segunda-feira, agosto 27

Crítica: Meu Coronel (2006)




O que a primeira vista chama a atenção em tal filme é o fato de ser o seu roteiro assinado por Costa-Gravas e Jean-Claude Grumberg. E quando se cita o nome de Costa-Gravas automaticamente temos a certeza de que se trata de um filme politicamente engajado. E o roteiro se finca sobre um passado recente que ainda incomoda: a colonização.


Meu Coronel retrata A Guerra da Argélia através do olhar e do relato de um jovem ajudante de campo do Coronel Duplant a Saint-Arnaud. Licenciado em direito, é sondado pelo Coronel a estudar a liberdade de ação que foi colocado em suas mãos através dos poderes especiais aprovados por unanimidade pela Assembléia Nacional. Bem cedo ele passará a perceber o significado do ditado dê poderes a um homem e descobrirá sua essência. E nós compreenderemos o que dizia a carta enviada aos investigadores: o coronel morreu em Saint Arnaud.

Diz se com freqüência que a Argélia foi para a França o que o Vietnã foi para os EUA. Em termos de representação lógica. Afinal, de certa forma, mudam-se apenas os intérpretes, mas o dilema persiste o mesmo não importa onde. Quando o confronto bélico se estabelece, nascido por um sistema que visa explorar o outro em benefício próprio, esse mergulha no coração das trevas que não permite o seu retorno a superfície,  sem que se abram feridas no coração da nação.
Habituados que estamos em ver filmes que retratam a Guerra do Vietnã, parece-nos (com alguma razão) que os franceses ainda não sabem ou não querem filmar sua Guerra colonial. Talvez mais do que o Tio Sam, tal máxima nasce do desconhecimento que temos do que é produzido em terras francófonas. Nasce também do repúdio oficial quando do lançamento de A Batalha de Argel filmada por Pontecorvo. Creio que não temos conhecimento do que é produzido por lá e esse desconhecimento faz com que acreditemos em tal clichê.
Meu Coronel tem qualidades e fraquezas que saltam aos olhos. Comecemos pelas interpretações. Olivier Gourmet compõe um Raoul Duplan denso, dúbio e manipulador com tamanha segurança e destreza que consegue camuflar seu verdadeiro caráter. Ou pode-se também crer que as facilidades concedidas pela Assembléia teriam despertado um dos lados que se digladiava com o outro em tal figura. Frio, calculista, polido, intelectual, lógico, seco, distante de todos quando se trata de atingir um objetivo e próximo quando se trata de justificar suas atitudes a criação de Gourmet arrasa e arrasta em torno de si todos os demais. Sagamore Stevenin não consegue em sua construção de Guy Rossi ombrear seu parceiro em cena. Culpa credite-se a visão distanciada e imparcial que quis se dar ao seu personagem. Nem quando ele se aproxima daqueles que estão embrenhados dentro da sociedade argelina, consegue extrair um mínimo de interesse de suas ações. É Raoul Duplan que parece vampirizar suas ações tornando-o um ser em permanente estado catatônico. Quanto aos personagens do presente (1995) e suas interpretações, vale somente pelo momento em que vem a baila os dizeres de Victor Hugo quanto ao militar Saint Arnaud. Ou seja, o modus operantis já era conhecido e repete-se a exaustão quando se trata da transformação de homens em máquinas de matar.
Os roteiristas optaram por construir uma pura reflexão sobre a articulação entre a decisão (ou permissão) política e a ação militar. Ou pior, sobre a prática da Guerra debaixo da Democracia.
O problema mais grave de Meu Coronel é de cunho narrativo. O passado que é desvendado mergulha passo a passo em um dédalo de pesadelos terríveis (mais sugeridos que mostrados), enquanto que os que se apercebem disso no presente reagem de forma amena, como se estivessem lendo um folhetim sentimental, ao invés de um drama. O personagem de Cécile de France (Guardiões da Ordem) fica triste ao ver o caminhar de Guy que se alistou voluntariamente devido a uma desilusão amorosa (não com o que é insinuado).
E por final faltou um maior endurecimento das cenas, um aumento gradual da violência perpetrada, tanto física quanto psicológica sobre a população. As cenas destinadas a isso não encontram casamento com o insinuado pelas palavras. Faltou dar uma maior voz aos que lutavam pela Independência. E esse não conseguir dar voz ao outro, é justamente o pecado mortal da obra. O diretor não consegue assim contextualizar sua denúncia. O que enfraquece muito o resultado final.
Devemos então assistir Meu Coronel?  A resposta é positiva pelo tour de force de Olivier Gourmet e pelos aspectos técnicos do filme: Cenografia, fotografia e sonoplastia. É isso.

Avaliação: 5,5/10




Um comentário:

  1. Não conheço o cinema francês. Achei legal a comparação Argélia/Vietnã.

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