiro dinâmico e sem rodeios, uma direção de um talentoso mexicano que já provara seu valor em produções anteriores, o filme vai agradar a um grande público, porém seu único foi ter um marketing tão fraco pra sua qualidade. Talvez uma parte do dinheiro do marketing tenha sido voltado para um melhor desenvolvimento do filme, não se sabe, mas merece ser conferido e assim como Star Trek - Além da Escuridão (Star Trek Into Darkness, 2013), este eletrizante e emocionante filme está em uma das maiores produções blockbusters desta temporada, se afastando da laia de obras medíocres que recheiam as salas de cinema nesta temporada.

Detalhe: este crítico que vos escreve ainda estava sob influência do êxtase pós-filme. Não reparem na empolgação.

Nota: 8,5/10,0




Trailer: