Por Maurício Owada
"Qual o limite de sua fé?"
Desde Se7en - Os Sete Crimes Capitais (Se7en, 1995) e Zodíaco (Zodiac, 2007), pouquíssimos filmes mantinham um padrão de qualidade acima da média, seja pela narrativa ou por uma direção que soubesse trabalhar bem com o suspense. Em tempos de vacas magras, Hollywood se depara com gratas surpresas, ainda mais quando confiam um filme nas mãos de um diretor de fora, que geralmente carrega uma bagagem diferenciada. Aclamado diretor de Incêndios (Incendies, 2010), o diretor canadense Denis Villeneuve apresenta um trabalho autoral bastante ousado.
Ambientado em Boston, conta a história de duas meninas que desaparecem, sendo que o pai de uma delas, Keller Dove (Hugh Jackman) parte em uma busca incessante pelo paradeiro de sua filha, enquanto isso, o detetive Loki (Jake Gyllenhaal) junta as peças que poderá revelar onde estão as meninas. O paralelo da busca dos dois personagens principais conduz a trama de um jeito que ela se revele por beiradas diferentes, como um quebra-cabeça.
Contando com um elenco competente, os atores principais dão um show a parte, construindo dois personagens muito bem construídos, que buscam pela verdade e partem em uma jornada tortuosa que desnivela para caminhos intensos. O restante do elenco está excelente e ajudam a carregar o filme, tendo Viola Davis, Terrence Howard, Paul Dano, David Dastmalchian e a "camaleão" Melissa Leo, também em uma excelente caracterização.
Os aspectos técnicos segue todo o cuidado minimalista para a construção do clima de suspense, o uso intenso do azul na fotografia, que traz um tom deprimente ao filme, assim como o som ajuda a construir a tensão e o uso dela no final é simplesmente genial. A chuva pesada presente durante quase todo o longa traz a sensação de estarmos sufocados e perdidos, assim como ficam os personagens na busca pelas meninas.
O roteiro de Aaron Guzikowski explora não apenas personagens saindo do seu estado de segurança (bastante caracterizado na personalidade de Keller, pelo menos a busca por ela) por causa do sequestro das duas crianças - uma situação que por si só já deixa os espectadores aflitos -, mas também carrega a reflexão da fé de forma não tão simplista e piegas, porém bem trabalhado e de uma forma mais crua e pesada, que ajuda na condução de seus personagens e acrescenta algo mais substancial a carga dramática, bastante explícito no Pai Nosso orado por Keller ou pelo dilema "Espere pelo pior, reze pelo melhor!". Neste quesito, o tema se assemelha bastante com Se7en, porém ele é bem melhor explorado e aprofundado. Keller é um personagem tridimensional, é um bom homem que busca salvar a filha, mas utiliza de métodos bastante questionáveis e a todo momento, percebemos seu medo ao que pode acontecer vendo até que ponto sua atitude chegou - se fosse para ir ao inferno, que não fosse em vão. É esse fundo religioso que transforma uma simples história de sequestro em algo mais além e de um certo modo, a nos fazer refletir sobre nossas atitudes.
Com uma direção maravilhosa, Os Suspeitos (Prisoners) é um filme tenso do começo ao fim, ainda mais impressionante como uma obra de duas horas e meia consegue prender a atenção do seu espectador, utilizando do tempo consideravelmente longo com uma forma de construir um suspense sufocante, que nos deixa mais apreensivos em seu desenrolar. Um dos melhores suspenses dos últimos anos.
Nota: 8,5/10,0
Trailer: