Por Maurício Owada
"O último adeus a Terra-Média no cinema"
Estranho um filme que termina sem um embate final, assim como esse embate abre outro filme, deixando uma colcha de retalhos no final do segundo capítulo e no começo do outro (como se fosse seriado), já que as conclusões são óbvias. O embate entre Bard (Luke Evans) e Smaug (voz de Benedict Cumberbatch) é empolgante, porém logo é ofuscada pela batalha iminente entre os cinco exércitos do título da última parte de O Hobbit. Segue-se a batalha pela Montanha e suas riquezas, mostrando Thorin (Richard Armitage) cego pelo poder e pela posse da Pedra Arken, que tem o mesmo poder destrutivo da alma e da mente que o Um Anel. Aliás, se foi dito que seria evitado qualquer comparação com a premiada trilogia que apresentou a Terra-Média, O Hobbit apresenta a "futura ameaça" que Sauron proporcionará.
O que problematiza mais toda a trilogia é o fato de O Hobbit ser uma trilogia. Um livro pequeno, de fácil leitura e despretensioso não soa muito denso numa série de três filmes de longa duração, afeta a boa adaptação da história e só demonstra muito mais uma busca mercadológica do produto do que um esmero artístico, como havia em O Senhor dos Anéis (Perdão, fraquejei!). O problema não é adicionar personagens, mas deixá-los como mera decoração, ainda que acerte no romance entre o anão Kili (Aidan Turner) e a elfa Tauriel (Evangeline Lilly), mas que é traçado de forma muito apressada. Peter Jackson traça o grande embate, mas pouco laço afetivo como fizera no primeiro filme e só retoma em seu final, aonde ele se refugia na memória da trilogia do Um Anel.
Mas o trabalho de Peter Jackson transcende qualquer defeito. Como assim? Foi uma construção visual e conceitual da Terra-Média tão bela e rica desde a trilogia de O Senhor dos Anéis, que a maior carta na manga do cineasta é apelar para o lado mais sentimental dos fãs tanto dos livros deste universo como dos filmes, e trazer aquele sentimento de estarmos lá. Momentos mais sutis como Gandalf consolando Bilbo com uma bem humorada baforada em seu cachimbo, nos aproxima dos personagens, mesmo com o aumento de falhas na estrutura e na narrativa e o modo melancólico como termina a trilogia de O Hobbit, levando ao apaixonante início de A Sociedade do Anel, enfocando um velho mapa tolkieniano, só demonstra um carinho que Peter Jackson carrega que vai além do seu cansaço no ofício, no som da belíssima The Last Goodbye. Não tem como não carregar ainda um carinho e uma sensação meio triste, meio alegre... isso se chama saudade?
Nota: 7,5/10,0
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