Por Conde Fouá
Assisti Argo dia 13/02/2013. Raro caso em que eu não sabia nada a respeito do filme. Ao final da projeção sai boquiaberto. Difícil elencar todos os acertos do filme. E mais surpreendente ainda é saber que a maior parte do mérito cabe ao seu diretor que se mostra como uma das mais promissoras promessas dos próximos anos.
“Em 04/11/1979, quando
a clima de tensão entre o Irã do Aiatolá Khomenini e os EUA atinge o seu ápice,
manifestantes tomam de assalto a embaixada americana em Teerã fazendo mais de 50 estadunidenses reféns.
Eles exigem o reenvio de Xá Reza
Pahlavi (O anterior governante) para que
fosse julgado por seus crimes e seu servilismo aos países ocidentais em
detrimento do seu povo. Contudo seis funcionários da embaixada conseguem
escapar e encontram abrigo na embaixada Canadense. Os invasores da embaixada
americana contudo ao fazerem uma verificação atenta dos documentos que foram
parcialmente destruídos, podem perceber tal ausência e sair a captura deles, o
que pode significar a sua morte (todo americano era tido como espião). A Cia no
entanto investe na ideia pouco ortodoxa de um de seus membros que os pretende
retirá-los de lá com um plano pra lá de mirabolante.”
Quando o antigo logo da Warner ganha as tela estamos sendo inseridos
dentro de uma época que já passou. Para isso o diretor opta por vários truques:
letras redondas, ligeiros scratchs sobre a
película, fotografia seca, granulosa e descorada.
Não se trata de mais um filme de espionagem. Não
que ele em certas horas não nos deixe como que faltando o ar, alterando tais
momentos com outros brandos. Um filme que não tem vergonha de ser patriota, mas
o é de maneira comedida e ousa citar os podres que colocaram seis vidas (mais a
do agente da Cia) em risco. Um breve relato da história recente do Irã é
contada e mostra como os EUA interferiu naquele país com o intuito de se
beneficiar. São cerca de quatro minutos. Neles vemos o poder passar das mãos de
um nacionalista popular a um extremista islamita. Entre ambos um Xá oportunista
e corrupto.
Para nos inserir nesse contexto e não sermos
levados por um ufanismo para um dos lados, Affleck se vale de certos recursos
que funcionam a mil maravilhas. Os iranianos que surgem na tela parecem se
enquadrar naquele tipo imortalizado pelo cinema americano dos últimos anos:
barba cerrada, olhos negros, taciturnos. Alguns podem achar em tal uma
frouxidão. Mas o que querem? O Cinema e a própria História nada mais fazem que
nos mostrar que não existe uma verdade objetiva. Apenas coisas a serem contadas
que podem ou não se aproximar do que realmente ocorreu. Isso contado por sob o
ponto de vista de alguém. Assim os story-board se mesclam as imagens de arquivo
e estas por sua vez inspiram as tomadas atuais. O diretor tem a argúcia
necessária para criar um distanciamento tal, que de forma equilibrada mescla as
cenas de Teerã com aquelas ocorridas em Hollywood onde efetivamente dois
moleques brincam de fazer cinema. Assim ao olhar o que ocorre do ponto de vista
desses últimos o filme não se encaminha para mais um filme maniqueísta. Ainda
que tudo seja criado de forma a se aproximar do real, o que vemos é apenas uma
ilusão deste. Para citar uma sequência que justifique o que digo cito aquela da
montagem paralela entre a leitura do falso roteiro nos EUA e uma execução de reféns
em Teerã que no final se mostrará também falsa. Duas inverdades com um mesmo
potencial: a morte. Uma é cômica, a outra não o é. O impacto emocional, no entanto
nos atinge, apesar de sabermos que é um engodo.
Aliás a direção dos atores é um primor. Todos
funcionam a mil maravilhas de forma que o único destaque é justamente aqueles
que estão na função dos ditos sonhadores: a sátira divertida a Hollywood levada
a cabo por um Alan Arkin como um produtor apaixonado e John Goodman como um
especialista em efeitos especiais e maquiagem.
A propósito de Affleck. Ele interpreta esse agente
de forma tão comedida, sua presença na tela nunca fica além do necessário. Um
personagem taciturno, centrado, racional, bem resolvido e que o roteiro (como a
direção) tem a felicidade de fazer com que não sobressaia sobre os demais. Ele
jamais cai na caricatura e transmite uma emoção sincera. Essa naturalidade em
cena, não só dele, mas como dos demais é que aproxima o filme mais um pouco de
um quase documentário. Apesar de já conhecermos o desfecho (pois é baseado em
fatos reais) as soluções encontradas (simples é verdade) pela direção
surpreendem. No Aeroporto não compreendemos o que os iranianos falam entre si,
o que traz para nós a angústia real dos que dependem das decisões deles para saírem
incólumes daquele local.
Em suma: Ben Affleck caminha a passos firmes e
seguros para se tornar um cineasta do quilate de um Clint Eastwood. O que ele
realizou atrás das câmeras deve no mínimo chamar nossa atenciosa atenção.
PS
Assisti ao filme no Bristol-Playarte na Avenida Paulista. Quando
da compra do ingresso foi-me informado que o ar condicionado estava inoperante.
Apesar disso, porém o local estava agradável. Aliás o atendimento do local me
agradou muito, já que eles reforçaram várias vezes a situação em que o filme
seria assistido.
Nota: 8,5/10
Do meu ponto de vista eu acho que é a melhor produção de Ben Affleck, vale a pena ver Argo é um filme contou com inteligência, bom ritmo e um elenco muito atraente.
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