segunda-feira, agosto 11

Crítica: Cupido É Moleque Teimoso (1937)


Por Conde Fouá

Sempre que lia assuntos relacionados ao cinema e ao gênero comédia e se citavam obras pertencentes a tal, vezes várias me deparava com esse filme de Leo McCarey nomeado. Só o assisti agora (23/12/08), na madrugada, pela TV fechada. Não aprecio muito conhecer um filme através da tela pequena. Contudo, fazia pelo menos uns quinze anos que o pretendia assistir e nunca me deparei com ele em cartaz no circuito alternativo. Estava com tempo, estava sem sono e no dia seguinte estava de folga. Tudo se ajustou e finquei-me no sofá. O filme em si é difícil de comentar. Só o vi uma vez e me deu aquela sensação de que ficou aquém do esperado. Optei por só escrever agora, que o filme já se distanciou do impacto que senti naquela madrugada. Eis algumas das “impressões” causadas:

1 – Trata-se de um tema por demais filmado. Uma comédia sobre a reconciliação, quando a separação já se fazia iminente. Contudo esse déjà vu não deve ser considerado uma fraqueza da obra. Ao contrário, trata-se de entrar em contato com o original. O filme de MacCarey deve ser reconhecido com o primeiro e perfeito iniciador dos códigos e regras que seria copiados e utilizados até o esgotamento por seus seguidores.


2 – O filme se ancora sobre diálogos saborosos e inspirados. Os atores estão soltos e percebe-se que o improviso surgiu várias vezes: explorou-se aquilo que se chama comédia de situação. A graça não decorre somente do inspirado roteiro, nasce também do improviso e surge várias vezes de gestos e olhares próprios do cinema mudo. 


3 – Um casal que se ama e se digladia como cão e gato até a reconciliação ou entrega ao sentimento que os afeta é tema recorrente. Poderíamos citar dezenas rapidamente. Cito apenas duas películas: “Aconteceu naquela noite” e “A garota do adeus”. Contudo credito a McCarey nesse filme uma das sequências mais inspiradas que já vi. Quando Jerry reencontra sua mulher numa danceteria, ela está acompanhada de um cavalheiro que ele já avistara (Dan Leeson – um ingênuo recém saído de Oklahoma que deve obediência a mamãe). Ele está acompanhado de uma dançarina com aspirações a cantora. Os casais dividem uma mesa e tanto ele (Jerry) quanto ela (Lucy) ao olharem para os novos parceiros, tem a certeza que nenhum dos dois podem se ombrear ao antigo. Só que dar o braço a torcer está fora de questão, além do que o filme ali se findaria. Assistiremos a um show, onde cada qual vê o novo escolhido se esboroar diante dos olhos satisfeito do outro (Curioso... é o segundo filme que vejo de Ralph Bellamy em sua juventude e o papel se assemelha. Dan Leeson parece-me uma cópia fiel de Bruce Baldwin de “Jejum de amor” (ou vice-versa).



4 – O filme parece crescer de ritmo, a medida em que as gags diminuem. De qualquer forma quase no seu final, surgem duas cenas que marcam visualmente. O casal que ganha uma carona dos policiais, nada mais cômico, não carece de nenhum diálogo que reforce o riso que nasce espontâneo ao assistirmos o ridículo da situação. A outra é que dará término ao filme. Trata-se de variações sobre uma mesma gag. Alguns dirão que tal não funciona mais. Será? Talvez seja longa demais, mas não seria justamente essa sensação de não término que faça com que estampemos um largo sorriso com a tomada final (o relógio)? Não descreverei o que ocorre, a fim de não estragar a surpresa para aquele que se dignar a conhecer a obra.

Décadas após seu surgimento nas telas, o filme ainda mostra um vigor e é ainda uma referência para os novos cineastas. Tal não é pouco e merece nossa admiração. Afinal estamos diante do “original”. E esse original foi bem realizado. 


Escrito em 24/12/2008


Nota: 8,0/10,0

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