A partir da ideia de construção de roteiro na ilha de edição, a obra jamais soa presa narrativamente, ao contrário, dá toda uma liberdade visual através da edição e montagem, aonde histórias se entrelaçam e revelam um reflexo do mundo como um todo, ainda que muitas questões sejam provenientes da América Latina, a animação fala universalmente, contando com nenhum diálogo e os que têm, são algo ininteligível, o que ressalta o teor fantástico, todas essas questões passadas de uma maneira simples, sem delongas e jamais aborrecem o espectador, num ritmo que imersa o público e mal pode se perceber as horas, ainda que seja de pouca duração.
A trilha-sonora é de uma criatividade tão igual quanto a parte visual, utilizando de sons e batuques como efeitos, que se mesclam com as músicas que transbordam, junto com uma variada paleta de cores alegres, a alegria de um povo que utiliza a música como forma de esperança contra as próprias mazelas. A mistura da música regional com o samba aflora a diversidade brasileira, ainda que a questão da pátria seja implícito e o rap de Emicida no final dos créditos finais realça o engajamento das alegorias políticas, como o pássaro negro da opressão contra o pássaro colorido da liberdade, algo que remete aos filmes de Glauber Rocha, como O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, aonde o tempo irá levar embora o tal dragão, mas sempre fará renascer, das cinzas da esperança, um novo pássaro que representa uma fé ainda forte, esperanças revividas e o tempo, entre memórias e vislumbres do futuro, o menino encontra seu consolo com uma modesta latinha contendo uma música que ressoa a tempos remotos, de beleza e ingenuidade, que perdemos com a maquinização e o consumismo desenfreado.
O Menino e o Mundo é uma amostra da nossa capacidade de fazer animação, com temas complexos e uma criatividade em sua estética e discurso que anda ganhando o mundo, por onde passa.
Nota: 9,0/10,0
Trailer:
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