"Vislumbres do futuro que determinam o passado dos Filhos do Átomo"
X-Men, criado por
Stan Lee, era uma resposta dos quadrinhos para a luta dos direitos civis que aconteciam nos conturbados anos 60, com ativistas políticos negros e gays que ingressavam na busca pela igualdade de cidadania, quando existia uma segregação tão enorme que alguns Estados dos EUA a caracterizavam como uma lei, como no Mississipi. Mas foi nos anos 70 que o grupo de heróis mutantes, cujos poderes se caracterizavam pela sua existência vir do Gene X, um tipo de evolução que vinha surgindo e era encarado como uma ameaça por uma humanidade arrogante e intolerante, tomou maior forma, mais variedade na coleção de personagens de nacionalidades diferenciadas e histórias mais maduras e profundas, como o arco
Dias de Um Futuro Esquecido, na consagrada fase escrita por
Chris Claremont e desenhada por
John Byrne, considerada a melhor época dos X-Men.
Bryan Singer, judeu e gay assumido, foi a mão que assumiu o primeiro e segundo filme da franquia e após uma ausência de 11 anos, ele volta no filme que sucede o terceiro filme da primeira trilogia e
X-Men: Primeira Classe (
X-Men: First Class, 2011), que impressionou pelo roteiro excepcional e atores em boa forma, como
James McAvoy,
Jennifer Lawrence e
Michael Fassbender. Quebrando o paradigma de prequels como caça-níqueis, a contextualização do pico da Guerra Fria com a Crise de Cuba como contexto para a história de surgimento dos heróis mutantes foi uma tacada boa, mostrando que eles ainda podiam render boas histórias, mesmo após um filme desastroso como a de Wolverine. Assumindo a franquia novamente, o roteiro de
Simon Kinberg aborda as duas linhas temporais da série, mostrando 10 anos após
X-Men: O Confronto Final (
X-Men: The Last Stand, 2006) e X-Men: Primeira Classe, mostrando um futuro distópico a lá
Exterminador do Futuro, com Sentinelas escravizando e dizimando humanos e mutantes em campos de concentração, com isso, os mutantes tem como cartada final os poderes de Kitty Pride (
Ellen Page, aparecendo na franquia como uma atriz mais consagrada, diferente do terceiro filme, que tinha um papel consideravelmente pequeno), que permite que leve a consciência de uma pessoa de volta ao tempo, mas devido ao perigo da pessoa que têm sua consciência viajada no tempo de se deteriorar, Wolverine (
Hugh Jackman) se dispõe como aquele que voltará ao tempo para unir os X-Men nos anos 70, quando Charles Xavier (
Patrick Stewart/
James McAvoy) estava sem poderes devido ao tratamento da medula óssea e Magneto (
Ian McKellen/
Michael Fassbender) ainda era um vilão que utilizava de métodos duvidosos pela causa mutante. Com isso, Logan tem a dura missão de unir todos os mutantes para evitar o assassinato de Bolivar Trask (
Peter Dinklage, em uma participação especial) pelas mãos da Mística (
Jennifer Lawrence), que culmina na criação dos Sentinelas, que dizimarão o futuro que nos é mostrado durante todo o filme, intercalado com a trama nos anos 70.
Ainda que a condução da história seja excelente e Bryan Singer tem momentos de pura inspiração, como a música
Time in a Bottle, de
Jim Croce, numa passagem excelente protagonizada por Mercúrio (
Evan Peters) ou no diálogo que ultrapassa as barreiras do tempo entre Patrick Stewart e James McAvoy - duas versões de uma mesma pessoa -, num texto que prima por diálogos bem construídos e o monólogo de Fassbender de revolta e medo (esse último adjetivo, nos dois sentidos) é enfático e compreensível, denotando as consequências de qualquer tipo de segregação e preconceito que rondam o nosso mundo, empregadas na sociedade até hoje, infelizmente, quando ironicamente uma das atrizes do filme tenha se revelado lésbica há pouco tempo atrás, no caso, a jovem e talentosa Ellen Page.
Contando com a cronologia mais furada do cinema, a série X-Men encontra seu ponto de correção neste filme, aonde viagens no tempo acabam servindo como corretivo para os erros de cronologia, ainda assim muita coisa fica de fora e
X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (
X-Men: Days of Future Past) segue pra dar um rumo de vez, quando propõe novos conflitos e outra abordagem, após ter saído dos trilhos, quando em meio tempo, a Marvel Studios assumia os seus personagens no cinema e colocava no mercado, a soberania no subgênero de filmes de super-heróis.
Com um elenco bem equilibrado, com um balanço pontual nas cenas de humor, drama e ação, cujos quadrinhos serviu de alegoria sobre o preconceito, o medo, a esperança e a igualdade entre todos os seres vivos neste mundo. A viagem no tempo serve apenas para mostrar que hoje mesmo, podemos reescrever a história, torná-lo menos sombrio, pois não falta exemplos diversos e famosos dos nossos maiores erros do passado.
Nota: 8,5/10,0
Trailer: