segunda-feira, agosto 12

Crítica: Círculo de Fogo (2013)


Por Maurício Owada


"O cinema de Guillermo Del Toro e a homenagem a cultura nipônica
em uma escala maior, de proporções hollywoodianas"

Ao início do filme, vemos o significado de Kaiju e Jaeger: Kaiju é monstro gigante em japonês, enquanto Jaeger no alemão significa caçador. E assim se segue a introdução da história de Círculo de Fogo (Pacific Rim), onde mostra um mundo profundamente alterado pelas invasões de monstros que saíram de uma fenda dimensional localizada em uma falha vulcânica que divide duas placas tectôncias, com uma narração em off e noticiários de TV que mostram a destruição de cidades e a momentânea vitória dos robôs denominados Jaeger sobre os invasores, a fama dos heróis, até que tudo começa a desmoronar de vez. É a típica introdução de um anime ou mangá... exato! O diretor Guillermo Del Toro pega o roteiro simples e até clichê de Travis Beacham e transforma em uma homenagem ao cinema espetáculo japonês que vai desde o óbvio Godzilla, aos animes e mangás de mecha e filmes tokusatsu feito pelos estúdios Toei em meados dos anos 60.

Um dos aspectos que chama mais atenção na produção do filme é a imersão que ele proporciona. É claro que para a experiência se tornar mais impactante, é recomendável a maior tela de cinema que lhe estiver disponível com um sistema de som de arrepiar. O cineasta, responsável já por divertidas e distintas adaptações de HQ e um dos filmes de fantasia mais esplendorosos e criativos da década passada (Labirinto do Fauno), apresenta todo um cuidado nas cenas, os detalhes e a toda a sensação de presenciar robôs colossais em combate com monstros gigantescos é de deixar o espectador preso na cadeira. A direção de Guillermo Del Toro preza cada cena do filme, não há algo que não tenha sido cuidadosamente pensado e os aspectos técnicos deixa isso bem claro.

A direção de arte é um ponto forte explícito em toda a duração do filme, os robôs de cada país, os monstros, e cidades que ganham restos de kaijus abatidos como parte do cenário, como uma costela que compõe a paisagem de metrópole superpopulosa de Hong Kong. O design de produção é detalhada em cada mínima parte e tudo isso é valorizado pelos efeitos visuais que intensificam o peso dos Jaegers lutando, seja no mar ou até mesmo, no espaço. As cenas em que os pilotos vividos por Rinko Kikuchi (Babel) e Charlie Hunnam (da série Sons of Anarchy) dentro da cabeça do Jaeger, onde compartilham as suas memórias e habilidades para conduzir o veículo através de uma conexão neural, lembra de certa forma, os Power Rangers (originalmente uma criação dos japoneses) quando conduziam os borgs, as faíscas e o desequilíbrio após levar uma pancada de um kaiju e ao mesmo tempo cria um laço entre eles e seus espectadores.

Apesar de serem caricatos baseado em arquétipos (não confunda com estereótipos), o roteiro busca uma conexão do espectador com os personagens, todos têm seu passado, suas motivações e seus sacrifícios quase suicidas nos remetem mais uma vez aos clichês dos nossos amigos nipônicos e ao invés de apresentar, como a grande maioria das produções desta magnitude, os americanos como heróis úncios, há toda uma uma junção multiétnica que vai desde os russos com sua aparência soviética (robustos e sérios), os chineses cheios de façanha e super habilidosos e os australianos que são ágeis e eficientes. Mesmo com o teor de heroísmo exagerado, não apresenta uma faceta nacionalista como o Transformers (idem, 2007) de Michael Bay ou os filmes catástrofes de Rolland Emmerich.

Grande parte do elenco é competente e seguem conforme manda o roteiro, mas conseguem segurar bem o filme e as suas interações, previsíveis, são bem colocadas e não são forçadas. Mas há de destacar a presença em cena de Idris Elba que impõe uma figura de autoridade e sobretudo de líder e Ron Perlman (Hellboy) em uma divertida aparição como um traficante de partes de corpos de kaiju abatidos. Os cientistas malucos também são um alívio cômico que funciona muito bem e nunca são forçadas ou irritantes, podendo ser comparadas a dupla R2-D2 e C3PO, da franquia Star Wars, onde aparentemente não se dão bem, mas não vivem sem o outro. Toda a estrutura do filme é semelhante ao primeiro filme de Star Wars, seja os seus personagens até a sua proposta, afinal, George Lucas também foi influenciado pelos orientais (O mestre Kurosawa em específico) e em aventuras de ficção-científica de heróis espaciais como Buck Rogers e Flash Gordon. Guillermo Del Toro aproveita de uma fórmula de sucesso estabelecida pelos pais dos blockbusters (Spielberg e Lucas) e faz sua própria homenagem a vasta e tão adorada cultura japonesa.

Apesar de ter sido um fracasso no EUA, a bilheteria mundo afora prova que pelo menos Círculo de Fogo conquistou seu público e já garantiu uma continuação (que esperemos que seja tão bom ou superior a este). Um roteiro dinâmico e sem rodeios, uma direção de um talentoso mexicano que já provara seu valor em produções anteriores, o filme vai agradar a um grande público, porém seu único foi ter um marketing tão fraco pra sua qualidade. Talvez uma parte do dinheiro do marketing tenha sido voltado para um melhor desenvolvimento do filme, não se sabe, mas merece ser conferido e assim como Star Trek - Além da Escuridão (Star Trek Into Darkness, 2013), este eletrizante e emocionante filme está em uma das maiores produções blockbusters desta temporada, se afastando da laia de obras medíocres que recheiam as salas de cinema nesta temporada.

Detalhe: este crítico que vos escreve ainda estava sob influência do êxtase pós-filme. Não reparem na empolgação.

Nota: 8,5/10,0




Trailer:

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