terça-feira, maio 21

Crítica: Depois de Lucía (2012)


Por Wendell Marcel

"O teor cru e os ângulos que incomodam".

Alejandra e seu pai se mudam para outra cidade a fim de retomarem suas vidas após a morte de sua mãe, a Lúcia do título. Abalados, confinam seus sentimentos neles próprios, levando suas vidas a poucos diálogos. Alê se mostra madura e social entre os amigos da nova escola; enquanto que o pai dela, não se dá tão bem no novo emprego de chef de cozinha. No entanto, depois de ter cometido um ato impensado, Alê começa a sofrer bullying dos seus antigos colegas, resguardando esse sofrimento para si mesma, e assim não se mostrar emocionalmente frágil para o seu pai. 

No que concerne a obra-prima (isto mesmo!) de Michel Franco é sua intensa crueza de narrativa e como foi filmada. Quase inexistem movimentos de câmera, e a trilha sonora é sentida apenas pelas simbioses entre os ruídos claustrofóbicos dos ambientes. Depois disso, são os atores. Tessa La, que interpreta Alejandra está excelente, natural e transparecendo uma realidade tão clara como ela realmente se torna a ser. Em suma, o trabalho de elenco está ótimo. 

Agora partimos para o trabalho da história. Não se pode falar em momento algum de sadismo, mesmo que Alê esteja sendo violentada (algumas cenas são tão reais), e mantendo-se calada, ela não reporta em nenhum momento, para nenhuma pessoa, o que lhe está acontecendo, o que a torna vítima psicológica do fato. Ela prefere manter-se inerte nas agressões que a comete. Assim, quem sabe, possam ser minimizadas. Essas agressões os leitores terão que ler/assistir ao filme, e interpretar da forma que quiserem. O corpo da personagem é o que menos é violentado; mas sua mente sofre brutais murros, espancamentos e violações. 

Mesmo que contenha o teor alerta-social, a obra de Franco vai muito além disso. Ele fala de grupos, onde criam suas próprias regras, estabelecem os limites e sabem propor soluções a favor de suas ações. O exemplo dos colegas que agridem Alê na viajem da escola, e ficam desesperados quando ela desaparece no mar. Quando o diretor filma seus ângulos quietos, observando seus personagens, as situações, inferindo no espectador um sujeito que precisa conhecer além das aparências, com o propósito de torná-lo parte daquilo, mesmo que onipresente, todavia onisciente. E não ser onisciente é a grande ferramenta aqui.

Ver todo o drama da garota e não saber o que ela pensa, como se esconder de tudo aquilo, é impensável. Como que todos os sujeitos da escola fossem monstros prontos a violá-la. Assim, o autor cria o que seria, literalmente, o verdadeiro ambiente da vida, com seus embutidos significados. Como desvendá-los? Os seus colegas de escola são transfigurados ao ponto de se tornarem hienas, esperando as sobras de um animal. Alê, nesse caso, é apenas um pretexto para os indivíduos extravasarem suas doentias práticas, de perturbação e rejeição. Alguns só são transformados se todos também o fizerem: eu a deturpo por que todos o fazem.

Entender a profundidade insalubre de Depois de Lucía é mergulhar na realidade, sem volta e sem descanso para a mente que depois da sessão começa a incomodar e martelar. Se tudo isso não acontecer, amigo leitor, não se preocupe, pois as várias simbologias do filme ainda podem te angariar nos repletos insultos que os quadros insurgem contra as instituições sociais falidas. São os comportamentos os mais venenosos contra as atitudes violentas das pessoas. O terceiro ato do longa é arrebatador, assim como seu desfecho. Cenas que se ligam de forma magnífica.

Nota: 9/10







Trailer:


5 comentários:

  1. O corpo da personagem é o menos violentado??? Ela é estuprada, supostamente por dois meninos, apanha tem seu cabelo cortado e obrigada a comer um bolo sei lá do que, é o corpo dela não é violentado???? Desculpe precisamos rever violência e sadismo então....

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  2. O filme é terrível, ruim demais. O diretor mutilou o roteiro. Antes de assistir a um filme, vou procurar sua critica dele. Se for elogiando, passo longe

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  3. O filme é terrível, ruim demais. O diretor mutilou o roteiro. Antes de assistir a um filme, vou procurar sua critica dele. Se for elogiando, passo longe

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  4. O nome do filme se passava pela minha cabeça todo o tempo enquanto eu o assistia kkk e pensei muitas vezes o quanto esse filme foi bom, polêmico, mas bom .. Pq na maioria dos filmes que usam o bullying como foco, não mostram exatamente oque as pessoas fazem com a vítima, e esse filme é completamente sem cortes, chega a assustar.. Estranha essa reação pois nos outros filmes eu procuro detalhes sobre o acontecimento, não gostava de imaginar .. É esse filme me abriu muito os olhos sobre o poder que algumas pessoas tem sobre as outras, na minha imaginação eu não ia tao longe assim ...
    Queria saber se depois da vingança do pai, ele a encontra, e recomeçam .. Ooooutra vez ... Pq depois de Lucia ?
    Só pq ela foi a causa da mudança ? Ela nem aparece no filme .. Mesmo assim, gostei do filme! ✌

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