Por Wendell Marcel
"Mais próximo do conceito Dogma 95"
Diferente do que o filme Dúvida (Doubt, 2008) fala aos espectadores,
pondo em questão um problema que parece não ter solução, o novo e último filme
de Thomas Vinterberg é algo muito além disso, pois a todo momento o público
sabe de toda a história. O segredo aqui é conseguir continuar a assistir as
cenas de violência que um homem inocente passa a sofrer por toda a comunidade,
onde ele nasceu e tem seus melhores amigos.
Lucas trabalha em
uma escola infantil, e acabou de se divorciar da esposa que tem dificultado o
encontro dele com seu filho, o Marcus. Uma das crianças da escola infantil
sente muito carinho por Lucas, já que seus pais em casa vivem discutindo e não
dão tanta atenção à filha. Ela entrega um coração para o bom homem, dando-lhe
um beijo na boca; com bom senso, ele explica o por quê dela não fazer isso, mostrando
à garotinha pra quem deve demonstrar o seu carinho. Ela fica chateada e começa a
inventar histórias que não existiram para a diretora, gerando uma pulga atrás
da orelha na professora. A partir daí, Lucas é acusado de abusar sexualmente da
garota (filha de seu melhor amigo) e de mais alguns alunos. O mundo desse homem muda totalmente.
Sim, a única
certeza que temos, o que já é necessário para agarrar com unhas e dentes em
defesa do personagem, é que ele é inocente. Toda a situação foi inventada pela
garotinha, a Klara. No entanto, todos os pais, professores e conhecidos compram
a ideia de forma tão absurda e violenta que toda a comunidade se volta contra a
única pessoa que não é ouvida: Lucas. Apenas seu filho e um amigo acreditam
nele. A vítima neste caso não são as crianças, mas o adulto, mesmo que conhecido
por todos e aparentemente boa pessoa, é indiscutivelmente acusado sem nenhuma
prova.
Por Lucas ser
excluído das atividades sociais da comunidade (como reuniões, festas, mercados
e encontros), agredido algumas vezes pelos próprios amigos de infância e
enojado por todos eles, a impossibilidade desse homem reverter todas as
acusações são mínimas. Novamente, Lucas é um ser humano bom. Por isso que o
espectador vai sofrer junto com ele.
O que vai de
encontro com a obra citada mais acima, é que A Caça (Jagten) estuda com profundidade as
consequências de um pré-julgamento. Mesmo o acusado sendo um conhecido antigo.
Ainda que exista em meio a tudo isso a defesa e proteção que os pais das
crianças queiram tutelar em seus filhos, a tamanha agressividade dos atos deles
impedem as explicações de Lucas, e dessa forma, as histórias vão se
contorcendo, sendo mudadas; de uma simples e inocente mentira (ou vingança de
uma criança), um homem é desmoralizado contra tudo que ele construiu. Um ato
(mesmo que falso) pode acabar com as forças de um ser humano bom, arruinado
perante seu filho e mutilado pelos amigos.
Filmado com
destreza por um dos fundadores do conceito Dogma 95 de cinema (juntamente com
Lars von Trier), a película não trás um novo tema, mas renova a forma de
contá-lo. O ator Mads Mikkelsen venceu o prêmio de Cannes por sua extraordinária
atuação no longa, mostrando ser capaz enfrentar os inimigos acusatórios de
frente, olho-no-olho, mas não dente-por-dente. As armas que Lucas utiliza para
se defender contra os seus, é sua própria moral, sendo imposta ao teste mais
deturpador que o ser humano pode criar: a mentira. Em razão disso, surge o
medo, como uma condição fantasmagórica que sempre poderá assombrar as vítimas
da mesma. A última cena retoma este conceito.
Trailer:
Excelente crítica, me chamou a atenção pra assistir!!
ResponderExcluirUma pena que o filme passou despercebido. Também escrevi sobre ele e gostei um pouco mais do que você :) http://umtigrenocinema.com/a-caca-c128/
ResponderExcluirHannibal XD
ResponderExcluirFilme sensacional,mas prepare-se pra ficar puto do início ao fim.
ResponderExcluirO filme é sensacional. A interpretacao do Mads Mikkelsen é muito boa (atencao para a cena da igreja) Com esse filme podemos ver tb quanto uma crianca vítima de falta de amor e atencao e pode ser cruel. Vale super a pena ser vista!
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