domingo, junho 10

Crítica: O Espião Que Sabia Demais (2011)


Os minutos iniciais de O Espião Que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011), definem o que se passarão nos longos minutos restantes do longa de Tomas Alfredson, desde o estilo de direção, o roteiro em forma de quebra-cabeça (literalmente, algo que você perceberá só no final do 2º ato), as atuações cheio de nuances e pequenos gestos e olhares, o ritmo (bem lento, permanecendo assim do começo até o fim de forma contínua) e o clima paranoico que paira entre todos os espiões da Circus, agência secreta do governo britânico na qual eles trabalham.

Há muitos que dirão que o filme é confuso, e sim ele é, mas para um filme ter sido feito com todo aquele cuidado técnico, seja na fotografia que utiliza ângulos distantes em 3ª pessoa ou nos olhares sempre alertas e desconfiados dos personagens, com atenção nos mínimos detalhes a sua volta, é difícil de acreditar que aquilo tenha sido um deslize, e muito menos um defeito do roteiro ou da montagem, já que sua estrutura condiz com aquilo que o filme realmente propõe.

O filme começa com a informação de que há um traidor, ou como eles dizem, um "toupeira" infiltrado na agência britânica, e Control (John Hurt) que é o chefe da agência e Jim Prideaux (Mark Strong) sabem disso, apenas precisam do codinome, mas a missão termina de forma desastrosa e trágica, e Control sai do comando, morrendo posteriormente. Mas aí, fora do parâmetro do Circus, George Smiley (interpretado maestralmente por Gary Oldman) é designado a investigar a teoria de Control sobre quem é o tal toupeira, e a partir daí, o quebra-cabeça começa a se encaixar aos poucos através de pistas deixadas pelo seu mentor, digamos que o roteiro tem uma estrutura de certo modo parecida com Pulp Fiction (1994), mas ao invés de pegar três histórias e desencaixá-las, ele utiliza flashbacks entre sub-tramas e a trama principal (a investigação de Smiley), fazendo ele todo se encaixar no contexto final de uma forma ainda mais complexa.

A direção é de uma sutilidade e uma elegância pouco vistas atualmente, dando importância aos detalhes, ao desenvolvimento dos personagens e a construção do clima sufocante, sendo suportada pela atuação de um grandíssimo elenco, senão, a melhor dos últimos tempos contando com atores de alto nível como os já citados anteriormente, como Tom Hardy, Colin Firth, Benedict Cumberbatch, Ciarán Hinds e Toby Jones; além da ótima fotografia que reforça o fato de alguém estar os observando ou a solidão que cada um ficou fadado a conviver devido a profissão, sendo que suas vidas particulares (grande acerto do roteiro em explorá-las) são problemáticas e instáveis, seja pela falta de fidelidade do parceiro ou por ambos não poderem se relacionar por causa de tabus da época; ou a trilha-sonora de Alberto Iglesias, de um som requintado e que reforça ainda mais o suspense sobre a trama.

Diferente de muitos filmes cujo mistério será revelado no final, ele não tende a querer chocar o público com a revelação do toupeira, já que além de ser um filme frio e distante entre personagem/espectador, todos ali são tão suspeitos que não chega a ser um susto descobrir a maçã podre da cesta, além disso, isso nem é a sua proposta e sim dar um parâmetro total daquela realidade acerca da Guerra Fria, tão silenciosa e ao mesmo turbulenta que dividiu o mundo e definiu a geografia do cenário mundial atual, em que ela não afetou apenas países e povos, mas também indivíduos, principalmente aqueles que sabiam demais, cujo medo vinha de ocultos interesses alheios do alto escalão da política das duas grandes potências mundiais e seus envolvidos.

"Um homem deve saber a hora certa de sair de uma festa."


Nota: 9,5/10,0






2 comentários:

  1. Este é um dos melhores filmes do ano passado, concordo com cada palavra de teu texto!

    http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/

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  2. Mesmo estando no meio do ano, já posso afirmar que esse filme vai estar na minha lista de "10 melhores filmes do ano".

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