Por Kaio Feliphe
"Uma poesia sobre o Velho Oeste."
“It’s the end
of an era!”
Essa é uma das mais
famosas frases da célebre sitcom
americana Friends, que durou entre os anos de 1994 e 2004. Ela funciona
muito bem no contexto da série, mas também sintetiza perfeitamente a
sensação que temos ao fim de um dos grandes filmes de todos os tempos, Pat Garrett & Billy The Kid (Pat Garrett & Billy The Kid, 1973), do
grande diretor Sam Peckinpah. Ao fim da década de 1960, um dos mais deliciosos
gêneros do Cinema vinha perdendo força, o Faroeste (ou Western, como queiram). Um dos grandes movimentos cinematográficos,
consagrador de grandes diretores como Sergio Leone, Howard Hawks, John Ford e o
próprio Peckinpah, chegara ao fim.
Desde o começo do
filme, percebemos que este é diferente de todos os outros westerns. Filmes desse estilo são, geralmente, violentos,
vigorosos, robustos, transbordando macheza pelas barbas mal feitas e pelas
caras feias dos heróis de chapéu e espora, que perambulam pela imensidão marrom
alaranjado do Velho Oeste. Pat Garrett & Billy The Kid não é assim. É mais
complexo e profundo que isso. Não aborda apenas a clássica fórmula
mocinho/bandido, abrange a amizade, o confronto velho x novo, o respeito que
dois homens podem ter um pelo outro.
A história se passa no
interior do Texas, onde dois velhos amigos, Pat e Billy, trilham caminhos
diferentes. Enquanto Pat se habitua aos novos rumos de sua vida, inclusive
assumindo o posto de xerife da cidade, Billy não se conforma, se rebela e se transforma
em um dos mais temidos fora-da-lei da região. E é designada para Pat a missão
de prender o seu velho amigo.
No entanto, mesmo com o
afastamento, Pat e Billy nunca perderam o respeito um pelo outro. Durante toda
a projeção, os dois nunca aparentam estar em dois lados distintos. E, de certa
forma, não estão. Os dois são exatamente iguais, só que, enquanto um se torna o
bonzinho da história, o outro se mantém no velho estilo bandido. E por serem
tão iguais, por serem amigos de velha data e por estarem nesse embate, ajudados
pelas imagens e pela trilha-sonora de Bob Dylan (que também faz um bom trabalho
na atuação), o tom do filme é tão melancólico e triste.
E o grande momento de
melancolia é também um dos mais belos momentos não só do Faroeste,
mas do Cinema. A figura do cowboy solitário,
montado em seu cavalo, cavalgando às margens de um lago, indo em direção ao seu
destino, enquanto um belo pôr-do-sol se sucede ao fundo. Contudo existe um
pequeno e importante detalhe nessa passagem. A silueta do cowboy não está no horizonte, está refletida de cabeça para baixo
no lago, com seu contorno em linhas trêmulas. Isso representa tudo o que o
Faroeste era, e o que este filme é. Todas as características do Velho Oeste
estão distorcidas. Tudo aqui é mais abstrato, mais contemplativo.
Ao fim, no derradeiro
encontro entre Garrett e Kid, acontece o que deveria acontecer, mas o que
ninguém queria. Pat finalmente cumpre a sua missão, mas não a faz com
satisfação, pois sabe que ali seria o fim. O fim de sua história. Enquanto nos
primeiros momentos, em um jogo de imagens brilhante de Peckinpah, Billy atira em Pat, no
final a situação se inverte, mas o significado é o mesmo. A caça chega ao fim,
junto com ela a história de duas ledas do Velho Oeste e também o fim do gênero
que o contemplou. E para se despedir, nada melhor do que o herói cavalgando em
direção ao horizonte, com o alaranjado e imponente Sol se pondo ao fundo, nos
lembrando que tudo termina, mas nem tudo tem um fim.
Avaliação: 9.5/10
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