Por Maurício Owada
"Poyart demonstra ousadia e talento em seu filme de estreia,
uma pedra bruta ainda a ser lapidada"
Levando essa crítica para uma abordagem mais subjetiva, uma vez, a professora Fernanda Cobo, com quem tenho aula de cultura cinematográfica, falou uma vez que para fazer um filme não há limite para a criatividade, abrir seus horizontes, buscar planos mais abertos. Prender a sua mente por país, estilo, abordagem, tema ou técnicas, para fazer um roteiro e tirá-lo do papel para as grandes telas inibe a variedade de filmes nos cinemas, tornando o mercado sem muitas opções e colocando a indústria do cinema em crise, impossibilitando que outros cineastas tenham seu sonho de fazer um longa mais distante.
O discurso acima não faz parte da crítica em si, mas se relaciona com a proposta e a inspiração de Afonso Poyart em escrever e dirigir seu primeiro longa: 2 Coelhos. A trama centra-se em Edgar, um rapaz que vive cansado das injustiças no Brasil, bandidos impunes e políticos corruptos, ele decide fazer um plano para fazer justiça com as próprias mãos, de modo que possa "matar dois coelhos com uma cajadada só".
O roteiro de Poyart é extremamente não-linear, sua estória vai e volta no tempo várias vezes, às vezes beira ao exagero, sempre afim de cada ato do plano de Edgar seja uma grande surpresa, e é bem sucedido nisso e ainda consegue aprofundar a trama e os objetivos de cada personagem, porém os flashbacks decorrentes param a trama toda hora e atrapalha o desenvolvimento. Em muitos momentos, percebe-se a inspiração do jovem cineasta em autores mais pop como Quentin Tarantino e Guy Ritchie.
As cenas de ação são muito bem filmadas, além das belas tomadas, Poyart ousa nos recursos gráficos e também opta pelo uso da câmera lenta e efeitos visuais, como a cena da emboscada na casa do bandido Maicom (Marat Descartes), com direito a "passagem da câmera" dentro dos canos de armas que é estiloso e a constante transformação de um plano em um desenho que lembra grafite. Mas em muitos momentos, assim como o roteiro, a direção também pelo excesso e as opções gráficas beiram ao gratuito, como Edgar correndo e a câmera focar o pé dele pisando na poça d'água.
2 Coelhos conta com um elenco em ótima sintonia, Fernando Alves Pinto e Alessandra Negrini se destacam como o casal principal Edgar e Julia, e Caco Ciocler mostra presença de cena, apesar das poucas falas dentro do roteiro. Apesar do uso de palavrão, jamais soa forçada e os bandidos, apesar de caricatos, não possui um jeito de falar exagerado que há entre outros filmes que muitas vezes irrita e Thogun encontra seu espaço em cena como Bolinha, apesar do seu papel de capanga.
Na parte técnica, a trilha-sonora não decepciona, entre muitas músicas estrangeiras e poucas brasileiras, a escolha é quase de bom gosto, tirando um certo "dig dim, dig dim, dig dim...". A montagem dita o ritmo frenético do começo ao fim do filme e a fotografia usa e abusa da contra-luz e cores frias. Há também uma boa inserção de animações computadorizadas que representa as alucinações derivados dos efeitos colaterais dos remédios para ataque de pânico de Julia, que é pouco explorado no decorrer da trama.
2 Coelhos é o primeiro trabalho de um cineasta ainda com uma filmografia a construir e uma carreira promissora (já foi chamado para trabalhar em Hollywood). Peca pelos excessos e por opções visuais e narrativas desnecessárias; mas a criatividade compensa os erros e traz ao público um ótimo filme de gênero, pouco comum no Brasil. Não tem vergonha de adotar um estilo mais "hollywoodiano" de filmes de ação e não se prende no estilo de fazer cinema aqui do Brasil, pois fronteiras delimitam territórios, não ideias.
Nota: 7,0/10,0
Trailer:
Bacana esse filme... nao cutti a fotografia porém gostei do resto...ponto para i cinema nacional.
ResponderExcluirÓtimo filme.
ResponderExcluirmelhor filme brasileiro...assistam....surpreendente o final
ResponderExcluirTodos filmes sao obvios os finais....este não é
Parabens para o Poyart