quinta-feira, fevereiro 7

Crítica: Django Livre (2012)

Quentin Tarantino sempre foi um artista que homenageou filmes e outras formas de entretenimento, as molda em seu estilo, sem tirar sua natureza original, ainda conseguindo ter um toque de originalidade. Um dos gêneros mais referenciados em sua filmografia foi o faroeste, e em específico, o italiano, cujo pioneiro deste sub-gênero foi o mestre e lendário diretor Sergio Leone. Em Kill Bill, a história em si remetia a esses filmes, sobre vingança onde o embate final era o grande clímax dramático. No filme Bastardos Inglórios, apesar do cenário de 2ª Guerra, ainda possuía momentos a la Western Spaghetti como a aparição do Urso Judeu, mas é em Django Livre que Tarantino decide fazer sua homenagem definitiva a um gênero americano tipicamente italiano.

Mas apesar de ser o gênero que muitos esperavam do cineasta, Tarantino não se mantém no óbvio como de costume, e muda o cenário do Velho Oeste para o Velho Sul, onde o racismo e a escravidão prevalecia de forma brutal e cruel, com um protagonista negro cujo nome é Django, nome que era do personagem branco de olhos claros interpretado por Franco Nero, que faz uma aparição especial. Além de um caçador de recompensas alemão com título de dentista. Além de que, faz ainda uma mistura do gênero com o blaxpoitation, onde a trilha-sonora composta de partituras de Ennio Morricone se mistura com rap e funk, num divertido mix que já tinha sido feito antes em Kill Bill.

O filme segue a linha de Bastardos Inglórios, dando uma importante atenção a época em que se passa, e apesar de ser conhecido pelo público pela suas cenas de violência extrema, Tarantino tem a noção de violência das cenas que filma, como quando um escravo chamado ironicamente (e propositalmente) de D'Artagnan é dilacerado por cães, a gravidade da violência é dada ao público, enquanto em cenas de tiroteio a violência é caricata e a explosão de sangue (dando lugar as esguichadas de Kill Bill) rola solta na tela. Mas o roteiro tende a ser brilhante em cada trabalho, e neste, como em Bastardos Inglórios, se Christoph Waltz interpreta uma análise científica da comparação do judeu com o rato, o mesmo acontece aqui, quando DiCaprio explica a suposta submissão do negro a raça branca ao abrir o crãnio de um negro que já tinha morrido. Se este não é o roteiro mais brilhante do cineasta em questões narrativas, é um dos mais inteligentes e com análises histórico-sociais bem interessantes, mas ainda assim contém seu típico humor como na hilária cena da Klu Klux Klan.

"I like the way you die, boy!" - Django
O elenco está excepcional, e DiCaprio surpreende como um personagem racista e sádico, mas Christoph Waltz mais uma vez rouba o filme, desta vez interpretando um aliado do protagonista interpretado por Jamie Foxx, que confere um bom trabalho de construção, começando com um negro frágil e virando o gatilho mais rápido do sul. Kerry Washington faz a donzela indefesa Broomhilda, mas não cai no lugar comum, e Samuel L. Jackson surpreende como o negro da casa Stephen, de uma submissão desprezível e maquiavélico contra seus próprios irmãos.

Mas Django Livre não é perfeito, e mesmo a genialidade de Tarantino, ironicamente, ofusca um pouco mais do brilhantismo que o filme poderia ter, tendo um certo problema de ritmo no segundo ato, e a personagem de Zöe Bell aparece gratuitamente, que só não foi tirada talvez pelo afeto do cineasta com a dublê/atriz, já que o corte final tornou a sua presença sem sentido.

Django pode ter o "D" mudo, mas a jornada pela mulher amada não é nem um pouco, e terá que enfrentar algo muito mais mortal e perigoso que o dragão da lenda alemã contada pelo Dr. King Schultz, que cerca Broomhilda em uma montanha alta onde Sigfried vai para salvá-la, mas sim o homem, em seu racismo e crueldade pueril com requintes de sadismo.

Nota: 9,0


3 comentários:

  1. Muito bom o texto, parabéns.
    Concordo com tudo que foi dito. Os diálogos no filme são demais.
    Samuel L. Jackson fazendo papel de racista é tão bom que chega a dar nojo dele. Baita ator.

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  2. Esse é um daqueles filmes que, no futuro, você vai encher boca pra dizer que viu no cinema.

    Deliciosamente tarantinesco.

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