quarta-feira, maio 22

Crítica: A Caça (2012)


Por Wendell Marcel


"Mais próximo do conceito Dogma 95"

Diferente do que o filme Dúvida (Doubt, 2008) fala aos espectadores, pondo em questão um problema que parece não ter solução, o novo e último filme de Thomas Vinterberg é algo muito além disso, pois a todo momento o público sabe de toda a história. O segredo aqui é conseguir continuar a assistir as cenas de violência que um homem inocente passa a sofrer por toda a comunidade, onde ele nasceu e tem seus melhores amigos. 

Lucas trabalha em uma escola infantil, e acabou de se divorciar da esposa que tem dificultado o encontro dele com seu filho, o Marcus. Uma das crianças da escola infantil sente muito carinho por Lucas, já que seus pais em casa vivem discutindo e não dão tanta atenção à filha. Ela entrega um coração para o bom homem, dando-lhe um beijo na boca; com bom senso, ele explica o por quê dela não fazer isso, mostrando à garotinha pra quem deve demonstrar o seu carinho. Ela fica chateada e começa a inventar histórias que não existiram para a diretora, gerando uma pulga atrás da orelha na professora. A partir daí, Lucas é acusado de abusar sexualmente da garota (filha de seu melhor amigo) e de mais alguns alunos. O mundo desse homem muda totalmente.

Sim, a única certeza que temos, o que já é necessário para agarrar com unhas e dentes em defesa do personagem, é que ele é inocente. Toda a situação foi inventada pela garotinha, a Klara. No entanto, todos os pais, professores e conhecidos compram a ideia de forma tão absurda e violenta que toda a comunidade se volta contra a única pessoa que não é ouvida: Lucas. Apenas seu filho e um amigo acreditam nele. A vítima neste caso não são as crianças, mas o adulto, mesmo que conhecido por todos e aparentemente boa pessoa, é indiscutivelmente acusado sem nenhuma prova. 

Por Lucas ser excluído das atividades sociais da comunidade (como reuniões, festas, mercados e encontros), agredido algumas vezes pelos próprios amigos de infância e enojado por todos eles, a impossibilidade desse homem reverter todas as acusações são mínimas. Novamente, Lucas é um ser humano bom. Por isso que o espectador vai sofrer junto com ele. 

O que vai de encontro com a obra citada mais acima, é que A Caça (Jagten) estuda com profundidade as consequências de um pré-julgamento. Mesmo o acusado sendo um conhecido antigo. Ainda que exista em meio a tudo isso a defesa e proteção que os pais das crianças queiram tutelar em seus filhos, a tamanha agressividade dos atos deles impedem as explicações de Lucas, e dessa forma, as histórias vão se contorcendo, sendo mudadas; de uma simples e inocente mentira (ou vingança de uma criança), um homem é desmoralizado contra tudo que ele construiu. Um ato (mesmo que falso) pode acabar com as forças de um ser humano bom, arruinado perante seu filho e mutilado pelos amigos.

Filmado com destreza por um dos fundadores do conceito Dogma 95 de cinema (juntamente com Lars von Trier), a película não trás um novo tema, mas renova a forma de contá-lo. O ator Mads Mikkelsen venceu o prêmio de Cannes por sua extraordinária atuação no longa, mostrando ser capaz enfrentar os inimigos acusatórios de frente, olho-no-olho, mas não dente-por-dente. As armas que Lucas utiliza para se defender contra os seus, é sua própria moral, sendo imposta ao teste mais deturpador que o ser humano pode criar: a mentira. Em razão disso, surge o medo, como uma condição fantasmagórica que sempre poderá assombrar as vítimas da mesma. A última cena retoma este conceito. 

Nota: 9/10



Trailer:

5 comentários:

  1. Excelente crítica, me chamou a atenção pra assistir!!

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  2. Uma pena que o filme passou despercebido. Também escrevi sobre ele e gostei um pouco mais do que você :) http://umtigrenocinema.com/a-caca-c128/

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  3. Filme sensacional,mas prepare-se pra ficar puto do início ao fim.

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  4. O filme é sensacional. A interpretacao do Mads Mikkelsen é muito boa (atencao para a cena da igreja) Com esse filme podemos ver tb quanto uma crianca vítima de falta de amor e atencao e pode ser cruel. Vale super a pena ser vista!

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