sábado, maio 18

Crítica: Pat Garrett & Billy The Kid (1973)


Por Kaio Feliphe

"Uma poesia sobre o Velho Oeste."

“It’s the end of an era!”

Essa é uma das mais famosas frases da célebre sitcom americana Friends, que durou entre os anos de 1994 e 2004. Ela funciona muito bem no contexto da série, mas também sintetiza perfeitamente a sensação que temos ao fim de um dos grandes filmes de todos os tempos, Pat Garrett & Billy The Kid (Pat Garrett & Billy The Kid, 1973), do grande diretor Sam Peckinpah. Ao fim da década de 1960, um dos mais deliciosos gêneros do Cinema vinha perdendo força, o Faroeste (ou Western, como queiram). Um dos grandes movimentos cinematográficos, consagrador de grandes diretores como Sergio Leone, Howard Hawks, John Ford e o próprio Peckinpah, chegara ao fim.

Desde o começo do filme, percebemos que este é diferente de todos os outros westerns. Filmes desse estilo são, geralmente, violentos, vigorosos, robustos, transbordando macheza pelas barbas mal feitas e pelas caras feias dos heróis de chapéu e espora, que perambulam pela imensidão marrom alaranjado do Velho Oeste. Pat Garrett & Billy The Kid não é assim. É mais complexo e profundo que isso. Não aborda apenas a clássica fórmula mocinho/bandido, abrange a amizade, o confronto velho x novo, o respeito que dois homens podem ter um pelo outro.

A história se passa no interior do Texas, onde dois velhos amigos, Pat e Billy, trilham caminhos diferentes. Enquanto Pat se habitua aos novos rumos de sua vida, inclusive assumindo o posto de xerife da cidade, Billy não se conforma, se rebela e se transforma em um dos mais temidos fora-da-lei da região. E é designada para Pat a missão de prender o seu velho amigo.

No entanto, mesmo com o afastamento, Pat e Billy nunca perderam o respeito um pelo outro. Durante toda a projeção, os dois nunca aparentam estar em dois lados distintos. E, de certa forma, não estão. Os dois são exatamente iguais, só que, enquanto um se torna o bonzinho da história, o outro se mantém no velho estilo bandido. E por serem tão iguais, por serem amigos de velha data e por estarem nesse embate, ajudados pelas imagens e pela trilha-sonora de Bob Dylan (que também faz um bom trabalho na atuação), o tom do filme é tão melancólico e triste.

E o grande momento de melancolia é também um dos mais belos momentos não só do Faroeste, mas do Cinema. A figura do cowboy solitário, montado em seu cavalo, cavalgando às margens de um lago, indo em direção ao seu destino, enquanto um belo pôr-do-sol se sucede ao fundo. Contudo existe um pequeno e importante detalhe nessa passagem. A silueta do cowboy não está no horizonte, está refletida de cabeça para baixo no lago, com seu contorno em linhas trêmulas. Isso representa tudo o que o Faroeste era, e o que este filme é. Todas as características do Velho Oeste estão distorcidas. Tudo aqui é mais abstrato, mais contemplativo.

Ao fim, no derradeiro encontro entre Garrett e Kid, acontece o que deveria acontecer, mas o que ninguém queria. Pat finalmente cumpre a sua missão, mas não a faz com satisfação, pois sabe que ali seria o fim. O fim de sua história. Enquanto nos primeiros momentos, em um jogo de imagens brilhante de Peckinpah, Billy atira em Pat, no final a situação se inverte, mas o significado é o mesmo. A caça chega ao fim, junto com ela a história de duas ledas do Velho Oeste e também o fim do gênero que o contemplou. E para se despedir, nada melhor do que o herói cavalgando em direção ao horizonte, com o alaranjado e imponente Sol se pondo ao fundo, nos lembrando que tudo termina, mas nem tudo tem um fim.

Avaliação: 9.5/10




Trailer:

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