terça-feira, fevereiro 12

Crítica: Lincoln (2012)


Por Maurício Owada

"Spielberg mitifica o (já) mito de uma nação, mas
Daniel Day-Lewis vai além da figura pública"

Em 31 de Janeiro de 1865, a 13ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos foi aprovada pela Câmara, que concedia liberdade aos escravos dos Estados Unidos, após o fim da Guerra Civil Americana, na gestão do então presidente Abraham Lincoln. Lincoln é atualmente uma personalidade cultuada, mesmo para um político por trazer novas medidas e pela própria abolição a escravatura já dita, ao mesmo tempo conseguindo se reeleger em plena guerra contra os separatistas dos Estados Confederados da América, mantendo a União intacta. Estátuas e uma forma de governar como modelo serviu pra moldar o mito do assassinado presidente.

Steven Spielberg abre a cinebiografia de Lincoln (idem) com uma breve cena da Guerra Civil, que relembra logo de cara outro filme do diretor, O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998), com aquela fotografia escura, campo de batalha lamacento, câmera lenta e logo mostra o presidente junto aos soldados, conversando com dois negros do batalhão da União, e logo conhecemos o jeito tranquilo e atencioso daquela personalidade, principalmente na cena em que um soldado negro o questiona do salário diferenciados deles com a dos brancos e ele demonstra total atenção as suas palavras, e assim o ator Daniel Day-Lewis já brilha em uma cena comum como o presidente e demonstra que esta será mais uma grande atuação do ator, e assim é confirmado pelo restante do longa, principalmente em cenas em que ele negocia com políticos sobre a 13ª Emenda, parte da história americana em que o filme se foca.

Se a atuação de Day-Lewis, de Tommy Lee Jones e Sally Field complementam o longa através do texto de Tony Kushner, Spielberg mesmo demonstrando o lado íntimo de Lincoln, abusa de tomadas que destacam a sua icônica silhueta, sempre embaladas pela discreta, porém não mais brilhante, trilha-sonora de John Williams, que apesar de sua extensa carreira de sucesso, assim como seu parceiro de anos Steven Spielberg, estão longe do parâmetro de qualidade que estabeleceram anos atrás.

Day-Lewis está impressionante não só pelo tom calmo, como também pelo cansaço e trejeitos retratados de um homem abatido pela responsabilidade de reger uma nação, Sally Field dá vida a primeira-dama que tem forte temperamento e Tommy Lee Jones encarna um homem que luta por anos por um ideal, mas se vê obrigado a descartá-los para a aprovação da 13ª Emenda, e o filme conta com um elenco de luxo com Joseph Gordon-Levitt, Jackie Earle Haley, John Hawkes, Jared Harris, entre outros, e apesar dos diálogos serem um dos pontos fortes do filme, e mesmo sendo competente o roteiro de Tony Kushner (que já tinha experiência no teatro), não desenvolve personagens de moralidade ambígua como no excelente Munique, também de Spielberg, como também deixa pouco espaço para falar sobre política e ética como havia espaço em Munique para questionar o conflito entre Israel e Palestina, e o filme soa algo como "os fins justificam os meios", já que foram comprados votos a favor da emenda constitucional, que é uma causa nobre, porém conquistado através de meios corruptos. Ás vezes, o filme tenta ser engraçado e soa forçado, alterando até mesmo alguns fatos, como por exemplo na cena em que mencionam que alguns homens da Câmara não suportam ver seu rosto na moeda americana, sendo que nunca houve o rosto do presidente na moeda e nem há.

Steven Spielberg está menos melodramático, mas não evita certas cenas desnecessárias como o final (não é spoiler, apesar de que vou contar o final) em que mostra a divulgação da morte Abraham Lincoln, apelando para arrancar lágrimas, quando o diretor poderia ter acabado o filme na hora certa, prejudicando o ato final, como acontece em outra obra sua, A Lista de Schindler (Schindler's List, 1993). O uso de contra-luz do diretor é constante, sendo parte das características de sua filmografia mais recente, principalmente as janelas de cenas exteriores que exalam uma forte luz branca do lado de fora, ficando evidente os aspectos técnicos bem elaborados, como a direção de arte que recria a época e a fotografia, de contrastes e usos de sombra característicos de O Resgate do Soldado Ryan.

A biografia de Lincoln perde a chance de aprofundar mais na imagem do icônico presidente, para ser um filme patriótico que mostra tempos difíceis sendo superados pela "garra americana", derrubando preconceitos e condições desumanas a uma parcela de uma população, quando na época, os escravos ficaram perdidos após a abolição, não havendo um plano antecipado de adaptação do negro a uma vida de liberdade, cujo preço foi a compra de votos de membros da Câmara e ainda assim, mitificando Abraham Lincoln para a história americana, em contraste a interpretação de Daniel Day-Lewis, como estivesse isento dos seus erros. A pergunta que fica é: Seria certo um ideal ter um preço estabelecido, mesmo que a causa seja dar liberdade ao uma parcela de negros, oprimida desde a África a história do continente americano desde os primórdios de sua colonização europeia?

Nota: 7,0/10




Trailer:

4 comentários:

  1. maurício oada, ao ler a sua crítiica não pude deixar de perceber o excesso de vírgulas e falta de período maiores. Tornando o texto extremamente longo, repetitivo e cansativo.
    abraços...

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  2. Obrigado pela observação Derek, é sempre bom ouvir criticas construtivas para próximos textos melhores... abraços

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  3. Caramba, 7? Esperava mais do filme. Acho que terei de conferir e tirar minhas próprias conclusões, já que achava esse um dos favoritos ao Oscar, junto com Amor.

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