terça-feira, julho 22

Crítica: O Menino e o Mundo (2013)


Por Maurício Owada

"Aos olhos de uma criança..."

A parábola do menino que sai do campo para viver na cidade grande, seria uma proposta saturada, senão fosse uma parábola, aonde os elementos são representados através do uso de desenhos manuais com lápis de cor e giz de cera até recortes de revistas. Mas Alê Abreu vai além e constrói um olhar mágico de uma criança diante de um mundo vasto e muitas vezes, desumano, cruel, vazio e mecânico, através de parábolas visuais.

A partir da ideia de construção de roteiro na ilha de edição, a obra jamais soa presa narrativamente, ao contrário, dá toda uma liberdade visual através da edição e montagem, aonde histórias se entrelaçam e revelam um reflexo do mundo como um todo, ainda que muitas questões sejam provenientes da América Latina, a animação fala universalmente, contando com nenhum diálogo e os que têm, são algo ininteligível, o que ressalta o teor fantástico, todas essas questões passadas de uma maneira simples, sem delongas e jamais aborrecem o espectador, num ritmo que imersa o público e mal pode se perceber as horas, ainda que seja de pouca duração.

A trilha-sonora é de uma criatividade tão igual quanto a parte visual, utilizando de sons e batuques como efeitos, que se mesclam com as músicas que transbordam, junto com uma variada paleta de cores alegres, a alegria de um povo que utiliza a música como forma de esperança contra as próprias mazelas. A mistura da música regional com o samba aflora a diversidade brasileira, ainda que a questão da pátria seja implícito e o rap de Emicida no final dos créditos finais realça o engajamento das alegorias políticas, como o pássaro negro da opressão contra o pássaro colorido da liberdade, algo que remete aos filmes de Glauber Rocha, como O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, aonde o tempo irá levar embora o tal dragão, mas sempre fará renascer, das cinzas da esperança, um novo pássaro que representa uma fé ainda forte, esperanças revividas e o tempo, entre memórias e vislumbres do futuro, o menino encontra seu consolo com uma modesta latinha contendo uma música que ressoa a tempos remotos, de beleza e ingenuidade, que perdemos com a maquinização e o consumismo desenfreado.

O Menino e o Mundo é uma amostra da nossa capacidade de fazer animação, com temas complexos e uma criatividade em sua estética e discurso que anda ganhando o mundo, por onde passa.

Nota: 9,0/10,0




Trailer:

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