Por Maurício Owada
"Narrativa nebulosa sobre um fato nebuloso"
Sempre fomos acostumados a ver filmes sobre esportes relacionados a superação e a vitória, mas e quando ela cheira a tragédia e frustrações? Foxcatcher não é um filme de esporte e muito menos, uma lição de superação e talvez por isso não tenha grandes indicações ao Oscar, a não ser pela direção e atuações. Não é um filme que a Academia goste muito, principalmente pela densidade dramática acerca de uma tragédia: o assassinato do campeão olímpico de greco-romano Dave Schultz por John Du Pont, membro de uma das famílias mais ricas dos EUA.
Bennett Miller constrói uma trama de pouquíssimas palavras e olhares e expressões falam mais alto, mas não claramente. O roteiro não busca respostas sobre as circunstâncias do assassinato, diante disso, vemos dois personagens conversando, mas jamais ouvimos o que falam, sons abafados por uma janela ou um vidro e o mérito de Max Futterman e E. Max Frye são de demonstrar a nebulosidade da relação entre os irmãos Schultz (vividos por Channing Tatum e Mark Ruffalo) e o excêntrico bilionário John (encarnado de forma sombria por Steve Carell) e o que acarretou na terrível tragédia.
O início do filme trás imagens de arquivo da família Du Pont, que sempre demonstrou um apego por esportes. John faz parte de um tradicionalismo americano, um mecenato vindo de herança e a fazenda Foxcatcher simboliza todo o estado mental do personagem de Carell, que se tornou um centro de treinamento anos mais tarde. Ao mesmo tempo, há uma certa repulsa nas tradições de sua família, já que os esportes praticados por seus antecessores eram típicos da elite, enquanto a luta greco-romana representa o lado mais animal de Du Pont, que por sua vez, encontra em Mark (Tatum) uma amizade que ultrapassa os limites de intimidade e subentende um desejo homossexual. Apesar do destaque nos irmãos Schultz, boa parte da climática perturbadora está na exploração psicológica de John Du Pont, nebuloso como a fotografia fria e acinzentada.
John Du Pont exalta o ideal americano em seus discursos e falas, mas ao fundo, é repreendido por ele e o usa como forma de ser notado pela mãe, interpretada por Vanessa Redgrave, que exala os últimos suspiros de uma formalidade aristocrata que John despreza, assim como seus simbolismos, como os cavalos e os esportes "estúpidos" praticados, outrora, por sua família. O vídeo-propaganda sobre a fazenda Foxcatcher também se torna um objeto que denota a máscara que cobre o lado deprimente e perturbador do local, como se a falsidade daquilo tudo se tornasse mais evidente ao cobrir, ao invés do contrário.
Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo (Foxcatcher) não é um filme catártico, o seu ato final soa gelado como a neve que ocupa a cena, aonde o sangue escorre e a fumaça da ponta da arma que disparou, se dissipa no ar gélido, como se fosse um suspiro de raiva e frustração. O olhar inexpressivo de Carell no final não denota frieza, tampouco um arrependimento, mas um vazio - uma alma oca, buscando preencher com alguma utilidade na sociedade e ao país, como uma busca incessante por um papel importante - ser um grande homem de grande histórias, como seus antecedentes de grande fortuna e construir uma imagem que o seguisse sempre, tentando moldar o jovem Mark aos seus conceitos de vitória. Como sair vitorioso, se a alma humana já começa derrotada?
Nota: 10/10
Trailer:
Se essa produção se destaca não só pela sua história biográfica, mas para o negócio. Ir para Foxcatcher é um filme que vale a pena conferir do início ao fim. O toque de drama e suspense, dar-lhe outro punt a favor.
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