domingo, maio 26

Crítica: O Maior Espetáculo da Terra (1952)


Por Wendell Marcel


"A magia do picadeiro mostrada pelas mãos de um espetaculoso cineasta".


Conhecido por seus filmes épicos e religiosos, Cecil B. DeMille (The Ten Commandments, 1956 e Samson and Dalilah, 1949) convidou os espectadores para conhecer o mundo do circo. Mostrando não só a magia e os espetáculos diários que o mundo circense oferece às crianças e adultos, o longa de 2h 30min quer mostrar também a face dramática das relações entre os profissionais que fazem tudo acontecer, as dificuldades que cercam levantar uma lona gigantesca, mas para toda uma cultura de pessoas que vivem e sobrevivem de seus números e de suas fantasias. Um outro mundo; vários mundos como DeMille quer mostrar.

Dois mundos por que em O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show on Earth)  os palhaços, os trapezistas e as 1.300 pessoas que fazem o espetáculo se vestem não só com fantasias, mas com uma realidade só deles, que ninguém pode tirar. Acontece da seguinte forma: Brad (Charlton Heston) é o cara que comanda o circo (do título); ele enamora Holly (Betty Hutton), a trapezista que desde pequena sonha em ter o picadeiro central, mas que lhe é roubado por Sebastian (Cornel Wilde), um dos famosos e cínicos trapezistas, contratado para o circo. Claro, Sebastian não sabe que tomou o picadeiro central de Holly, e começa a paquerá-la, conquistando o seu coração. Nesse meio tempo, "O maior espetáculo da terra" finca a sua lona em diversos locais do país, alegrando as crianças e apaixonando o público com toda a magia do circo.

O filme concentra parte do enredo nos problemas que cercam a administração do espetáculo. A corrupção que alguns empresários querem pôr sobre Brad, o qual expulsa-os das redondezas do circo, para não "infectarem os outros, como uma maça podre". A traição de um dos domadores dos elefantes, querendo vingança pela traição de sua namorada, a Angel, apaixonada por Brad. As dificuldades econômicas, estruturais e normais que qualquer empresa com 1.300 participantes têm. No fim da temporada dos espetáculos, todo o circo levanta acampamento da cidade e recomeça a odisseia atrás de outras localidades. 

Visivelmente o filme é grandioso: a direção de arte bem trabalhada, a trilha sonora divertida, a produção impecável e a fotografia belíssima. A montagem, contudo, poderia ter deixado de fora cenas inúteis, tirando assim 30min desnecessários da película final. Ainda que os figurantes não colaborem tanto (durante o espetáculo, podemos ver alguns atores nem mesmo prestando atenção no que está sendo encenado no picadeiro; nem ri, nem choram), a história em si e a forma como é levada é muito interessante. DeMille não cria, apenas apresenta. Por isso o conservadorismo de filmar do diretor poderá incomodar alguns espectadores, esperando movimentos de câmera espetaculares e ângulos inovadores. 

Um dos personagens que aparecem e de repente somem de uma hora pra outra nas cenas é o de Buttons (James Stewart), o palhaço. Estranhamente, ele matou a própria namorada e fugiu para o circo, afim  de se esconder da polícia. No entanto, sua ligação com os enredos principais ou com a possibilidade de criar um secundário, não dá em nada. Ele, no fim, na sequência final do filme, não significa muita coisa e o clímax premeditado antes, não tem importância quanto a reviravolta do circo.

O perfil mais interessante é o de Brad. Másculo, controlador, disciplinador, mas mesmo assim gentil e boa-pessoa, é um dos poucos personagens que tem presença em cena. Diferente da interesseira e antipática Holly, que vai de um namorico para outro, tornando-se instável, e não no bom sentido. Sebastian é um personagem insosso, ainda que tenha sido escrito para parecer (ou aparentar) diferente disso. Definitivamente, O Maior Espetáculo da Terra não foi feito para levantar grandes discussões sobre as atuações dos atores. Alguns críticos dizem ser o pior vencedor do Oscar de todos os tempos. Eu não vou tão longe assim, vide o mais-que-recente Crash - No Limite (Crash, 2004) e O Discurso do Rei (The King's Speech, 2010).

O bom e mais espetacular dos lindos e coloridos quadros nessa obra gigantesca e proporcionais a um grande diretor, é não ser cansativa, como muitos predizem. Afinal, é um espetáculo. Aliás, é um documento histórico dos circos, que antigamente traziam mais alegria às pessoas. Vai ver toda essa emoção tenha influenciado criativamente um dos maiores diretores da atualidade, Steven Spielberg, sendo esse o primeiro filme que ele viu nos cinemas.

Nota: 7.0/10.0





2 comentários:

  1. Oi Wendell. Parabéns pelo Post e pelo texto!
    Gosto muito desse filme pois de fato também gosto muito de circo, embora atualmente os grandes circos tem se concentrando mais nos grandes centros, durante minha infância tive o privilégio de ir em alguns aqui na minha cidade!
    Estou seguindo o seu blog a partir de hoje!
    Obrigado por suas visitas e seus comentários ok!

    Abração

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    Respostas
    1. Obrigado pela visita, Jefferson!
      O seu blog, O Cinema Antigo, tb estamos seguindo.

      Abraços cinéfilos!

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