quinta-feira, maio 30

Crítica: Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios (2011)



Por Wendell Marcel


"Muita poesia brasileira, pouca gama de significados exteriores"

É difícil escrever sobre uma obra que quer dizer alguma coisa, ainda que em suas entrelinhas. São nos detalhes e nas nuances do roteiro que se encontram as mais deliciosas e penetrantes metáforas que formam o significado artístico de um filme; claro que em alguns casos. Muitas obras mostram apenas o que querem aparentar, sem muitas pretensões filosóficas. Mas definir esse teor de arte em um filme é bem complicado, pois depende de nossa interpretação, como leitor/espectador, entender ou pouco compreender as várias formas de contribuir para a construção conceitual do filme. Com Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios, um meio-termo é interessante.

O meio-termo pois a obra quer dizer muita coisa, mas da forma errada. Por meio de muitos significados escondidos no roteiro, dialogados pelos esforçados atores principais (a Camila Pitanga, o Zé Carlos Machado e o Gustavo Machado) os diretores propõem a categoria de sentir a linguagem que eles dispõem aos espectadores, a fim de gerar um pensamento mais sóbrio sobre a proposta do filme. Essa linguagem é disponibilizada por muita cor, texturas, movimentos, suores e sensualidade. A primeira cena já identifica uma introdução animalesca do enredo, do povo brasileiro e em particular a persona mulher, morena e sensual.

Desse modo, a troca de favores entre um assunto e outro, o longa de Beto Brant e Renato Ciasca promete a composição que envolve religião, política, comportamento, sentidos físicos e por que não, claro, humanos! São três as esferas: o corpo da mulher, o olhar do fotógrafo e a palavra bem-intencionada do pastor. Um triângulo amoroso que relembra toda uma literatura brasileira de sugestivas contemplações do nosso povo, da nossa cultura movida pelo instinto.

Quando Cauby, um fotógrafo andarilho chega à Amazônia ele conhece sua musa inspiradora Lavínia, esposa de Ernani, o pastor da comunidade. O fotógrafo e a musa começam um relacionamento movido a prazer e observação, mais íntimo e artesanal do que com Ernani. Já o pastor é idealizado por Lavínia como um salvador (um flash back movie explica melhor), tendo que se comprometer com ele, mesmo não aparentando agressão psicológica de retribuição dos atos inerentes a ela. A união dos dois é mais envolta de paternalismos, retribuições na verdade. A reviravolta neste enredo central é o que motiva a elaboração de um texto mais experiente e atraente a uma observação mais bem preparada de sustentação de conceitos. Resumindo, parte do primeiro e segundo ato são dispensáveis. Não constroem e não sustentam coisa alguma.

Dando uma leitura mais abstrata dessa forma filosófica dos diretores, Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios está inerte no que seria inconfiável de se analisar, pois é uma interpretação de dois artistas. Querem falar de relações humanas (físicas e psicológicas), de cultura rudimentar e obsoleta (o trio amoroso com suas significâncias sexuais e ideológicas) e do conformismo das pessoas em relação aos estabelecimentos sociais apartidários em sua essência. Colocar-se no lugar de espectador, neste caso, faz pouco sentido. Em seu término, não quer dizer nada, ainda que inicialmente, repletos de espelhos construídos propositalmente ou contra a vontade dos realizadores.

Nota: 5,0/10,0





Trailer:


Um comentário:

  1. Já li esse livro (e me apaixonei), mas ainda não assisti ao filme.

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