Por Maurício Owada
“No espaço, a vida é
impossível.”
Carl Sagan, em seu famoso texto “Pálido Ponto Azul”,
expressou a fragilidade e a pequenez da Terra e do ser humano diante do imenso e
infinito universo e citava a nossa percepção diante do vasto vazio que
se encontra além da atmosfera, discurso este inebriado em meio a uma conferência em 11
de Maio de 1966 citando a histórica fotografia da sonda Voyager 1. Em diversos
filmes, desde 2001 – Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1966), demonstrava-se o contato do ser
humano com o espaço e seu papel em frente dessa coleção de satélites, planetas, sistemas
solares e galáxias: o homem diante do conhecimento além de sua compreensão
terrena, se transforma num bebê estelar, exonerado de matéria, criado apenas de
consciência.
Gravidade (Gravity), do diretor mexicano Alfonso Cuarón, pode não sair
da órbita da Terra, mas reflete sobre a nossa fragilidade diante do espaço,
retratada assim como a natureza: bela, porém, perigosa. E assim como no meio
selvagem, o espaço é cheio de imprevistos, a única e fundamental diferença é
que não existe possibilidade nenhuma de existência de vida lá. No filme, a
tripulação do ônibus espacial Explorer é destroçada, deixando o comandante Matthew Kowalsky (George Clonney)
e a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) à deriva, sozinhos e desprotegidos, na
órbita da Terra, tentando se salvar.
Repetindo o feito de Filhos da Esperança (Children of Men, 2006), Alfonso Cuarón
demonstra ser um diretor que demonstra todo o seu virtuosismo técnico a partir
de planos-sequências que beiram a perfeição. A forma como ela viaja pelo vazio
preenchido por astronautas acoplados por cordas em suas naves e uma vista da
Terra que serve de fundo nos dá a impressão de distanciamento da segurança
plena, dá um tom claustrofóbico e tenso durante toda a projeção. Cuarón, assim
como na sequência do carro em Filhos da Esperança, utiliza a câmera de modo
inteligente e extremamente impressionante, que filma o rosto da personagem
principal e ela se afasta, saindo de dentro do capacete e se distancia ainda
mais, quando vemos apenas o seu corpo girando no espaço, desaparecendo em meio
àquela escuridão. A isenção de um eixo de câmera (essencial para a percepção de
direção do espectador em meio ao cenário) é uma opção criativa do diretor,
visto que a gravidade e o senso de direção no espaço são completamente
diferentes, senão, inexistentes.
A recriação dos ônibus e estações espaciais, trajes e
diversos deixa claro toda a profunda pesquisa que a direção de arte, enquanto a
direção de fotografia faz um trabalho árduo com a iluminação, tendo em conta o
nascer do Sol, o reflexo da Terra no capacete, entre outros, um perfeito e bem
conduzido trabalho de Emmanuel Lubezki, que trabalhou no filosófico A Árvore da
Vida, de Terrence Malick. A trilha-sonora não apenas acrescenta ao filme, mas se
como fizesse parte diante de toda aquela imensidão sombria, que acompanha a
Dra. Stone em seus sentimentos e emoções.
Contando praticamente com si mesma, Sandra Bullock é o
destaque único no elenco, tendo que atuar praticamente sozinha e Cuarón dá a
segurança necessária para a atriz sustentar todo o filme, durante sua 1h30. O roteiro
do diretor escrito em conjunto com seu filho Jonás Cuarón não é só um filme de
sobrevivência no espaço, mas da fragilidade do humano em meio ao vasto espaço,
sem oxigênio e sem gravidade, contando apenas de recursos escassos, ao mesmo
tempo que nos faz refletir sobre as nossas vidas e a cena em que a Dra. Stone
tem contato com uma pessoa qualquer da China e ouve os latidos de um cachorro e
um choro de bebê é tocante – qualquer contato com a Terra, mesma abstrata, é
puramente reconfortante.
Gravidade é um belíssimo trabalho, um filme com uma história
simples, mas forte, contada através de um trabalho de câmera e som que serve de
pilastra para toda a construção do filme, levando-nos a jornada de ser humanos
que lutam em voltar para casa, para a Terra, para o nosso pálido ponto azul.
*Dica: é recomendável
assistir ao filme em um 3D com uma tela bem grande, seja um IMAX ou um MacroXe.
Nota: 9,5/10,0
Trailer:
Gravidade é um filme é surreal! É tenso, tem ótimos efeitos visuais, as atuações e diálogos são impecáveis. Ele prende a atenção do espectador do início ao fim. E deixa de lado muitos dos velhos clichês dos filmes de ficção de Hollywood. Muito recomendado! Mesmo pra que não é 100% fã de ficção, vale cada centavo! Sem dúvida uma obra prima!
ResponderExcluirAssisti no Imax 3D, e, se deixando imergir no filme (o qual é a graça do cinema), você fica tenso do começo ao fim, pois a cada movimento da personagem é a linha entre viver ou não. Ocorrem tantos problemas e a persistência da personagem para sobreviver é impressionante.
ResponderExcluirAnônimo 1, põe tenso nisso! Meus músculos enrijeciam toda vez que Ryan soltava da nave. hehe O filme é muito bem feito e a fotografia lindíssima. Sabia que já tinha visto aquele olhar contemplativo em algum lugar - é lá do A árvore da Vida. Curti ainda mais as muitas homenagens ao clássico 2001, de Kubrick.
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