Por Wendell Marcel
"O teor cru e os ângulos que incomodam".
Alejandra e seu pai se mudam para outra cidade a fim de retomarem
suas vidas após a morte de sua mãe, a Lúcia do título. Abalados, confinam seus
sentimentos neles próprios, levando suas vidas a poucos diálogos. Alê se mostra
madura e social entre os amigos da nova escola; enquanto que o pai dela, não se
dá tão bem no novo emprego de chef de cozinha. No entanto, depois de ter cometido
um ato impensado, Alê começa a sofrer bullying dos seus antigos colegas,
resguardando esse sofrimento para si mesma, e assim não se mostrar
emocionalmente frágil para o seu pai.
No que concerne a
obra-prima (isto mesmo!) de Michel Franco é sua intensa crueza de narrativa e
como foi filmada. Quase inexistem movimentos de câmera, e a trilha sonora é
sentida apenas pelas simbioses entre os ruídos claustrofóbicos dos ambientes.
Depois disso, são os atores. Tessa La, que interpreta Alejandra está excelente,
natural e transparecendo uma realidade tão clara como ela realmente se torna a
ser. Em suma, o trabalho de elenco está ótimo.
Agora partimos
para o trabalho da história. Não se pode falar em momento algum de sadismo,
mesmo que Alê esteja sendo violentada (algumas cenas são tão reais), e
mantendo-se calada, ela não reporta em nenhum momento, para nenhuma pessoa, o
que lhe está acontecendo, o que a torna vítima psicológica do fato. Ela prefere
manter-se inerte nas agressões que a comete. Assim, quem sabe, possam ser
minimizadas. Essas agressões os leitores terão que ler/assistir ao filme, e
interpretar da forma que quiserem. O corpo da personagem é o que menos é
violentado; mas sua mente sofre brutais murros, espancamentos e
violações.
Mesmo que contenha
o teor alerta-social, a obra de Franco vai muito além disso. Ele fala de
grupos, onde criam suas próprias regras, estabelecem os limites e sabem propor
soluções a favor de suas ações. O exemplo dos colegas que agridem Alê na viajem
da escola, e ficam desesperados quando ela desaparece no mar. Quando o diretor
filma seus ângulos quietos, observando seus personagens, as situações,
inferindo no espectador um sujeito que precisa conhecer além das aparências,
com o propósito de torná-lo parte daquilo, mesmo que onipresente, todavia
onisciente. E não ser onisciente é a grande ferramenta aqui.
Ver todo o drama
da garota e não saber o que ela pensa, como se esconder de tudo aquilo, é
impensável. Como que todos os sujeitos da escola fossem monstros prontos a
violá-la. Assim, o autor cria o que seria, literalmente, o verdadeiro ambiente
da vida, com seus embutidos significados. Como desvendá-los? Os seus colegas de
escola são transfigurados ao ponto de se tornarem hienas, esperando as sobras
de um animal. Alê, nesse caso, é apenas um pretexto para os indivíduos
extravasarem suas doentias práticas, de perturbação e rejeição. Alguns
só são transformados se todos também o fizerem: eu a deturpo por que todos o
fazem.
Entender a profundidade
insalubre de Depois de Lucía é mergulhar na realidade, sem volta e sem descanso
para a mente que depois da sessão começa a incomodar e martelar. Se tudo isso
não acontecer, amigo leitor, não se preocupe, pois as várias simbologias do
filme ainda podem te angariar nos repletos insultos que os quadros insurgem
contra as instituições sociais falidas. São os comportamentos os mais venenosos
contra as atitudes violentas das pessoas. O terceiro ato do longa é
arrebatador, assim como seu desfecho. Cenas que se ligam de forma magnífica.
Trailer:
Mandou muito bem, Wendell.
ResponderExcluirO corpo da personagem é o menos violentado??? Ela é estuprada, supostamente por dois meninos, apanha tem seu cabelo cortado e obrigada a comer um bolo sei lá do que, é o corpo dela não é violentado???? Desculpe precisamos rever violência e sadismo então....
ResponderExcluirO filme é terrível, ruim demais. O diretor mutilou o roteiro. Antes de assistir a um filme, vou procurar sua critica dele. Se for elogiando, passo longe
ResponderExcluirO filme é terrível, ruim demais. O diretor mutilou o roteiro. Antes de assistir a um filme, vou procurar sua critica dele. Se for elogiando, passo longe
ResponderExcluirO nome do filme se passava pela minha cabeça todo o tempo enquanto eu o assistia kkk e pensei muitas vezes o quanto esse filme foi bom, polêmico, mas bom .. Pq na maioria dos filmes que usam o bullying como foco, não mostram exatamente oque as pessoas fazem com a vítima, e esse filme é completamente sem cortes, chega a assustar.. Estranha essa reação pois nos outros filmes eu procuro detalhes sobre o acontecimento, não gostava de imaginar .. É esse filme me abriu muito os olhos sobre o poder que algumas pessoas tem sobre as outras, na minha imaginação eu não ia tao longe assim ...
ResponderExcluirQueria saber se depois da vingança do pai, ele a encontra, e recomeçam .. Ooooutra vez ... Pq depois de Lucia ?
Só pq ela foi a causa da mudança ? Ela nem aparece no filme .. Mesmo assim, gostei do filme! ✌