sexta-feira, fevereiro 21

Crítica: Nebraska (2013)


Por Maurício Owada

"Alexander Payne trilha mais um caminho para
uma história de reconciliação familiar e pessoal"

Alexander Payne tem uma familiaridade com pessoas comuns, simples, geralmente não tão bem sucedidas em suas vidas pessoais e profissionais, que partem rumo a uma viagem comum que revelam de cada um algo a mais que se revelará durante a caminhada, ou seja, o filme foca mais na viagem do que no destino, apesar dela ter a sua relevância, ela nunca cumprirá sua expectativa aglomerado em seus personagens.

Nebraska (idem, 2013) é o primeiro filme dele que não tem sua mão no roteiro, nem por isso é menos brilhante e Bob Nelson se dá bem com os diálogos e situações. A história é sobre um típico velho rabugento chamado Woody Grant (numa brilhante e aclamada atuação de Bruce Dern) que recebeu uma carta dizendo que ele ganhou um milhão de dólares e que ele teria que pegar o prêmio na cidade de Lincoln, Nebraska. Com a insistência do velho em querer ir para lá, o filho David (Will Forte) decide levá-lo de carro com o intuito de passar mais tempo com o pai, com quem teve tão poucos momentos e acabam parando na cidade-natal de Woody, aonde encontram velhos amigos e parentes, em que alguns, após descobrirem sobre a "fortuna", rodeiam o velho como urubus, fazendo-o relembrar de antigas "ajudas" como recompensa.

Com um elenco incrível, contando com uma atuação divertida e sensacional de June Squibb como a esposa de Woody, Kate, que cuida arduamente do marido, xinga-o de inútil, relembra de antigos pretendentes que a perderam para Woody, mas ainda assim, demonstra um carinho enorme e que todo aquele jeito é apenas parte de sua personalidade, tirando as impressões de senhora meiga com sua aparência atarracada, cabelo curtinho e sotaque sulista bem forte. Já Bob Odenkirk (Saul Goodman, da série Breaking Bad) tem uma participação competente, mas não há um momento em que possa realmente brilhar. Já Stacy Keach vive o amigo traíra de Woody, com quem reencontra.

De ritmo lento e uma fotografia preto e branco (quem cai a calhar bem), jamais é uma experiência chata ou monótona, apesar de passar essa sensação em algumas cenas e o roteiro de Bob Nelson oscila entre o cômico, o deprimente e o terno e a direção de Alexander Payne aproveita estes momentos com competência, com o uso minimalista da trilha-sonora e planos simples, em enquadramentos que exploram um sentimento sem manipulação do som ou da câmera, que transcende aquilo a algo mais verdadeiro.

Agraciada pelo prêmio em Cannes, a atuação de Bruce Dern não só dita o desenvolvimento da história, mas pelos trejeitos e olhares melancólicos que apresentam mais do que um velho rabugento e seu Woody transpassa uma empatia que não tem como o expectador ignorar. Entre o comportamento ranzinza e uma certa ingenuidade, o Woody de Bruce Dern nos dita um personagem unicamente tridimensional que é a alma do filme e é de se reconhecer todas as indicações que recebeu.

Nebraska é simples, mas não simplista. A gama de emoções vai de atitudes e olhares vistas de forma sutil, não existe uma passionalidade em seus atos bondosos ou maldosos, como se elas fossem únicas e sim, que elas são comuns, assim como em qualquer ser humano e a estrada como o local de reconciliação ou de conflito com seus demônios é enfatizada pelo caminho que cada personagem trilha a cada asfalto queimado pelas borrachas dos pneus que os levam, seja para um prêmio de muitos dólares ou para uma aproximação entre pai e filho.

Nota: 8,5/10,0




Trailer:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui é o seu espaço, pode deixar seu comentário, sugestão ou crítica que logo iremos respondê-lo!