domingo, setembro 22

Crítica: Elysium (2013)


Por Maurício Owada

"Blomkamp faz um ótimo filme de tom humanista,
mas faltam coisas que não deixam Elysium ser um grande filme"

Em 2009, Neill Blomkamp apresentou seu primeiro longa-metragem: Distrito 9 (District 9). A partir de uma filmagem que remetia a um documentário e inspirado em seu próprio curta-metragem, mostrando uma realidade aliens chamados pejorativamente de "camarões", vivem em favelas após sua nave ficar estacionada por anos em Joanesburgo. Blomkamp reunia uma interessante metáfora social em contexto de ficção-científica.


Quatro anos depois, Neill reúne um elenco multiétnico e leva o discurso de Distrito 9 para seu novo filme, Elysium (idem), que assim como seu filme anterior, possui um título que descreve um lugar por onde toda a trama gira. Se Distrito 9 era uma referência ao lugar fétido e pobre aonde os "camarões" moravam num contexto que se assemelhava com o histórico de segregação racial - o apartheid - da África do Sul; em Elysium, o diretor expande o cenário e avança no tempo, aonde a Terra está totalmente poluída e superpopulada, destinado apenas aos desprivilegiados, enquanto os ricos moram em Elysium, uma estação espacial que se assemelha com um gigantesco condomínio de luxo, que possui toda uma política preservacionista em detrimento da população da Terra, que são oprimidos por policiais robôs, automatizados com diretrizes fascistas. O protagonista é Max da Costa (Matt Damon), um homem com passado de crimes que está em condicional e está trabalhando como peão de fábrica da Armadyne, uma grande empresa de armas, e num dos seus expedientes é exposto ao nível máximo de radiação; tendo apenas 5 dias de vida, Max procura Spider (Wagner Moura), um tipo de hacker, coiote e revolucionário, para levá-lo a Elysium, onde tem os equipamentos certos para lhe curar, ao mesmo tempo, ele reencontra Frey (Alice Braga), uma antiga amiga que é o principal interesse romântico dele, cuja filha tem leucemia e pretende levá-la também a Elysium.



Saindo do contexto racial, Blomkamp leva o discurso em uma base bem mais ampla, que é a desigualdade social. Não só a questão de morar em um lugar melhor, mas sobre o fato de ter acesso às mesmas (e melhores) condições do elysianos é uma das coisas que torna o filme um discurso ideológico bem sucedido, já que o roteiro trabalha bem com o contraste de vida de ambos os lugares, além do fato de ser bem atual hoje em dia (na verdade, é atual sempre). Este contraste é bem trabalhado também, através da direção de arte: enquanto Elysium conta com jardins verdes e aparados, casas de arquitetura que remete ao grego clássico e pessoas bem vestidas, saudáveis e bonitas, enquanto na Terra, prédios se tornam gigantescos cortiços, muitas barracas em recantos planos, pessoas miseráveis sob observação de agentes robóticos opressores e cuja visão no céu é Elysium, o recanto dos privilegiados, uma referência aos campos elísios da mitologia grega, o repouso dos mortos virtuosos de alegria é eterna.



Porém, apesar da boa intenção do filme, ele é muitas vezes falho como narrativa, possui uma ótima história contada do começo ao fim, mas não há uma grande profundidade nos personagens, como a personagem de Alice Braga, que é mal aprofundada e só sabemos de sua motivação de curar a filha, mas não conhecemos o seu passado, o que gera um certo afastamento, e o mesmo acontece com o ator mexicano Diego Luna, um ótimo ator com uma filmografia até bem estabelecida nos cinema americano e alguns outros fora dos EUA, como E Sua Mãe Também (Y tu mamá también, 2001) e Frida (idem, 2002), mas que é também muito mal aproveitado. Mesmo que Matt Damon esteja competente, é os atores Wagner Moura e Sharlto Copley que se destacam entre os personagens mais importantes da trama e que possuem mais espaço para mostrar do que são capazes. Mesmo paara quem acompanha os trabalhos do Wagner Moura, é estranho vê-lo falando em inglês (cujo sotaque é deixado de forma proposital pelo diretor), mas ele se sai muito bem e hora ou outra, ele tem certa liberdade para improvisar em português, roubando quase a cena, utilizando de certas sutilezas para a construção do seu personagem, e o mesmo acontece com Sharlto Copley, em um sotaque extremamente carregado de expressões sul-africanas, tornando o vilão ainda mais caricato, daqueles que você gosta de odiar, tornando a atuação dos dois um dos pontos altos da obra. Além disso, temos uma Jodie Foster encarnando muito bem a secretária de defesa de Elysium, Delacourt, uma mulher ambiciosa, autoritária e impiedosa.



A direção em si acaba perdendo o foco da essência e como um filme hollywoodiano, acaba partindo para a ação e mesmo que para o grande (e desgastado) mercado cinematográfico americano seja uma obra ímpar com um bom conteúdo crítico, é um filme feito por um cineasta que assume uma responsabilidade ao conduzir e desenvolver o tema até o fim, mas que erra e após um clímax marcado por uma sequência de ação, somos levados a um final de certo modo, piegas. E infelizmente, mesmo que seja bom tecnicamente e seu diretor aproveita dos efeitos especiais de forma competente, utilizando-os para a sustentação da trama e não por demonstração do poderio do CG, ele não vai além tendo em mãos um conteúdo muito bom e que daria para explorar outros aspectos da desigualdade social, podendo reforçar seu tom humanista.



Elysium não é o primor esperado e nem uma grande evolução do diretor do criativo Distrito 9, mas seu material torna-o relevante, mesmo ainda para os tempos atuais (infelizmente, não pelo filme, mas pela nossa realidade) e um ótimo entretenimento aonde a história não se detém em grandes garranchos formadas por reviravoltas, concentrando-se em uma narrativa simples, mas que de certo modo tem seu diferencial pelo elenco diversificado e por uma cuidado técnico admirável e detalhista.


Nota: 7,0/10,0





Trailer:


2 comentários:

  1. Muito bom... minha nota também é um 7!

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  2. A crítica ficou boa, e pra mim, pelo filme não ser tão ''mentiroso'' na questão gráfica, de mostrar só o belo, e sim na maior parte cenas realísticas, ele é nota 8. Mas se for comparar Distrito 9 e Elysium, aí o novo filme de Neil fica muito decadente.

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