quinta-feira, janeiro 31

Crítica: Frankenweenie (2012)


Tim Burton é um cineasta que ficou conhecido pelos seus filmes de estética única. Universos sombrios mas ao mesmo tempo fascinantes e mágicos são a assinatura de Burton, com suas típicas árvores sem folhas e galhos retorcidos, sombrias grades altas e ornamentadas que cercam locais de natureza mórbida, como uma prisão, um hospício ou um cemitério. Burton demonstrava suas influências dos filmes de terror e ficção científica clássicos e trashs, sejam os monstros da Universal encabeçados por Bela Lugosi e Boris Karloff, ou os protagonizados por Vincent Price, ou os filmes de invasão alienígena dos anos 50 do auge da Guerra Fria, que sempre o inspirou para criar suas histórias desde seu famoso curta Vincent, um menino cuja imaginação, habitavam pensamento macabros de um cientista e contos de Edgar Allan Poe.

Toda esta pequena revisada acima foi uma análise de sua obra como um todo, especificamente as raízes, e é aí que Tim Burton retorna, voltando a uma época em que seus filmes ainda eram novidades, Frankenweenie era um curta e o primeiro dele em live-action, que contava a história de um cachorro chamado Sparky que morre atropelado, e Victor decide ressucitá-lo no melhor modo Frankenstein, através da eletricidade. É a partir dessa ideia de quase duas décadas atrás, que Burton baseia seu último filme. 

E não é que o velho Burton também é o bom Burton. Fazendo referência a seus diversos trabalhos anteriores, Burton homenageia o seu próprio cinema e o restante que lhe inspirou no início de carreira. Há referência para tudo, seja a tartaruga ressucitada de um garoto japonês em forma de "Godzilla", a cachorra com o cabelo de Elsa Lanchester, a Noiva de Frankenstein, os kikos marinhos travessos e apavorantes semelhantes aos Gremlins, um rato a lá Lobisomen, um gato vampiro e um professor de ciências com óbvia semelhança física a Vincent Price. Sim, Tim Burton surta em seu próprio universo, e o que sai ainda é uma narrativa de roteiro conciso, que faz referências de forma inteligente sem esfregar na cara do espectador, e consegue construir ainda uma deliciosa historia típica do cineasta.

Sr. Rzykruski, voz de Martin Landau
e semelhança óbvia com Vincent Price
A escolha do preto-e-branco na fotografia também faz parte da homenagem aos filmes de horror e sci-fi dos anos 50, que consegue tornar tudo mais deliciosamente belo, que valoriza ainda mais a direção de arte, que na maioria das vezes, é o ponto forte da filmografia do cineasta. A animação dá liberdades artísticas a Burton, feita em stop-motion, o que dá um maior charme ao visual, além de que o permite trabalhar com ângulos mais interessantes ao cenário, por não haver uma limitação de locação como ocorre em filmagens com atores.

Mas, de um certo modo, se é bom ver Burton em velha e boa forma, é preocupante que o diretor precise voltar as origens para realmente ter um filme que se destaque (Sombras da Noite não teve o mesmo resultado e foi no mesmo ano), já que seus filmes que saem de sua estética e estrutura sombria não são os melhores de sua carreira. Mas o problema da recente caída na qualidade de suas obras não é a mudança de gênero e estilo, já que ele foi bem sucedido na biografia de Ed Wood (com seu visual típico, mas ainda assim diferente de seus outros filmes), mas talvez pelo maior apelo comercial do que artístico de seus últimos filmes, não que eles tenham seu valor, mas dando uma maior importância a elementos comercialmente comuns. Parece até que Burton ficou fadado a tais tipos de obras, com seus personagens incompreendidos, o mesmo cenário, a mesma fotografia, mas esse parágrafo é muito mais uma crítica a sua filmografia do que ao filme em si.

Voltando a Frankenweenie, o filme carrega uma bela mensagem de amor, amizade, ética e conhecimento, onde os personagens incompreendidos de Tim Burton lutam para viver em um mundo às vezes ignorante, estúpido e opressivamente "normal".

Nota: 8/10


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