domingo, fevereiro 17

Crítica: Amor (2012)


Por Maurício Owada

"Um filme que mostra até
onde estão os limites deste sentimento tão forte"

O que define o amor? Carinho, compreensão, paixão, companheirismo, amizade, cumplicidade, união, entre outros quesitos compõem esse sentimento, às vezes contraditória com sua natureza, cada um traz sua visão sobre isso e nossas escolhas em relação as pessoas que amamos nem sempre tem o intuito de trazer ou aproximar a pessoa que amamos, mas simplesmente deixa-la ser feliz, enquanto outros possuem uma possessividade encima do parceiro(a) de certa forma que nos faz questionar se é amor ou obsessão. Amor é um sentimento complexo, que confunde nossas definições de relacionamento e nos traz sensações de natureza impar, como o prazer e o ciúme, e seus aspectos são só definidos pela experiência pessoal dentro da relação.

Michael Haneke, este sim, como dizia em (500) Dias Com Ela, "não fez um filme romântico, mas um filme sobre amor", mas o diretor austríaco não utiliza de elementos pop e artifícios que chamem necessariamente um público amplo para assistir o filme. Primeiramente, para assistir Amor (Amour), é necessário um certo preparo psicológico, você não vai acabar de assistir o filme e sair feliz cantando o quanto o amor é lindo, na verdade Haneke entende como o amor é lindo, mas ele traz uma visão que em sua lente fria e imparcial capta de uma forma que parece que o casal de idosos são cobaias de um destino cruel que lentamente vai sufocando-os.

A história conta sobre um casal de idosos, que já beirando aos 90 anos, estão juntos a muitos anos e contam com um relacionamento duradouro e estável o suficiente para dizerem que apenas a morte os separará, mas acontece uma ironia do destino e Anne (Emannuelle Riva) adoece decorrente de um derrame, e seu estado vai piorando e sua consciência se desvanecendo, ao mesmo tempo que o marido Georges (Jean-Louis Trintignant) segue junto com ela em seu sofrimento, cuidando e tratando dela em seu apartamento, que será o único cenário do filme inteiro.

Haneke inicia o filme pelo final, e ele já traz o "sentimento-título" de uma forma bela e ao mesmo tempo brutal, quando a polícia vistoria a casa e veem na cama Anne, já morta e com os cabelos soltos e em volta de sua cabeça, flores. Depois dali, o que verá será uma transformação lenta e dolorosa em suas vidas, e é incrível que a impressão da degradação física da protagonista e mental do marido vai se expressando pela aparência do apartamento, que adquire um ar mórbido, com a presença de enfermeiras, equipamentos de enfermagem e a cadeira de rodas (que tem espaço na única cena com um certo humor, mas que não retira o tom pesado do longa).

Emannuelle Riva e Jean Louis-Trintignant dão sua graça como o casal de idosos, e como atores veteranos desde a época da Nouvelle Vague, possuem uma capacidade de caracterização de personagem impressionante, adquirem um estilo mais minimalista de atuação do que estamos acostumados e que residem nas expressões e olhares que definem o estado do personagem, no momento que passam. O roteiro, valorizando o mínimo para se expressar de forma eficaz, é distante de seus personagens, é um olhar que traz todo um tom arrastado, que não prejudica, mas ajuda em trazer a sensação de agonia perante o decorrer do filme.

Amor é, como muitos dizem, uma pancada na cabeça, é um filme que te faz refletir, sobre a obra, as pessoas, o mundo e você mesmo, mostrando dois personagens e um lugar que se transforma, cujos únicos momentos em que a putrefação do estado espiritual dos personagens e do apartamento é amenizada, é quando um pombo entra pela janela, um símbolo de paz.

Nota: 9,5/10




Trailer:

4 comentários:

  1. Assisti ao filme por esses dias e tenho que concordar com você. Eu sinceramente me surpreendi e muito com o longa, sem dúvidas um filme que me marcou e que traz à luz um sentimento complexo, abordado de uma forma visceral, explorando um lado pouco visto ainda no cinema.
    Gostei muito.

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  2. É um filme que mostra o amor do modo mais cru possível, sem ficar em clichês, na verdade, as chances de alguém achar esse um romance e não um drama pode aumentar e muito uma decepção, por isso tem que ir preparado pro filme. Apesar de gosto de ser surpreendido.

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  3. achei um filme terrivelmente cru. mas não o cru necessário, mas aquele que não envolve sentimentos. existe uma diferença aí.
    a dureza das histórias de Haneke são de doer o coração, ainda não empáticas.

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  4. Não gostei do filme. Achei que o roteiro tem falhas que prejudicam o ritmo da trama, a abordagem sobre o amor é inverossímil e no mínimo confusa. Não fica claro o que se quer enfatizar sobre o amor, ainda que de forma louvável consegue abolir completamente o "romantismo" que está incrustado neste tipo de assunto. E a eutanasia praticada como que um lenitivo...não dá pra engolir. Destaque pra brilhante atuação de Emanuelle Riva e pela interpretação habilidosa de Jean-Louis Trintgnant, além da fotografia muito competente. No mais, nada que mereça tanto estardalhaço...

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