Por Maurício Owada
"Seja uma sátira social ou um filme de ação,
Verhoeven marca o cinema americano com seu estilo"
Um futuro próximo, cidade dominada por gangues, o crime organizado e pelas grandes corporações, infestado por uma cultura pobre abastecida pela televisão e seus programas de baixo conteúdo que contribui para a imbecilização de uma sociedade cada vez mais doente. Seja presente ou futuro, essa é a sociedade retratada e satirizada por Paul Verhoeven em Robocop, O Policial do Futuro (Robocop).
Após ser massacrado por uma gangue durante uma patrulha,
Alex Murphy (Peter Weller) se torna propriedade da OCP (Omni Produtos de
Consumo) e transformam seu corpo em uma máquina feita para lutar contra o
crime, em um ciborgue policial que segue suas diretrizes baseadas na lei,
indestrutível e eficiente. Porém, lembranças do seu passado começarão a
atormentá-lo e desviá-lo de sua função.
Uma das coisas que chama atenção é, primeiramente, a visão de
uma Detroit extremamente caótica e distópica, onde a televisão é recheada de noticiários tendenciosos e propagandas apelativas, para pessoas alienadas em seus sofás, enquanto as ruas explodem na violência e no
crime. O roteiro inteligente de Edward Neumeier e Michael Miner constroem a
narrativa e o contexto através dos programas de TV, que é ilustrada de forma exagerada e engraçada, o que realça a qualidade do filme como uma sátira.
Por seu um filme de ação, as cenas de tiroteio e morte não
ficam de lado, mesmo assim, Verhoeven choca pela violência extrema contida nas cenas,
que vai desde um executivo fuzilado por um robô descontrolado até um bandido
desforme por lixo tóxico. Todo esse exagero acrescenta ainda um humor negro e um toque de sadismo que dá um charme, sendo assim, Robocop é um filme com bastante personalidade própria que tem em seu diferencial, as mãos de um diretor estrangeiro. Talvez o fato de Robocop ter se sobressaído no mercado por ter um realizador de outro país, é que os estúdios acabaram escolhendo o brasileiro José Padilha para dirigir o remake tenha se concretizado.
O personagem interessante da trama é realmente Murphy/Robocop,
já que o roteiro explora o conflito de sua humanidade com a sua posterior
robotização; todas as suas características são icônicas, desde sua frase: “Venha comigo, morto ou
vivo!”, desde seus movimentos de ciborgue e o modo como sacava a arma, como um mocinho herói de bangue-bangue, que paradoxalmente faz parte de um ambiente totalmente hostil e corrompido, dominada pelas grandes corporações. Enquanto isso,
Ronny Cox faz um vilão caricato em sua melhor forma: vingativo, trapaceiro e
ganancioso, que não mede esforços para tirar quem quer que seja do seu
caminho, já Nancy Allen vive a policial Anne Lewis, a típica mulher durona, enquanto o personagem Robert Morton, vivido por Miguel
Ferrer, é uma caricatura da geração yuppie. A maioria dos personagens são muito mais um mosaico de uma sociedade alienada e
consumista.
No fim, Robocop funciona como um bom filme de ação dos anos
80, mas o seu maior triunfo é sua visão ácida perante as grandes
corporações, as medidas governamentais, a privatização de órgãos públicos
(lembrando que a polícia de Detroit é propriedade da Omni), a mídia manipuladora e uma onda crescente de violência e crime que vive mancomunado com a política. No
fim, até parece que estamos falando daqui do Brasil.
Crítica realmente inteligente sobre um dos melhores filmes que eu assisti, estou curioso para ver esse remake realizado por um brasileiro e se não tiver sucesso não vai compremeter o valor do primeiro filme. Obs: durante a leitura da sua crítica estava justamente pensando no Brasil!
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