terça-feira, junho 3

Crítica: X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (2014)


Por Maurício Owada

"Vislumbres do futuro que determinam o passado dos Filhos do Átomo"

X-Men, criado por Stan Lee, era uma resposta dos quadrinhos para a luta dos direitos civis que aconteciam nos conturbados anos 60, com ativistas políticos negros e gays que ingressavam na busca pela igualdade de cidadania, quando existia uma segregação tão enorme que alguns Estados dos EUA a caracterizavam como uma lei, como no Mississipi. Mas foi nos anos 70 que o grupo de heróis mutantes, cujos poderes se caracterizavam pela sua existência vir do Gene X, um tipo de evolução que vinha surgindo e era encarado como uma ameaça por uma humanidade arrogante e intolerante, tomou maior forma, mais variedade na coleção de personagens de nacionalidades diferenciadas e histórias mais maduras e profundas, como o arco Dias de Um Futuro Esquecido, na consagrada fase escrita por Chris Claremont e desenhada por John Byrne, considerada a melhor época dos X-Men.

Bryan Singer, judeu e gay assumido, foi a mão que assumiu o primeiro e segundo filme da franquia e após uma ausência de 11 anos, ele volta no filme que sucede o terceiro filme da primeira trilogia e X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011), que impressionou pelo roteiro excepcional e atores em boa forma, como James McAvoy, Jennifer Lawrence e Michael Fassbender. Quebrando o paradigma de prequels como caça-níqueis, a contextualização do pico da Guerra Fria com a Crise de Cuba como contexto para a história de surgimento dos heróis mutantes foi uma tacada boa, mostrando que eles ainda podiam render boas histórias, mesmo após um filme desastroso como a de Wolverine. Assumindo a franquia novamente, o roteiro de Simon Kinberg aborda as duas linhas temporais da série, mostrando 10 anos após X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006) e X-Men: Primeira Classe, mostrando um futuro distópico a lá Exterminador do Futuro, com Sentinelas escravizando e dizimando humanos e mutantes em campos de concentração, com isso, os mutantes tem como cartada final os poderes de Kitty Pride (Ellen Page, aparecendo na franquia como uma atriz mais consagrada, diferente do terceiro filme, que tinha um papel consideravelmente pequeno), que permite que leve a consciência de uma pessoa de volta ao tempo, mas devido ao perigo da pessoa que têm sua consciência viajada no tempo de se deteriorar, Wolverine (Hugh Jackman) se dispõe como aquele que voltará ao tempo para unir os X-Men nos anos 70, quando Charles Xavier (Patrick Stewart/James McAvoy) estava sem poderes devido ao tratamento da medula óssea e Magneto (Ian McKellen/Michael Fassbender) ainda era um vilão que utilizava de métodos duvidosos pela causa mutante. Com isso, Logan tem a dura missão de unir todos os mutantes para evitar o assassinato de Bolivar Trask (Peter Dinklage, em uma participação especial) pelas mãos da Mística (Jennifer Lawrence), que culmina na criação dos Sentinelas, que dizimarão o futuro que nos é mostrado durante todo o filme, intercalado com a trama nos anos 70.

Ainda que a condução da história seja excelente e Bryan Singer tem momentos de pura inspiração, como a música Time in a Bottle, de Jim Croce, numa passagem excelente protagonizada por Mercúrio (Evan Peters) ou no diálogo que ultrapassa as barreiras do tempo entre Patrick Stewart e James McAvoy - duas versões de uma mesma pessoa -, num texto que prima por diálogos bem construídos e o monólogo de Fassbender de revolta e medo (esse último adjetivo, nos dois sentidos) é enfático e compreensível, denotando as consequências de qualquer tipo de segregação e preconceito que rondam o nosso mundo, empregadas na sociedade até hoje, infelizmente, quando ironicamente uma das atrizes do filme tenha se revelado lésbica há pouco tempo atrás, no caso, a jovem e talentosa Ellen Page.

Contando com a cronologia mais furada do cinema, a série X-Men encontra seu ponto de correção neste filme, aonde viagens no tempo acabam servindo como corretivo para os erros de cronologia, ainda assim muita coisa fica de fora e X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past) segue pra dar um rumo de vez, quando propõe novos conflitos e outra abordagem, após ter saído dos trilhos, quando em meio tempo, a Marvel Studios assumia os seus personagens no cinema e colocava no mercado, a soberania no subgênero de filmes de super-heróis.

Com um elenco bem equilibrado, com um balanço pontual nas cenas de humor, drama e ação, cujos quadrinhos serviu de alegoria sobre o preconceito, o medo, a esperança e a igualdade entre todos os seres vivos neste mundo. A viagem no tempo serve apenas para mostrar que hoje mesmo, podemos reescrever a história, torná-lo menos sombrio, pois não falta exemplos diversos e famosos dos nossos maiores erros do passado.

Nota: 8,5/10,0




Trailer:

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