Por Wendell Marcel
"Xavier Dolan, um diretor que arrisca"
O canadense Xavier Dolan é um artista completo, e que se arrisca nas suas empreitadas cinematográficas. Conhecido por filmar seu primeiro longa de cinema aos 19 anos, com o seu mais novo filme, Mommy, o diretor que escreve, atua, edita e também é figurinista, procurou explorar a linguagem cinematográfica com mais liberdade. Em seus trabalhos anteriores, principalmente em Laurence Anyways era técnico demais, e em Eu Matei Minha Mãe, emoção em todos os contornos. Ora, em seu novo filme ele encontra o equilíbrio, sendo reconhecido pelo seu trabalho no festival mais "difícil" quando o assunto é cinema, o chique Festival de Cinema de Cannes, sendo um queridinho dele em outras edições. Levou o prêmio do júri!
Em Mommy, o diretor buscou reger sua linguagem de cinema com mais maturidade. A primeira surpresa é a definição da tela curta como um usufruto de linguagem, incorporando sentimentos das personagens juntamente com os espectadores. Não achei piegas a redução da tela. Assim, o primeiro sinal foi dado, "o espectador também será uma parcela da emoção do filme". E Dolan consegue tornar sua história, ainda que altamente tensa e histriônica, como próprio de sua pegada de roteirista, uma montanha russa de emoções, que vão se desgastando até chegar em um ápice que poderia ser calculado com maior precisão, ou seja, um clímax digno de obra-prima. As tomadas são bem dirigidas, e as atrizes parecem ser libertas de uma direção rígida, ao menos por um momento, na cena da varanda, aos risos deliciosos das duas. É um doce em uma mistura de pimenta.
Antoine-Olivier Pilon é um Steve simpático ao seu modo e irritante em sua totalidade. É por isso que não abusamos dele, por que de uma certa maneira, e Dolan consegue isso, o torna atraente. Afinal, estamos presos em sua montanha russa, como infere a largura da tela. Somente com a autorização de Dolan-Steve é que somos libertos de sua crise de hiperatividade, de sua agressividade que é acalmada pelo soar da música dançante. Ao abrir com as mãos as telas, a poltrona do cinema parece flutuar. Ao déjà vu de sua vida adulta, de suas realizações, o espectador é atacado por uma profusão de sentimentos, e em seguida destruído por uma sequência fria e calculada em companhia da chuva suave que a dramatiza ainda mais. É a fotografia de André Turpin o alicerce da estética de Xavier Dolan neste filme, pois a colocação da câmera ao investigar as manobras corporais das personagens mãe e filho, ao confrontá-los emocionalmente no campo aberto da clínica psiquiátrica, numa expansão cinza, em partida daquela mais vivaz de outros atos. Com a fotogenia de Turpin, estamos ainda mais próximos das personagens, de seus dramas, é a luz da vida adentrando nas imagens de Dolan. E novamente a tela definha aos nossos olhos, dessa vez pela situação psíquica da mãe. Mommy, por que precisamos de um pingente pra mostrar como amamos uma pessoa; um pingente preso em uma corrente que envolve o pescoço...
Na trama central temos um episódio problemático de uma mãe solteira que precisa se dar com o filho TDAH. A violência do filho é resultado desse Transtorno em conjunto com o fato de ser ele um adolescente que já passou por poucas e boas em internatos. O que investigamos é a participação da vizinha misteriosa, que encontra nessa família problemática uma realidade que possa conviver por um momento. Mas parece que sua vida é tão mais desgastada quanto a de Die e Steve. Sua mudez simboliza o fato do Steve estar preso a uma condição difícil de socialização, assim como a que Kyla apresenta. Os dois por um momento se entendem. É milagrosa a reação da professora ao ver o rapaz ser preso na clínica, por que é como se ela entendesse a situação psicossocial dele, a dificuldade de se relacionar. Por outro lado, ele é hiperativo enquanto ela é passiva nas atitudes sociais.
Encontramos em certa medida em Mommy um direcionamento para a equalização do que pertence à obra e ao espectador. Pela quebra da quarta parede, o distanciamento entre os dois procura inverter uma dinâmica espetacularizada no cinema impenetrável. É provável que a frieza não seja o sentimento mais gostoso de Dolan, pois as suas personagens enriquecem as histórias com uma medida justificável de encontro com a disputa da superação. Os finais trágicos, para Dolan, significam mais liberdade do que aprisionamento.
Nota: 8,5-10
Trailer:
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