O poeta Edgar Allan Poe foi uma figura
fascinante, cuja personalidade vão muito além de suas obras,
consideradas precursoras do gênero policial. Polêmico em sua vida e
morte, cujo diagnóstico é ainda incerto e aberto a possibilidades, é
curioso perceber que o roteiro de Ben Livingston (estreante) e Hannah Shakespeare (“Obsessão”) se aproveite de tal “brecha histórica” para iniciar o longa, quando, num flash forwad, observamos Cusack pálido num banco
de parque. A sequência é promissora, com um primeiro ato que apresenta
áurea e ritmo dignos de um bom suspense. Pena que a qualidade do script e o novo trabalho do diretor James McTeigue logo mostrem-se incrivelmente óbvios (a todo momento, um corvo surge na tela) e inferiores a outras outras do gênero.
“O Corvo” até conta com uma premissa interessante e bem amarrada com relatos históricos: Edgar Allan Poe (John Cusack)
é um poeta alcoólatra e temperamental que vive uma crise de inspiração
(e financeira, por extensão) para criar seus populares romances
policiais, o que faz um de seus fãs seguir um rastro de morte inspirado
em seus livros. Ciente disso, o agente responsável pelo caso (Luke Evans) solicita ajuda a Poe, envolvimento que fica ainda mais perigoso quando o romancista é empelido a criar novos textos em que o serial killer possa se basear.
Em sua curta carreira como diretor (“V de Vingança”, “Invasores” e “Ninja Assassino”),
James McTeigue nunca mostrou-se um talento inventivo, mas aqui a
obviedade em sua narrativa salta aos olhos. Closes em corvos ocorrem o
tempo todo, o que em vez da inspiração no gótico que movia Poe,
demonstra o didatismo e a insegurança de McTeigue. Preferível seria o
investimento no terror psicológico, característica latente na obra do
romancista estadunidense, mas o que vemos é um suspense frágil, bem
próximo de um “terrir” pouco inspirado.
Nada experiente, a dupla roteirista
estereotipa seu protagonista como um alcoólatra que “bebe pra aliviar a
timidez”, um brigão que desfere impropérios rebuscados (“filisteu” é uma
das pérolas), creio que numa tentativa de fazer com que o papel se
encaixasse melhor em Cusack, que em vez de caracterizado, está
fantasiado de Edgar Allan Poe. O tiro, porém, sai pela culatra, pois
além de não nos envolver na fita, tal aspecto o torna parecido com a
franquia “Sherlock Holmes”, de Guy Ritchie, que mesmo não sendo espetacular, se mostra sensivelmente melhor que esse filme, das gags
aos “enigmas” . Aliás, o tempo todo nos lembramos, invevitavelmente, de
outras obras recentes que se encaixam no mesmo perfil , como “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” e “Do Inferno”. Até mesmo o terror “Jogos Mortais”
nos vem à mente, quando nos deparamos com uma máquina de tortura muito
semelhante a uma (ou duas) já utilizada(s) na cinessérie.
Assim como a premissa atraente, o roteiro vai bem ao citar organicamente uma curiosidade (às quais sou afeito), sobre a venda
do poema O Corvo por 9 dólares, e ao descrever Griswold como “pessoa de
trabalho fácil” por seu um crítico literário – como que prevendo as
críticas negativas que receberia -, mas falha em sua construção
extremamente convencional, que por medo de ousar acaba indo contra tudo
que pregava Edgar Allan Poe, opositor ferrenho de materiais óbvios.
Assim, é lastimável notar que tanto James McTeigue parece se inspirar em
Tim Burton como John Cusack faz um mix malsucedido de Johnny Depp e Robert Downey Jr., nas referências citadas anteriormente, levando a obra a um nível de mediocridade que faria Poe renegar tal “homenagem”.
Avaliação: 5/10
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