sábado, agosto 4

Crítica: Malcolm X (1992)


Malcolm X foi um dos maiores defensores dos direitos civis dos negros nos EUA nos anos 60 (juntamente com Martin Luther King), e tivera uma infância e uma adolescência complicada, acabou se envolvendo no crime e foi preso, onde descobriria o islamismo e se converteria; ao sair da prisão, foi a maior voz da Nação do Islã como ministro, liderada na época por Elijah Muhammad, que propagava o separatismo entre pretos (não se usava o termo negro pelo fato de se referir aqueles que foram escravizados) e brancos, e que o branco era um demônio, ensinamentos que influenciaria nos discursos de Malcolm X, que foi acusado de anti-branco, anti-semita, racista e de propagar a supremacia dos negros, até se desligar da Nação do Islã, que tinha afastado ele depois de declarações polêmicas em relação ao assassinato de John F. Kennedy, e após uma peregrinação à Meca, voltou aos Estados Unidos com novas ideias, mais tolerantes e mais abertos a discussões com os brancos, e fundou a Organização da Unidade Afro-Americana, porém, antes que pudesse por em prática suas ideias, foi assassinado na sede da organização na frente da sua mulher, Betty e suas filhas, em 1965.

Baseado na autobiografia de Malcolm X, Spike Lee faz um ótimo trabalho, que possui uma filmografia caracterizada em melhorar a realidade das minorias, principalmente dos negros e a realidade dos guetos, sem o uso de estereótipos e maniqueísmos, e não deixa de demonstrar um Malcolm X idealista e dedicado, mas também preconceituoso devido às ideias da Nação do Islã, como também se usa de poucas cenas que mostre o homem branco como racista, apesar de que o sucesso da construção do personagem principal se dê a atuação de Denzel Washington, excelente em construir um homem astuto e controverso, tanto em suas atitudes quanto em suas palavras, dignas de admiração e reprovações, como fora o verdadeiro. Conta também com um elenco formado por Delroy Lindo, Christopher Plummer, Angela Bassett e o próprio Spike Lee, como Shorty, o parceiro de trapaças de Malcolm.

Apesar de o maior mérito do filme estar nas atuações, na direção e por se tratar de uma grande personalidade, ele tem um final arrastado, mesmo com um bela descrição do legado de Malcolm, considerando seus valores e defeitos. O filme não só foca no protagonista, mas em toda a realidade em sua volta, o contexto histórico e a luta pelos direitos iguais através de discursos famosos como a "Mensagem a Grass Roots" (discurso em inglês), considerada um dos 100 maiores discursos estadunidenses do século XX, valorizada pela ótima montagem que intercala com Malcolm discursando e imagens antigas da repressão da polícia a manifestações pelos direitos civis e a de Martin Luther King discursando ao público na Marcha sobre Washington, cujo ideais eram contrastantes com a de Malcolm X na época, onde um propagava o pacifismo como forma de acabar com a segregação, enquanto Malcolm defendia a violência como auto-defesa.

O filme conta também, para toda uma boa cinebiografia, uma bela fotografia e uma ótima direção de arte, além do figurino, que foi indicada ao Oscar, como aqueles ternos coloridos e extravagantes e chapéus de aba larga com a pena ao lado, um sinônimo de status no gueto onde Malcolm X morava.

Malcolm X é além de uma cinebiografia, é um filme sobre identidade, ideais, força, crenças e fé, e que tudo isso está perante mudanças, porque os tempos mudam, e os homens também mudam, se for para melhor, ou para pior, depende de cada um de nós, que tem o poder, sim, de fazer a diferença.


Avaliação: 7,5/10





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