quarta-feira, maio 29

Crítica: Vive L'Amou (1994)


Por João Inácio

Vive L'Amour (idem, 1994) é o filme que rendeu ao diretor Twain Ming-liang Tsai o Leão de Ouro em Veneza, uma das premiações mais importantes de sua carreira. Drama Bressoinano em que a solidão e falta de comunicação são retratadas com um rigor estético impressionante e pelo virtuosismo, mas que não se resume a isso se aplicando como um luva ao filme, e criando uma beleza ímpar.

Assim como o diretor francês Robert Bresson, Tsai reduz os diálogos e a trama ao mínimo e tem uma queda por tomadas longas e elaboradas. Mas longe de ser apenas um emulador do estilo de outro cineasta; aqui a forma escolhida pelo diretor é a mais adequada para imergir o espectador no universo de seus personagens, o ritmo lento e as elipses não estão lá por um mero capricho estético mas porque esse parece ser o ritmo da vida e das emoções e o diretor quer que compartilhemos desses atributos, e abraçar o universo dos personagens, essencial para o sucesso do filme, já que o diretor não exita em mostra os hábitos mais pessoais e íntimos deles, sempre de maneira carinhosa.

É notável que Tsai faz questão de colocar seus personagens nas margens dos quadros, destacando assim a solidão desses, mas é grandioso também que diferente de Bresson, o filme se diferencia pela presença de um humor sutil mais preciso, fazendo com que ganhe um dimensão mais balanceada entre o pessimismo e a esperança. Ao filmar um suicídio de um personagem, o diretor mantém a câmera afastada  e o silêncio enquanto observamos esse tentar e hesitar diversas vezes  dando a cena um tom cômico e ao mesmo tempo melancólico. A câmera só se aproxima quando o personagem decide e faz isso em um corte abrupto, o silêncio é interrompido pelo som das batidas de um coração.  

Essa presença de humor sutil ainda é responsável por diferenciar o cinema do Ming-liang Tsai de outro diretor asiático com estilo próximo ao dele, Kar Wai Wong, ainda que esse tenha um gosto pelo melodrama, e notável que ambos têm em comum um sabor por retratar o sentimento de seus personagens através do modo impressionista que reflete muito na direção de arte e na fotografia de seus filmes. Em Vive L'Amour o estado emocional do trio principal esta refletido na tela, nas cores sóbrias e nos espaços filmados pelo diretor.

Nota: 10,0/10,0

Trailer:


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