Na cidade de Sylvia (no original, En la ciudad de Sylvia) é um filme que facilmente poderia ter sido realizado na época em que D. W.
Griffith fazia seus primeiros longas, porém decisivos filmes, o que não quer dizer que Na cidade de Sylvia seja uma produção ultrapassada ou que já nasceu
velho, pelo contrário, o filme utiliza e se apóia o mínimo e nas simples técnicas narrativas; campo-contracampo e quadros detalhados, mas sem
exageros de imagens. Logo, é um filme que poderia ter sido feito nos primórdios do
cinema narrativo e também, entre outras coisas, é um quadro sobre o tempo.
A trama é o mais simples possível: acompanhamos um turista
em paris do qual não sabemos o nome e que em determinado momento descobrimos
que ele esta na cidade em busca de Sylvia, mulher que ele conheceu seis anos
antes e que provavelmente teve algum tipo de relacionamento (algo que não é
confirmado, mas nem negado pelo filme).
O que ocorreu nesse encontro do turista e de Sylvia e o que se passou nesses seis anos pertencem
somente aos extra-campos do filme e a imaginação dos espectadores, mas o que
importa e que em seis anos a lembrança do rosto de Sylvia foi diluída, a
memória não é tão precisa, e o turista tenta a todo custo ter essa imagem desse
rosto feminino novamente, tentando esboça-ló em seu caderno de desenho e o
procurando na face das mulheres que passam; não só o tempo em si está presente
no filme mas sua ação sobre a memória é algo notável.
Finalmente o turista encontra a mulher que ele acredita ser Sylvia e a
segue pela cidade. O diretor mantém todo tempo planos de câmeras abertos e
insiste em um jogo de campo-contracampo, tudo é simplíssimo, sem nenhum tipo
de afetação, temos um jogo voyeurismo próxima do que há em Um Corpo que Cai (1958), filme que já
foi reencenado diversas vezes, mas aqui temos um frescor único. Na Cidade de
Sylvia é tem um pouco de Um Corpo que Cai, que ignora toda a historia do cinema e
reconta a trama de paixão e obsessão através da imagem mais pura e ao mesmo
tempo mais bruta.
Mas se o turista procura uma mulher especifica, por que ele
olha por todas as mulheres que por ele passam? Porque qualquer uma pode ser
Sylvia, certamente, mas ela é todas as mulheres, e todo a cidade e tudo
nela (a cena em que vemos o reflexo do rosto feminino nos trens é representação
mais clara disso). Mas também porquê o filme também é uma mera desculpa para
que o que diretor José Luis Gerín faça seu elogio e
sua declaração de amor ao sexo feminino.
“Na Cidade...” também é um filme sobre o cinema em si, o
cinema enquanto uma arte cênica e lúdica, afinal assim como o turista, no final é claro que o espectador foi enganado, pela memória de nosso protagonista,
memória que aqui também surge como o
lúdico, e se iguala ao cinema.
Avaliação: 10/10
Esse filme não se passa em Paris, e sim em Estrasburgo, também na França.
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