domingo, outubro 13

Crítica: Gravidade (2013)


Por Maurício Owada

“No espaço, a vida é impossível.”

Carl Sagan, em seu famoso texto “Pálido Ponto Azul”, expressou a fragilidade e a pequenez da Terra e do ser humano diante do imenso e infinito universo e citava a nossa percepção diante do vasto vazio que se encontra além da atmosfera, discurso este inebriado em meio a uma conferência em 11 de Maio de 1966 citando a histórica fotografia da sonda Voyager 1. Em diversos filmes, desde 2001 – Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1966), demonstrava-se o contato do ser humano com o espaço e seu papel em frente dessa coleção de satélites, planetas, sistemas solares e galáxias: o homem diante do conhecimento além de sua compreensão terrena, se transforma num bebê estelar, exonerado de matéria, criado apenas de consciência.

Gravidade (Gravity), do diretor mexicano Alfonso Cuarón, pode não sair da órbita da Terra, mas reflete sobre a nossa fragilidade diante do espaço, retratada assim como a natureza: bela, porém, perigosa. E assim como no meio selvagem, o espaço é cheio de imprevistos, a única e fundamental diferença é que não existe possibilidade nenhuma de existência de vida lá. No filme, a tripulação do ônibus espacial Explorer é destroçada, deixando o comandante Matthew Kowalsky (George Clonney) e a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) à deriva, sozinhos e desprotegidos, na órbita da Terra, tentando se salvar.

Repetindo o feito de Filhos da Esperança (Children of Men, 2006), Alfonso Cuarón demonstra ser um diretor que demonstra todo o seu virtuosismo técnico a partir de planos-sequências que beiram a perfeição. A forma como ela viaja pelo vazio preenchido por astronautas acoplados por cordas em suas naves e uma vista da Terra que serve de fundo nos dá a impressão de distanciamento da segurança plena, dá um tom claustrofóbico e tenso durante toda a projeção. Cuarón, assim como na sequência do carro em Filhos da Esperança, utiliza a câmera de modo inteligente e extremamente impressionante, que filma o rosto da personagem principal e ela se afasta, saindo de dentro do capacete e se distancia ainda mais, quando vemos apenas o seu corpo girando no espaço, desaparecendo em meio àquela escuridão. A isenção de um eixo de câmera (essencial para a percepção de direção do espectador em meio ao cenário) é uma opção criativa do diretor, visto que a gravidade e o senso de direção no espaço são completamente diferentes, senão, inexistentes.

A recriação dos ônibus e estações espaciais, trajes e diversos deixa claro toda a profunda pesquisa que a direção de arte, enquanto a direção de fotografia faz um trabalho árduo com a iluminação, tendo em conta o nascer do Sol, o reflexo da Terra no capacete, entre outros, um perfeito e bem conduzido trabalho de Emmanuel Lubezki, que trabalhou no filosófico A Árvore da Vida, de Terrence Malick. A trilha-sonora não apenas acrescenta ao filme, mas se como fizesse parte diante de toda aquela imensidão sombria, que acompanha a Dra. Stone em seus sentimentos e emoções.

Contando praticamente com si mesma, Sandra Bullock é o destaque único no elenco, tendo que atuar praticamente sozinha e Cuarón dá a segurança necessária para a atriz sustentar todo o filme, durante sua 1h30. O roteiro do diretor escrito em conjunto com seu filho Jonás Cuarón não é só um filme de sobrevivência no espaço, mas da fragilidade do humano em meio ao vasto espaço, sem oxigênio e sem gravidade, contando apenas de recursos escassos, ao mesmo tempo que nos faz refletir sobre as nossas vidas e a cena em que a Dra. Stone tem contato com uma pessoa qualquer da China e ouve os latidos de um cachorro e um choro de bebê é tocante – qualquer contato com a Terra, mesma abstrata, é puramente reconfortante.

Gravidade é um belíssimo trabalho, um filme com uma história simples, mas forte, contada através de um trabalho de câmera e som que serve de pilastra para toda a construção do filme, levando-nos a jornada de ser humanos que lutam em voltar para casa, para a Terra, para o nosso pálido ponto azul.


*Dica: é recomendável assistir ao filme em um 3D com uma tela bem grande, seja um IMAX ou um MacroXe.

Nota: 9,5/10,0




Trailer:

3 comentários:

  1. Gravidade é um filme é surreal! É tenso, tem ótimos efeitos visuais, as atuações e diálogos são impecáveis. Ele prende a atenção do espectador do início ao fim. E deixa de lado muitos dos velhos clichês dos filmes de ficção de Hollywood. Muito recomendado! Mesmo pra que não é 100% fã de ficção, vale cada centavo! Sem dúvida uma obra prima!

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  2. Assisti no Imax 3D, e, se deixando imergir no filme (o qual é a graça do cinema), você fica tenso do começo ao fim, pois a cada movimento da personagem é a linha entre viver ou não. Ocorrem tantos problemas e a persistência da personagem para sobreviver é impressionante.

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  3. Anônimo 1, põe tenso nisso! Meus músculos enrijeciam toda vez que Ryan soltava da nave. hehe O filme é muito bem feito e a fotografia lindíssima. Sabia que já tinha visto aquele olhar contemplativo em algum lugar - é lá do A árvore da Vida. Curti ainda mais as muitas homenagens ao clássico 2001, de Kubrick.

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