sábado, fevereiro 21

Crítica: O Jogo da Imitação (2014)

Por Maurício Owada

"Apesar de charmoso, o grande valor artístico 
está na atuação de Benedict Cumberbatch"

O que define ser uma pessoa normal? Normal é ter todos os braços, ser saudável e conversar e socializar naturalmente? Gostar do sexo oposto e gostar de assuntos típicos do seu sexo? Não são questões levadas muito a fundo por O Jogo da Imitação (The Imitation Game), mas Alan Turing, interpretado por um brilhante Benedict Cumberbatch, cheio de nuances e olhares inexpressivos que escondem um tormento na alma e desejos reprimidos, carrega todos esses conflitos e demonstra o medo de um indivíduo de ser condenado pela maioria, ser enxergado como pária e ser execrado pelos demais.

Talvez por isso, Alan se demonstra uma pessoa tão afastada e anti-social, enfatizando a arrogância de sua genialidade em matemática e na habilidade de resolver enigmas. Ao mesmo tempo que o roteiro aborda o trabalho secreto dele para o serviço de inteligência britânico, ajudando a construir o primeiro computador da história, afim de decodificar o Enigma, código usado pelos nazistas para mandar mensagens de guerra para definir estratégias.

A trilha minimalista de Alexandre Desplat denota os melhores momentos do filme, utilizando-a como forma de construção de clima, não de emoção, agregando um requinte diante de conflitos tão fortes, como um desejo pulsante e reprimido as lágrimas guardadas com força diante de um olhar frio fingido, ao medo de expressar suas emoções mais internas. A montagem monta a narrativa a entender o passado do personagem e as atitudes depois de adulto, como por exemplo, ele chamar o computador de Christopher e ao longo do filme, esse fato se torna mais significativo.

Cumberbatch gagueja e abusa dos trejeitos, mas jamais soa caricato em sua arrogância ou sua homossexualidade, numa atuação sutil aonde acerta em trazer um homem que se esconde e se esquiva das relações humanas. Keira Knightley tá competente como a mulher que conduz Alan além de sua matemática, para levá-lo a se relacionar e entender algo tão ilógico como o ser humano, aonde os resultados não são condizentes com os métodos de resolução.

O Jogo da Imitação é uma produção britânica charmosa, possui uma mão segura na direção e um roteiro bem estruturado, mas como todo longa da Terra da Rainha, não vai muito longe do que foi descrito nos livros em um filme realizado de forma correta, porém competente na construção do conflito e dos personagens. Uma cinebiografia que honra um homem outrora condenado por quem é, esquecido pelo que fez.

Nota: 6,0/10,0




Trailer:


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui é o seu espaço, pode deixar seu comentário, sugestão ou crítica que logo iremos respondê-lo!