terça-feira, junho 24

Crítica: O Grande Hotel Budapeste (2014)


Por Maurício Owada

"De onde surgem as histórias que 
nos encantam em livros e filmes"

De onde vieram as histórias que lemos, ouvimos, assistimos? Quem imagina que alguém lerá nossas simples histórias lá na frente? De onde surgem essas histórias? O resgate da memória é uma das coisas mais comuns nas artes em geral, principalmente no cinema, aonde a emulação de sons e imagens podem nos levar às mais distantes lembranças. O olhar de uma pessoa por algo ou alguém que pode fornecer grandes histórias ao público é única e muitas vezes, subestimada, como no trecho inicial em que o personagem de Tom Wilkinson diz que as pessoas sempre julgam que o escritor criam infindáveis contos e estórias a partir do nada, mas que na verdade, o mundo é cercado de grandes histórias e para achá-las, é necessário um exercício de observação a todo momento.

A partir dos créditos iniciais desde os planos e ângulos de câmera simétricos, nos damos conta de O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel) é um filme de Wes Anderson, que criou um estilo próprio desde o início da carreira e a cada filme, denotava interesse por temas variados e pouco usuais, além de personagens em situações pouco usuais e peculiares e apesar da estética fabulesca que acompanha suas obras, ele nunca deixou de mostrar o mundo como ele é, mesmo que pelas suas cores, aonde coisas como a morte e o sexo estão presentes e criam um contra-ponto interessante dentro de seus filmes que sempre trazem aquele tom supostamente leve e meigo.

Como uma cebola, a narrativa se descasca para contar sobre aquele hotel outrora, glorioso e respeitável estabelecimento conhecido como Grand Budapest, um local refinado que conta com a graciosa e exigente presença de Monsieur Gustave (Ralph Finnes), acompanhado de seu fiel protegido, o paquete Zero Moustafa (a revelação Tony Relovori), na Europa em meio as duas grandes guerras, contada ao Escritor (Jude Law/Tom Wilkinson) pelo próprio paquete mais velho, agora um milionário que se hospeda no hotel, que já está solitário e decadente, no quarto dos criados. Nisso tudo, somos levados até um ávida leitora que presta sua homenagem ao autor. E Wes é criativo na representação de época não só na direção de arte, mas pelo formato de tela que utiliza, em prol da narrativa, os anos 30 é filmado em 4:3 e os anos 60 para frente é em widescreen - a transposição de época através do progresso do cinema, que como os livros, nos trazem grandes histórias e aventuras, uma opção que adere mais poética na interpretação do filme.

Sempre com um roteiro afiado, Wes Anderson e seu co-roteirista da vez, Hugo Guinness, acertam em uma narrativa jamais cansativa e mais regular, algo que foi aperfeiçoando a partir de O Fantástico Sr. Raposo e um elenco enorme e surpreendente, como o próprio Ralph Finnes, que encanta com um típico personagem wesandersoniano, contando com um timing cômico e uma certa melancolia que em um ponto da narrativa, quando seu nariz sangra quando luta ao defender seu protegido, descabelado e imóvel, e olha desesperado para o paquete, nos lembra de Charles Chaplin em O Garoto (The Kid, 1921), um olhar de suplica que carrega uma humanidade que nos comove e a forma como trata todos com quem convive, seja hóspedes ou criados, conquista quem o acompanha em sua jornada. Com um elenco de apoio incrível, alguns muitos consagrados e outros que o acompanham desde seu início de carreira como Bill Murray, Owen Wilson e Jason Schwartzmann, que dão atuações consistentes aos seus personagens breves, porém interessantes.

Contando com a cinematografia comum em suas obras, além da direção de arte, as cores de Wes Anderson adquirem uma tonalidade mais fria, passando todo o clima da Europa e suas construções antigas que carregam histórias que nos inspiram geração por geração, as ruínas que foram algo no passado e mantém apenas um significado sentimental e essa é a busca de Wes Anderson/Escritor nessa que pode ser considerada, a sua obra-prima.

Nota: 10,0/10,0




Trailer:

2 comentários:

  1. Muito boa a crítica Owada.. Achei excelente, e realmente é um dos melhores trabalho do Wes Anderson.

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  2. Quero reafirmar isso: inquestionavelmente é o melhor filme de seu realizador. Um filme fantástico...
    Parabéns pela resenha.

    abraço

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