Com um mês para a maior premiação da indústria cinematográfica americana - lembrando que Oscar não é parâmetro, já que ainda temos Cannes, Berlim e Veneza, além dos nossos próprios festivais, mas que em geral, chega a ser divertido acompanhar as temporadas de premiações, ainda que infelizmente, elas sejam regidas mais como corrida de cavalo do que um cerimônia em celebração a arte de se fazer cinema. Mas acompanhar os filmes de circuito que passam em Sundance e Toronto é interessante para entender a própria indústria e analisa-la de como ela se encaixa nas tendências estéticas, narrativas e principalmente, temáticas.
Incluindo alguns filmes indicados a melhor filme e outros de países fora dos EUA, que dão o ar tímido de sua graça, apresentando um cinema particular, às vezes, simples e magistral, outras vezes, pretensioso e fraco, mas que ajuda a dar, seja ao cinéfilo, estudante de cinema, crítico etc... um panorama da indústria de filmes e como o seu maior centro enxerga o cinema de fora.
#19 - A Teoria de Tudo (2014) - The Theory of Everything ~~ (Maratona de Premiações)
Nota: 7/10
Direção: James Marsh
(Essa opinião foi reescrita por mudanças de pensamento): A Teoria de Tudo se encaixa bem no tipo de premiação e público que pretende alcançar. Baseado na vida de Stephen e Jane Hawking, principalmente de Stephen (Eddie Redmayne), responsável por teorias que revolucionaram o mundo da física, na área de cosmologia. Um homem limitado em sua condição física, cuja doença o impede de mover todos os músculos, que abrange o universo e seu conceito além de suas capacidades, através de equações, buscando uma resposta definitiva ou talvez, a falta de respostas claras como respostas. É um filme correto e cai em muitos clichês de cinebiografias, mas o bom desempenho de seus atores e uma bela fotografia ajudam a suportar um filme com muitas falhas, que não perde mais por um roteiro competente que retrata bem a vida pessoal e carreira do cosmólogo sem ser covarde com os fatos, como fez Uma Mente Brilhante, mas também não sai do lugar comum.
#20 - Tangerinas (2013) - Mandariinid ~~ (Maratona de Premiações)
Nota: 10/10
Direção: Zaza Urushadze
Quando uma obra capta em sua simplicidade narrativa e visual, uma história que transcende os limites das fronteiras, quando dialogam com o ser humano em si, é um grande feito. Tangerinas se passa todo o tempo numa locação limitada, cercada de casas de madeira, terra e plantações de tangerina, que evocam um odor imaginário, um lugar simples onde todas as desavenças étnicas se neutralizam diante da convivência civilizatória, por intermédio de Ivo, um homem que reflete a sensatez humana, trazendo calma diante das faíscas dos dois homens que ajuda a salvar: um soldado checheno e outro georgiano, ambos em uma guerra de poucos propósitos e muitas mortes. Em pouco tempo (1h26), o longa desenvolve personagens riquíssimos e trás um panorama sobre os conflitos humanos, gerados por motivos torpes ou politicagens, aonde quem paga o pato são pessoas comuns que se veem envolvidas.
#21 - Para Sempre Alice (2014) - Still Alice ~~ (Maratona de Premiações)
Nota: 8/10
Direção: Richard Glatzer e Wash Westmoreland
O que mais desola uma pessoa do que deixar de ser ela mesma, esquecer como fazer coisas ou esquecer quem você é ou quem são as pessoas ao seu redor. A mente se desvanecendo do corpo, o olhar perdido de uma intensa Julianne Moore retrata os efeitos do mal de Alzheimer de forma assustadora, que aos poucos, deixa de ser uma mulher inteligente, professora de linguística na universidade de Columbia, para esquecer palavras simples. A cena do discurso de Alice, conscientiza a gente não só da condição da personagem, mas de todos aqueles que sofrem com a doença, demonstrando o desolamento de uma pessoa ao perceber como ela aparenta socialmente quando os sintomas atacam. O filme pode ser apenas correto, mas é conscientizador e é importante para todos, seja quem tem parente com alzheimer ou não.
