terça-feira, outubro 2

Crítica: Contos de Nova York (1989)

No final dos anos 80 se reuniria três dos grandes cineastas que fizeram sucesso a partir dos anos 70, com marcantes obras do cinema americano, vindouros de uma geração onde se valorizava o cinema de autor, cujas ideias foram inspiradas na vanguarda francesa que criaram o movimento artístico conhecido como Nouvelle Vague. Martin Scorsese era um diretor que dirigira filmes violentos, renomados pela crítica como Taxi Driver e Touro Indomável, porém passara por dificuldades na carreira devido a fracassos como New York, New York e tinha dirigido o polêmico A Última Tentação de Cristo; já Francis Ford Coppola ganhara um Oscar de melhor roteiro por Patton - Rebelde ou Herói, e fizera dois sucessos de público e crítica, O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão - Parte II, e passara por extremas dificuldades na produção de Apocalypse Now e o fracasso do filme O Fundo do Coração levou a sua produtora American Zoetrope à falência; já Woody Allen iniciara com comédias e a transição para o romance aconteceu em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e dali em diante construiria uma filmografia consistente de comédias, dramas e romances caracterizados por excelentes roteiros.

Lições de Vida, de Martin Scorsese

O primeiro curta do filme é Lições de Vida, que conta a história de um famoso artista plástico (Nick Nolte) que é apaixonado pela sua assistente (Rosanna Arquette), que não corresponde ao seu amor. O interessante é o jeito como o diretor destaca o desejo de Lionel, o artista plástico, pela moça. Scorsese prefere não diferenciar o amor da simples atração sexual, não é maniqueísta em relação a isto, como por exemplo na cena em que Lionel tem maravilhado pelos pés de Paulette, a assistente, e em outras cenas tudo que ele quer é abraçá-la e confortá-la da decepção amorosa que ela sofrera. Martin Scorsese deseja focar nos locais frequentados por artistas em Nova York, como museus, exposições, barzinhos e o ateliê de Lionel, onde sempre é embalada pela trilha-sonora composta de uma versão de Like a Rolling Stone, e a mais presente de todas é a A Whiter Shade Of Pale, da banda Procol Harum.


O trabalho de câmera, como em toda a filmografia de Scorsese, é movimentada e explora bem todos os cenários tanto quanto o psicológico dos personagens, no caso aqui, a de Lionel e a toda a neurose de sua paixão não-correspondida e os ciúmes. O elenco, cujas atuações em destaque são a dos protagonistas em questão é ótima, e Nick Nolte mergulha seu personagem em sua auto-tortura sentimental expressado pelos traços na tela abstrata que ele pinta durante o decorrer da trama - é o poço de todo o seu descarrego espiritual. Toda a abordagem complexa do amor e a paixão torna este a melhor parte dos três.


A Vida Sem Zoe, de Francis Ford Coppola
Já o segundo segmento dos três é o dirigido por Francis Ford Coppola, e escrito junto com a sua filha que mais tarde se tornaria uma cineasta também, Sofia Coppola. Este é o mais desinteressante dos três, ele foca na vida luxuosa e milionária de uma garota filha de um pai flautista, de certa forma, talvez uma abordagem sobre a sua relação de Sofia com o seu pai, e isso se ressalta no fato de o flautista (interpretado por Giancarlo Giannini) ser mundialmente famoso, como o diretor deste segmento. 


Apesar disso, ele não foge do enfadonho e há passagens desnecessárias que não contribuem nada em relação à história, sendo este um trabalho muito aquém do o cineasta fizera nos anos 70.



Édipo Arrasado, de Woody Allen
Já o último curta é uma divertida história construído pelo roteiro descompromissado de Woody Allen, sobre a história de um homem de meia idade que têm sua vida controlada pela sua mãe judia, super-protetora e controladora, e na maioria das vezes incoveniente, sempre causando transtornos ao seu filho interpretado pelo próprio cineasta. Allen abusa do absurdo em sua história, com um toque do típico humor judeu, como as piadas auto-depreciativas, ou pelo fato de sua mãe que é voluntária em um show de mágica simplesmente some, e dias depois ela aparece no céu de Nova York dando suas broncas, mimos e conselhos de mãe na frente de todos os cidadãos da metrópole, o que acaba ridicularizando e expondo sua vida particular para uma cidade inteira, virando assunto público. 


O filme conta com uma das maiores parceiras da carreira de Woody Allen, Mia Farrow que faz um pequeno papel aqui e uma curta participação de Larry David, já que a história concentra-se mais na persona caracterizada em todos os filmes baseada nele mesmo, com seu típicos trejeitos e o jeito atropelado de falar. O último segmento não mostra talvez o melhor das suas qualidades cinematográficas, mas talvez o seu humor distinto.


Avaliação: 7,0/10,0

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