terça-feira, julho 17

Crítica: O Grande Mestre (2008)





Famoso no Oriente por suas notáveis habilidades marciais e conhecido no mundo todo, pelos mais informados, por ser o mestre de Bruce Lee, Ip Man finalmente ganhou uma biografia nas telonas. E excelente, por sinal, pois foge de vários estereótipos de filmes orientais e se aprofunda cautelosamente na vida de alguém que muitos já ouviram falar, porém pouquíssimos conheciam sua história.

Lançado diretamente em home vídeo no Brasil, o filme começa apresentando a rotina de Ip Man, um pai de família que, por ser filho de uma família rica e herdeiro de grandes propriedades, não precisava trabalhar. Ip vivia tranquilo em sua casa, treinando Wing Chun (um estilo de Kung-Fu) regularmente e, de vez em quando, duelando de forma amigável com mestres de outros dojos (academias). Acontece que, em meados de 1937, a China é invadida pelo Japão, por causa da Segunda Guerra em andamento, e Ip Man, para sobreviver, começa a passar por situações que jamais imaginou.

É inegável que o cinema não é o ponto forte dos asiáticos. Apesar de terem suas obras-primas, a grande maioria de seus filmes conta com piadinhas infantis, romances melosos e dramas que não comovem. As lutas, no que são melhores, só servem de desculpa para a ação, sendo que algumas ainda conseguem ser ruins e mal coreografadas. Porém, não é assim que vemos em O Grande Mestre: ainda que as poucas piadas do filme sejam realmente sem graça, a película conta com um drama denso, tão profundo que podemos sentir o ódio e a melancolia do protagonista durante as piores situações que enfrenta. As lutas também são empolgantes, e assustadoramente plausíveis. Mesmo que em uma ou outra ocorra o uso de câmera lenta, dando aos golpes um tom de exagero, é raro não acreditar que o que estamos vendo não sejam, de fato, lutas reais de um mestre de Kung-Fu.

O elenco foi ótimo, todos cumpriram bem seus respectivos papéis, com destaque para a performance de Donnie Yen. Este se aprofundou muito na vida de Ip Man, e praticamente incorporou a personagem. O nacionalismo, a humildade e as habilidades marciais do famoso mestre de Wing Chun não podiam estar melhor representados.

Acontece que a idolatria acerca do Ip Man é algo que prejudica o filme, pois é excessiva, mostrando o mestre como se o mesmo fosse um cara perfeito, ou ainda uma espécie de “messias”, sob o olhar dos chineses. É como se ele não tivesse defeitos, o que é negado por muitos que realmente conhecem sua história. Sem falar do interesse comercial, e da propaganda implícita que a película faz do estilo Wing Chun.

(obs: os três parágrafos a seguir não são recomendáveis a quem ainda não assistiu o filme, pois contém spoilers)

Talvez o maior problema do filme esteja em ser uma biografia. Pode parecer estranho, mas pense comigo, caro leitor: sendo um filme de ação, o filme colocaria o protagonista em situações perigosas. Porém, para quem já conhece o personagem ou, no mínimo, já viu suas fotos com o Bruce Lee, sabe que ele alcançou a velhice. Logo, ao ver o protagonista em uma forma saudável e vigorosa, o espectador sabe que, não importa o quão grave seja a ameaça: o mestre sobreviverá de qualquer jeito, deixando, assim, o filme previsível.

Se o nome de Ip Man fosse revelado só no fim da película, ainda que isso exigisse o triplo de trabalho do diretor e dos roteiristas, o filme seria muito maior do que é, pois teria a chance de surpreender até mesmo aqueles que já conhecem o mestre, mas nunca ouviram a sua verdadeira história.

Voltando aos pontos positivos, a cena mais antológica do filme, a meu ver, é sem dúvidas a que o mestre desafia dez karatecas japoneses. Fazia tempo que eu não assistia a uma luta tão espetacular quanto a essa. Há rumores de que, na realidade, mestre Ip não lutou contra os dez de uma vez, mas sim um por um. Alguns ainda afirmam que nem se sabe se foram dez. Porém, foi uma escolha acertada que a luta no filme seria com os dez ao mesmo tempo, porque isso concedeu maior dinamismo à obra e ainda consagrou Donnie Yen como um dos maiores arquétipos dos filmes de luta atuais.


(Fim dos Spoilers)



Apesar de o filme ainda contar com duas sequências, uma como continuação deste e outra que mostra a infância do mestre, esse é o que mais se destaca não só pelo seu sucesso, mas por ajudar a trazer um novo fôlego ao cinema asiático. Não é um filme perfeito, porém suas qualidades (o que também inclui trilha sonora e fotografia) são louváveis. Pode não ser uma cinebiografia completamente ligada aos fatos, mas sem dúvidas é algo que agradará os fãs de artes marciais, e que deixaria orgulhoso aquele que até hoje é considerado um dos mais grandiosos mestres que já existiram.

Avaliação: 8/10




Um comentário:

  1. Não é uma das melhores biografias, já que seu propósito original não é contar com todas as alíneas do mestre de Bruce Lee, mas diverte bastante, nos efeitos e nas lutas saborosamente ensaiadas.

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