Por Kaio Feliphe
"A volta de Scorsese."
Martin Scorsese é um diretor único. Desde o início de sua carreira, lá pelo
final da década de 1960, ele não demorava mais que cinco, seis anos para lançar
um grande filme. Mas, desde Vivendo no
Limite [Bringin Out The Dead, 1999],
o diretor vivia uma fase irregular. Apesar de Ilha do Medo [Shutter Island,
2010] ser dos melhores de sua carreira, filmes mornos como Gangues de Nova York [Gangs of New York, 2002] e A Invenção de Hugo Cabret [Hugo, 2011] apareceram com mais
frequência entre seus trabalhos.
Porém, em 2013, o
diretor voltou à velha forma. Destrinchando a cultura da glamorização e do
excesso que rege a América capitalista através do homem e seu império de sexo,
drogas e poder, Scorsese nos presenteia com O Lobo de Wall Street [The
Wolf of Wall Street, 2013].
Contando a história de
Jordan Belfort, um corretor da bolsa de valores que enriqueceu ilegalmente nos
anos 1980, o diretor esbanja maestria na condução da narrativa. A câmera
enérgica que segue o ritmo alucinante da vida de Jordan, a narração em off e constantes quebras da quarta
parede que brincam de maneira genial com o espectador, além do roteiro e da montagem
que andam de mãos dadas com a direção. Todos esses elementos já foram vistos em
Os Bons Companheiros [Goodfellas, 1990], sua obra-prima, e
que aqui estão quase no mesmo nível de qualidade.
Uma das grandes
qualidades do filme é a naturalidade como todos os excessos são mostrados na
tela. A estética espalhafatosa e situações explícitas são constantes, mas
Scorsese nunca perde o domínio da linguagem cinematográfica. Por mais exagerada
que alguma sequência possa parecer, ela faz completo sentido na ideia central
de expor de maneira surtada a vida de abusos de Belfort. Exemplo disso: como é
espantoso ver que uma cena em que um personagem se masturba em público não soa
apelativa.
Mas, mais do que tudo,
o filme é puramente scorseseano, como
há muito tempo não se via. É até curioso quando se traça um paralelo entre O
Lobo de Wall Street e outros filmes do diretor, como o já citado Os Bons Companheiros,
Cassino [Casino, 1995], e até Touro
Indomável [Raging Bull, 1980].
Ambos falam de homens que se tornam pessoas importantes em seus meios e que
destroem suas vidas, em consequência de suas personalidades e decisões. Jordan
Belfort, Henry Hill, Sam Rothstein e Jake LaMotta são, em sua essência, o mesmo
fantoche nas mãos de Scorsese.
O Lobo de Wall Street é
um retrato poderoso da sociedade doente que temos. A cultura da ostentação, do
desperdício, de não apenas possuir algo, mas ter que esbanjar para todos. E é
poderoso graças à abordagem de Scorsese. O diretor não crucifica Belfort pelo
que faz, não dá lição de moral, apenas conta, de maneira irônica e sarcástica, a sua história.
Daqui a alguns anos, O
Lobo de Wall Street será lembrado como um dos melhores trabalhos de um dos
maiores diretores de todos os tempos. Muito merecidamente.
Nota: 9.0/10.0
Trailer:
Filme lindo. Igualmente atribuí esta nota.
ResponderExcluirSenti um Scorsese libertino, mas ciente de sua linguagem. Cortes bruscos, fazem da película um refresco de 3 horas, que passam e nem sentimos.
Pois é, Wendell. Desde Casino o diretor não fazia um trabalho tão solto e tão ciente de si. Além de ser a melhor atuação da carreira de DiCaprio.
ExcluirÉ um filme simplesmente sensacional, é realmente um novo Os Bons Companheiros do colarinho branco, fazendo paralelos com Depois de Horas, Touro Indomável e Cassino. É incrível que um diretor veterano ainda tenha a energia de um jovem cineasta.
ExcluirAchei o filme péssimo, sinceramente, para quem fez "taxi driver. O cinema mudou o rumo. Olha que por taxi driver, seu melhor filme, Scorsese, não foi indicado ao oscar de diretor. Mas justiça seja feita, ele foi indicado por "touro indomável e os bons companheiros. Scorsese é o diretor vivo mais indicado ao oscar, é a sua 8º indicação.
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