terça-feira, janeiro 28

Crítica: O Lobo de Wall Street (2013)


Por Kaio Feliphe

"A volta de Scorsese."

Martin Scorsese é um diretor único. Desde o início de sua carreira, lá pelo final da década de 1960, ele não demorava mais que cinco, seis anos para lançar um grande filme. Mas, desde Vivendo no Limite [Bringin Out The Dead, 1999], o diretor vivia uma fase irregular. Apesar de Ilha do Medo [Shutter Island, 2010] ser dos melhores de sua carreira, filmes mornos como Gangues de Nova York [Gangs of New York, 2002] e A Invenção de Hugo Cabret [Hugo, 2011] apareceram com mais frequência entre seus trabalhos.

Porém, em 2013, o diretor voltou à velha forma. Destrinchando a cultura da glamorização e do excesso que rege a América capitalista através do homem e seu império de sexo, drogas e poder, Scorsese nos presenteia com O Lobo de Wall Street [The Wolf of Wall Street, 2013].

Contando a história de Jordan Belfort, um corretor da bolsa de valores que enriqueceu ilegalmente nos anos 1980, o diretor esbanja maestria na condução da narrativa. A câmera enérgica que segue o ritmo alucinante da vida de Jordan, a narração em off e constantes quebras da quarta parede que brincam de maneira genial com o espectador, além do roteiro e da montagem que andam de mãos dadas com a direção. Todos esses elementos já foram vistos em Os Bons Companheiros [Goodfellas, 1990], sua obra-prima, e que aqui estão quase no mesmo nível de qualidade.

Uma das grandes qualidades do filme é a naturalidade como todos os excessos são mostrados na tela. A estética espalhafatosa e situações explícitas são constantes, mas Scorsese nunca perde o domínio da linguagem cinematográfica. Por mais exagerada que alguma sequência possa parecer, ela faz completo sentido na ideia central de expor de maneira surtada a vida de abusos de Belfort. Exemplo disso: como é espantoso ver que uma cena em que um personagem se masturba em público não soa apelativa.

Mas, mais do que tudo, o filme é puramente scorseseano, como há muito tempo não se via. É até curioso quando se traça um paralelo entre O Lobo de Wall Street e outros filmes do diretor, como o já citado Os Bons Companheiros, Cassino [Casino, 1995], e até Touro Indomável [Raging Bull, 1980]. Ambos falam de homens que se tornam pessoas importantes em seus meios e que destroem suas vidas, em consequência de suas personalidades e decisões. Jordan Belfort, Henry Hill, Sam Rothstein e Jake LaMotta são, em sua essência, o mesmo fantoche nas mãos de Scorsese.

O Lobo de Wall Street é um retrato poderoso da sociedade doente que temos. A cultura da ostentação, do desperdício, de não apenas possuir algo, mas ter que esbanjar para todos. E é poderoso graças à abordagem de Scorsese. O diretor não crucifica Belfort pelo que faz, não dá lição de moral, apenas conta, de maneira irônica e sarcástica, a sua história.

Daqui a alguns anos, O Lobo de Wall Street será lembrado como um dos melhores trabalhos de um dos maiores diretores de todos os tempos. Muito merecidamente.

Nota: 9.0/10.0




Trailer:


4 comentários:

  1. Filme lindo. Igualmente atribuí esta nota.
    Senti um Scorsese libertino, mas ciente de sua linguagem. Cortes bruscos, fazem da película um refresco de 3 horas, que passam e nem sentimos.

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    1. Pois é, Wendell. Desde Casino o diretor não fazia um trabalho tão solto e tão ciente de si. Além de ser a melhor atuação da carreira de DiCaprio.

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    2. É um filme simplesmente sensacional, é realmente um novo Os Bons Companheiros do colarinho branco, fazendo paralelos com Depois de Horas, Touro Indomável e Cassino. É incrível que um diretor veterano ainda tenha a energia de um jovem cineasta.

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  2. Achei o filme péssimo, sinceramente, para quem fez "taxi driver. O cinema mudou o rumo. Olha que por taxi driver, seu melhor filme, Scorsese, não foi indicado ao oscar de diretor. Mas justiça seja feita, ele foi indicado por "touro indomável e os bons companheiros. Scorsese é o diretor vivo mais indicado ao oscar, é a sua 8º indicação.

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