quinta-feira, maio 1

Crítica: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014)


Por Maurício Owada

"O olhar sensível de Daniel Ribeiro às descobertas 
do jovem Leonardo, com uma simplicidade que poucos conseguem ter"

Um dia tedioso na beira da piscina, dois corpos estão juntos, deitados e seminus, apenas com a roupa de banho, trocam segredos e jogam conversa fora, eis uma menina de biquini e sutiã de piscina e outro com sunga, mas não estão na mesma posição - no quadro inicial do filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, Leonardo (Guilherme Lobo) está deitado olhando o céu e acariciando a superfície da água em sentido vertical, enquanto Giovana (Tess Amorim) está em horizontal, deitada de barriga pra baixo. Ambos trocam ideias, entediados com a vida e com as férias longas e vazias. Todo o quadro inicial já revela uma abordagem comum, do cotidiano da vida do jovem cego, que sofre bullying por sua deficiência e posteriormente, uma certa diferença entre ambos que apenas resulte em uma amizade. Sem um forçação melodramática ou explícita, o filme idealizado do curta que veio a fazer sucesso na internet, postado no YouTube pelo próprio diretor (recomendável conferir tanto o curta Eu Quero Voltar Sozinho como o anterior, Café com Leite, disponível também na lista do Sessão Curta+).

Leonardo e Giovana são amigos inseparáveis que estão passando pela adolescência e com ela, vem suas descobertas, suas crises e a maturidade que pouco a pouco, vai sendo o motor das ações de Leonardo, que mesmo cego, busca uma independência para tomar rumo a uma vida que lhe foi privada e o principal personagem que dá um empurrão é Gabriel (Fabio Audi), novo aluno da escola que desperta novos sentimentos no garoto e dá uma desequilibrada na redoma de proteção que era a amizade e união com Giovana.

O apelo do diretor não é banalizar as diferentes formas de amor que a sociedade não aceita, mas sua abordagem simples e seu roteiro sem apelos dramáticos, não que isso tire a qualidade do filme, mas o torna singular em relação ao tema homossexual. O diferencial dele reside nos conflitos comuns a todo adolescente, é claro que o tratamento acerca das descobertas pessoais ficam mais enaltecidas quando Leonardo se descobre gay, mas vai além disso e o jovem experimenta novas sensações como ir ao cinema, madrugar para um eclipse lunar ou andar de bicicleta. E sem o excelente elenco, não seria possível uma jornada tão intimista, principalmente Guilherme, que já no curta, apresentava um talento não só por interpretar um cego, mas pela sensibilidade que ele adquiria em sua performance, não é nada caricato ou exagerado, são apenas detalhes pequenos que enriquecem a sua performance como o rosto afoito quando toca o rosto de Gabriel ou a desorientação quando Giovana o deixa falando sozinho. Já Gabriel empresta um pouco de mistério e quietude a um jovem ainda novo na escola, enquanto Giovana é maior aprofundada no longa, que desenvolve um complexo triângulo amoroso, a paixão por Leonardo e a atração por Gabriel, que resulta em certa rejeição ou isolamento. 

Aprofundando o mundo em volta de Leonardo, a história é ampliada, não apenas esticada como muitos erram em fazer, o diretor e roteirista Daniel Ribeiro toma liberdade em relação ao curta, não segue nenhuma cartilha, apenas expande a trama e como dito acima, desenvolve melhor os seus personagens. 

Com uma simplicidade única, acho que falar mais alguma coisa em relação ao filme é talvez falar demais, já que pela beleza e leveza da trama, agraciado por um trilha-sonora encantadora (destaque para There's Too Much Love, de Belle & Sebastian) ela encante as pessoas por tratar de um tema tão comum, que é o amor, como ele se gera de forma que a gente nem imagina e que sensações ela proporciona, e isso não precisa ser homossexual para saber disso... e muito menos cego.

Nota: 8,5/10,0




Trailer:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui é o seu espaço, pode deixar seu comentário, sugestão ou crítica que logo iremos respondê-lo!