segunda-feira, maio 13

Crítica: Butch Cassidy (1969)


Por Maurício Owada

"O retrato do fim de uma era, quando a bicicleta 
tomava lugar dos cavalos"

No começo do filme, após a introdução de um assalto a um trem pela gangue Hole in the Wall, filmado em preto e branco ao formato antigo (4:3) em meio a créditos, o filme prepara o espectador de que "a maior parte da história a seguir é verdadeira", para depois seguir um dos personagens principais disparar com uma arma, quatro vezes sem errar, que estava pendurada na cintura de um homem que o acusara de trapaça em um jogo no bar. Com uma mira "a lá Clint Eastwood", e a mensagem é dada por completo ao espectador. A brincadeira inteligente que o roteirista William Goldman faz no começo já dá o tom do filme. Apesar dos personagens não serem do tipo John Wayne ou Gary Cooper - fortes, destemidos e decididos -, a dupla de bandidos são carismáticos e dão um senso de humor ao filme, o que de certa forma é estranho para a época, vendo que nos antigos faroestes o alívio cômico se concentrava nos personagens secundários. Os protagonistas Butch Cassidy (Paul Newman) e Sundance Kid (Robert Redford) são dois notórios bandidos do Velho Oeste, conhecidos pela sua sagacidade, que após uma série de roubos a locomotivas, começam a ser perseguidos a mando de um grande manda-chuva dono dos trens roubados, e junto com Etta (Katharine Ross), interesse romântico dos dois companheiros, fogem para Bolívia.

O filme de George Roy Hill é um faroeste revisionista, mas não possui o clima pesado de outros do gênero como Os Imperdoáveis. Já mostra o fim daquele período marcado pela selvageria da região, como a bicicleta que ganha espaço em uma das cenas mais memoráveis, em que a professora Etta passeia junto com Butch juntos, montados na bicicleta em meio aos campos do Oeste, lugar cujo meio de transporte sempre foi os cavalos e as diligências, embalado pela música Raindrops Keep Fallin' on My Head, interpretada por B.J. Thomas.

Outro rumo que o filme dá ao gênero é que desta vez os bandidos são retratados de forma mais humana, antes mostrados sempre como verdadeiros facínoras que aterrorizavam vilarejos, aqui eles apenas têm interesse em roubar dinheiros dos bancos, fazendo um meio termo entre a lenda (a mira certeira de Sundance Kid) e a realidade (Sundance Kid não sabe nadar), não definindo o mito dos fatos, acarretando em uma visão romântica que recorre ao banditismo heróico, mas que traz uma certa complexidade no contexto do filme.

Como diz o enunciado no prólogo, nem tudo que você verá é verídico, assim como o fato de a gangue se chamar na verdade Wild Bunch, mas devido ao título em inglês do filme Meu Ódio Será a Tua Herança, mudaram para Hole in the Wall. Mas no fim, o que cativa mesmo o espectador é a bela amizade entre os dois banditos yanquis. Tocante, engraçado, terno e descompromissado, Butch Cassidy não é um filme egocêntrico como o título nacional sugere. É um filme generoso, onde nem um dos dois atores competem presença de cena entre si, pelo contrário, predomina-se a generosidade, onde a amizade é mostrada como uma relação que se fortalece pela mutualidade e vemos que há valores mais importantes a serem adquiridos do Velho Oeste.

Nota: 8/10



Trailer:

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