terça-feira, fevereiro 25

Crítica: Clube de Compra Dallas (2013)


Por Kaio Feliphe

"Como uma doença terminal deixa um homem
mais humano."

A homossexualidade vem se tornando um assunto forte na sociedade desde meados da década de 1980, muito devido a ícones da cultura popular que, declaradamente, possuíam relações com pessoas do mesmo sexo (como Freddie Mercury, no meio internacional, e Cazuza e Renato Russo, aqui no Brasil). E um dos assuntos mais recorrentes nesse meio era (e é) a AIDS, que, na época, era associada exclusivamente a homossexuais e usuários de drogas injetáveis.

É com essa base que o diretor canadense Jean-Marc Vallée sustenta Clube de Compra Dallas [Dallas Buyers Club, 2013]. No centro da narrativa está Ron Woodroof (Matthew McConaughey), um eletricista texano que, na ignorância homofóbica que reinava na época, curtia a vida usando drogas e tendo relações sexuais de maneira desprotegida com várias mulheres, sem nem cogitar a ideia de contrair o vírus HIV . Só que, ao ser diagnosticado como soropositivo, sua concepção sobre o assunto muda inteiramente.

Vallée acompanha a metamorfose ideológica de Ron de uma maneira interessante. A partir do diagnóstico médico de que Ron tem apenas 30 dias de vida, o diretor guia o espectador pelo tempo através de uma contagem regressiva para o que seria o fatídico dia do protagonista. Mas, mais adiante no filme, Vallée usa esse artifício como uma “vitória” do personagem, já que o prognóstico não se cumpre. E essa “vitória” tem como ícone o clube que dá título à obra. O Clube de Compra Dallas é um lugar onde pessoas portadoras do vírus da AIDS podem se associar e, assim, conseguir medicamentos alternativos aos mais convencionais, que causavam efeitos colaterais bastante graves. E é graças ao clube e seus remédios que Ron continuava vivo.

Dali em diante, Clube de Compra Dallas ganha um tom de filme-denúncia, principalmente contra as grandes empresas farmacêuticas da época. Mas o grande cerne do filme é a redenção de Ron Woodroof e a sua busca por sobrevivência. O cowboy que tinha aversão a homossexuais no início da história se torna gradativamente um ícone na luta contra a AIDS e o preconceito, combatendo de maneira firme as grandes empresas de remédios e também a homofobia de seus antigos amigos, como ilustrada pela forte cena no supermercado, que retrata a total transformação de Ron.

Essa evolução ocorre de uma maneira muito gradual e natural, não se tornando piegas em momento algum. Tudo isso devido ao grande trabalho dos estreantes Craig Borten e Melisa Wallack, que escreveram um roteiro consistente e estruturado, que constrói muito bem todos os personagens, dando-os profundidade e carisma, aumentando a imersão do espectador na obra.

Tudo isso corrobora a imagem de que Clube de Compra Dallas não é apenas um filme de atores. Claro que as atuações de Jared Leto e, principalmente, McConaughey são fantásticas (e que vão muito além da entrega física dos dois; a carga psicológica que cada um entrega ao seu personagem em cena é espantosa), mas isso não deveria ofuscar o bom trabalho do diretor (que também é o editor do filme) e dos roteiristas.

Em tempos em que a homossexualidade vem se tornando cada dia mais presente em nossas vidas, quebrando tabus e preconceitos, Valleé faz com o seu Clube de Compra Dallas um trabalho que merece destaque, mostrando que essa árdua luta vem de muito tempo atrás; e, pelo o que vemos hoje em dia, ainda está longe de terminar. Mas ainda há esperança. Afinal, se Woodroof mudou completamente, por que outras pessoas não podem também?

Nota: 7.5/10.0




Trailer:

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