#22 - Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo (2014) - Foxcatcher ~~ (Maratona de Premiações)
Nota: 9/10
Direção: Bennett Miller
Quando Miller resgata velhas filmagens da aristocrata família Du Pont, demonstra um passado glorioso que contrasta tremendamente com a figura misteriosa e perturbada de John (Steve Carell) e sua senil mãe Jean (Vanessa Redgrave), onde ambos possuem uma relação conturbada, onde um tenta agradá-la para que ela o despreze de forma cruel. Do outro lado, os irmãos Schultz (Ruffalo e Tatum) são dois lutadores de greco-romano, ganhadores olímpicos que possuem uma relação conturbada, apesar de uma cumplicidade mútua. Com uma incrível direção de atores, há pouco de diálogo e muito de olhares e expressões que dizem muito mais daqueles personagens. Miller pontua a trilha-sonora em trechos isolados do filme, geralmente em poucos tons e poucas notas, trazendo um clima tenso de suspense que resultará em trágicas circunstâncias.
#23 - Dois Dias, Uma Noite (2014) - Deux jour, une nuit ~~ (Maratona de Premiações)
Nota: 10/10
Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne
Drama dos Irmãos Dardenne que acompanha Sandra (Marion Cotillard) num final de semana dificil, aonde ela precisa convencer a maioria dos seus colegas a votarem a favor de que ela fique no trabalho, contanto que abram mão do bônus de mil euros da firma aonde trabalham. Com poucos cortes e uma câmera que acompanha Cotillard visitando cada colega, aonde cada cena é filmada de forma isolada e única, sem muitos cortes e edições, os cineastas buscam um recorte da vida real - o drama de uma mulher que luta para manter o ganha-pão e manter os custos da família, ao mesmo tempo que acaba de sair de uma depressão. Cada personagem no longa oferece um mosaico, aonde não há lado certo e nem denominações morais comuns para cada decisão tomada pelos personagens, construindo um forte drama social e ao mesmo tempo, intimista.
#24 - Ida (2013) - Ida ~~ (Maratona de Premiações)
Nota: 6/10
Direção: Pawel Pawlikowski
Cheio de dilemas psicológicos e religiosos, Ida é dotado de uma fotografia B&W belíssima, de atores imersos em seus personagens aonde o silêncio trabalha em prol da narrativa, que por este lado, peca por ser arrastado demais em 1h22. Tem muita cena pra muito nada, apesar da sinopse indicar um filme mais interessante. É aquele tipo de filme que possui diversos pontos positivos, mas que erra a mão por focar em um certo ritmo enfadonho. O conflito da freira Ida/Anna trás diversos conflitos na personagem, ainda mais com a presença de sua tia Wanda e a descoberta de sua origem judia. Os conflitos raciais e religiosos se ampara no silêncio, na falta de gestos e olhares tímidos, mas falta força em retratar os sentimentos envoltos.
#25 - O Jogo da Imitação (2014) - The Imitation Game ~~ (Maratona de Premiações)
Nota: 7/10
Direção: Morten Tyldum
A Segunda Guerra Mundial vista de outro ângulo. Todo a história de um matemático que ajudou a inventar o computador e quebrar o código Enigma, levando os Aliados a vencerem a Guerra, mistura um drama intimista com um drama histórico. Assim como A Teoria de Tudo, o filme ressalta a importância de outro gênio, no caso, Alan Turing, que caiu em desgraça após ser condenado pelo governo britânico por ser homossexual. Competente em sua proposta, ela segue e trilha os clichês do tipo de forma digna, entregando um trabalho bem acabado, com uma trilha climática, mas nada melodramático, assim como seus atores, principalmente os protagonistas Benedict Cumberbatch e Keira Knightley. Cumberbatch brilha, com trejeitos e tiques, denotando uma insegurança por trás de tanta arrogância de seu intelecto ou pelas suas atitudes anti-sociais.
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