domingo, dezembro 14

Crítica: O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)


Por Maurício Owada

"O último adeus a Terra-Média no cinema"


*Este post evitará qualquer menção ou comparação com O Senhor dos Anéis, independente da relação próxima devido ao universo literário que dividem

Estranho um filme que termina sem um embate final, assim como esse embate abre outro filme, deixando uma colcha de retalhos no final do segundo capítulo e no começo do outro (como se fosse seriado), já que as conclusões são óbvias. O embate entre Bard (Luke Evans) e Smaug (voz de Benedict Cumberbatch) é empolgante, porém logo é ofuscada pela batalha iminente entre os cinco exércitos do título da última parte de O Hobbit. Segue-se a batalha pela Montanha e suas riquezas, mostrando Thorin (Richard Armitage) cego pelo poder e pela posse da Pedra Arken, que tem o mesmo poder destrutivo da alma e da mente que o Um Anel. Aliás, se foi dito que seria evitado qualquer comparação com a premiada trilogia que apresentou a Terra-Média, O Hobbit apresenta a "futura ameaça" que Sauron proporcionará.

Mas essas passagens secundárias passam desapercebidas pela batalha principal e isso demonstra muitas falhas de roteiro, principalmente pelo enfoque em tramas paralelas desinteressantes como a própria ameaça de Sauron, já que fundamentalmente, ela é irrelevante para designar os interesses do vilão Azog e poderia ser apenas sugerido ao invés de criar todo um conflito dramático e sem sal, tirando o tempo precioso de desenvolver melhor Ian McKellen como Gandalf, o Cinzento. O filme inteiro perde tempo em tramas que não são concluídas devidamente, desenvolve seu protagonista-título muito pouco em relação ao Uma Jornada Inesperada, deixando-o em segundo plano. Mas o personagem que melhor se encaixa no tom do último filme foi Thorin, que sempre carrega o ar mais sério e o embate dramático dá espaço para Armitage desenvolver de forma mais profunda o anão que busca de volta, o seu lugar ao trono.

O que problematiza mais toda a trilogia é o fato de O Hobbit ser uma trilogia. Um livro pequeno, de fácil leitura e despretensioso não soa muito denso numa série de três filmes de longa duração, afeta a boa adaptação da história e só demonstra muito mais uma busca mercadológica do produto do que um esmero artístico, como havia em O Senhor dos Anéis (Perdão, fraquejei!). O problema não é adicionar personagens, mas deixá-los como mera decoração, ainda que acerte no romance entre o anão Kili (Aidan Turner) e a elfa Tauriel (Evangeline Lilly), mas que é traçado de forma muito apressada. Peter Jackson traça o grande embate, mas pouco laço afetivo como fizera no primeiro filme e só retoma em seu final, aonde ele se refugia na memória da trilogia do Um Anel.

Mas o trabalho de Peter Jackson transcende qualquer defeito. Como assim? Foi uma construção visual e conceitual da Terra-Média tão bela e rica desde a trilogia de O Senhor dos Anéis, que a maior carta na manga do cineasta é apelar para o lado mais sentimental dos fãs tanto dos livros deste universo como dos filmes, e trazer aquele sentimento de estarmos lá. Momentos mais sutis como Gandalf consolando Bilbo com uma bem humorada baforada em seu cachimbo, nos aproxima dos personagens, mesmo com o aumento de falhas na estrutura e na narrativa e o modo melancólico como termina a trilogia de O Hobbit, levando ao apaixonante início de A Sociedade do Anel, enfocando um velho mapa tolkieniano, só demonstra um carinho que Peter Jackson carrega que vai além do seu cansaço no ofício, no som da belíssima The Last Goodbye. Não tem como não carregar ainda um carinho e uma sensação meio triste, meio alegre... isso se chama saudade?

Nota: 7,5/10,0




Trailer:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui é o seu espaço, pode deixar seu comentário, sugestão ou crítica que logo iremos respondê-lo!