A Comédia ligeira brilhou soberana na década de 30 e 40 nos EUA. Desse delicioso legado guardamos na memória mais facilmente os nomes de George Cukor, Ernst Lubitsch, Hawks, Capra (que se valeu do gênero mais o aprofundou ao seu mundo), McCarey e Sturges. Wilder exploraria como diretor tal veio bem mais tarde na década de 50, mas o seu estilo é mais corrosivo (genial porém), tendo contribuído nessa época como roteirista de algumas pérolas (A Oitava Esposa do Barba Azul, Bola de Fogo, Ninotchka – o que por si só bastaria para eternizá-lo na História da Sétima Arte). Outros diretores simplesmente jazem esquecidos, apesar de possuírem obras que merecem atenção do cinéfilo atento. Casos de Leisen (que se valia de roteiros de Sturges) e La Cava (que era tinha experiência anterior com animações). Iremos colocar nossa atenção sobre uma de suas obras aqui.
O
que mais me encanta nesse gênero é a originalidade de suas premissas: “Aqui
duas irmãs desocupadas e mimadas participam de uma gincana onde devem levar um
mendigo até um clube onde membros da sociedade privilegiada participam de jogos
absurdos com o objetivo de preencherem o
vazio existencial de suas vidas. Num lixão improvisado sobre uma ponte elas se
deparam com Godfrey (William Powell) e tentam o convencer a ir com elas. A
menos arrogante das irmãs consegue convencê-lo e ela fatura a gincana. Como
forma de agradecimento (ela sempre perdia para a irmã) ela resolve contratá-lo
como mordomo. O homem aceita e descobre que terá de conviver com uma família de
excêntricos malucos que a custa do dinheiro que possuem, cometem de enormes
extravagâncias, ignorando assim a realidade social que vigora no país naquela
época. Godfrey terá a missão de retirá-los do estado de inconsciência e
mergulhá-los na realidade, tendo ainda de garantir seu emprego para não
retornar as ruas, de onde escapara.”
Precisamos, para aprecia-lo melhor, lembrarmo-nos do contexto em que foi produzido. Os EUA passavam pela maior crise de sua História. O desemprego e a fome campeavam pelo país. Capra se encaixara nessa realidade com suas obras da qual se exalava um otimismo político, social e econômico e ousava em obras onde se depreendiam acentos socialistas como Adorável Vagabundo e O Galante Mr Deeds. Da parte de La Cava poderíamos (pela sua formação anterior) uma obra mais subversiva e anárquica, já que trabalha aqui com um roteiro que se ancora no choque das classes sociais. No entanto ele encaminha a historia para um terreno mais cômodo, deixando de lado temas políticos oportunos, mas que poderiam soar muito subversivos, Assim o filme apenas insinuará alguns temas e o roteiro tratará de colocar o mendigo/mordomo como alguém riquíssimo que optou por descer de sua torre de marfim para melhorar a realidade que o cercava. Essa revelação quando o filme já se adiantava, frustra um pouco o expectador moderno. Mas, no entanto torna crível o perfeito domínio do ambiente em que se ele enfiou, com uma diferença primordial: Ele mostra qual deve ser o comportamento dessa classe social. E por ser mais rico, acaba por ser o porta voz dessa classe: salva a família da bancarrota, as filhas se dão conta de como foram ridículas, sendo egoístas, imaturas e superficiais. E o próprio Godfrey expande esse ensinamento além. Sua própria família se dá conta de que é se investindo no trabalho que se reerguerá a nação, uma lição aos especuladores e políticos de todos os tempos.
Precisamos, para aprecia-lo melhor, lembrarmo-nos do contexto em que foi produzido. Os EUA passavam pela maior crise de sua História. O desemprego e a fome campeavam pelo país. Capra se encaixara nessa realidade com suas obras da qual se exalava um otimismo político, social e econômico e ousava em obras onde se depreendiam acentos socialistas como Adorável Vagabundo e O Galante Mr Deeds. Da parte de La Cava poderíamos (pela sua formação anterior) uma obra mais subversiva e anárquica, já que trabalha aqui com um roteiro que se ancora no choque das classes sociais. No entanto ele encaminha a historia para um terreno mais cômodo, deixando de lado temas políticos oportunos, mas que poderiam soar muito subversivos, Assim o filme apenas insinuará alguns temas e o roteiro tratará de colocar o mendigo/mordomo como alguém riquíssimo que optou por descer de sua torre de marfim para melhorar a realidade que o cercava. Essa revelação quando o filme já se adiantava, frustra um pouco o expectador moderno. Mas, no entanto torna crível o perfeito domínio do ambiente em que se ele enfiou, com uma diferença primordial: Ele mostra qual deve ser o comportamento dessa classe social. E por ser mais rico, acaba por ser o porta voz dessa classe: salva a família da bancarrota, as filhas se dão conta de como foram ridículas, sendo egoístas, imaturas e superficiais. E o próprio Godfrey expande esse ensinamento além. Sua própria família se dá conta de que é se investindo no trabalho que se reerguerá a nação, uma lição aos especuladores e políticos de todos os tempos.
Ainda
que o discurso soe ultrapassado e datado, o filme é considerado como um dos
ápices da comédia ligeira, graças as interpretações, aos diálogos saborosos e a
precisão rítmica da mise em scène. La
Cava com esses 3 elementos conseguia reger um concerto em elevada interpretação
desde o inicio até o fim. As
excentricidades da família e do protegido possuem uma ternura adocicada e
desembocam em verdadeiros absurdos (pertinentes, mas absurdos). O diretor com
uma elegância hoje esquecida coloca os personagens em situações pouco comuns: a
biblioteca vira uma estrebaria, os jantares são regados a declamações de um
protegido de madame sem talento algum, um verdadeiro chupim (Carlo - Misha Auer, O professor Boris Kolenkhov de “Do Mundo
Nada Se Leva – indicado ao Oscar).As interpretações de todo o elenco cativam: Gail Patrick cria uma
Cornelia pretensiosa que não recua diante de nada; Carole Lombard,
que tão bem sabia criar jovens caprichosas totalmente desconectadas da
realidade, é uma comediante nata. Ela nos rouba deliciosos sorrir ao simular
pesadamente um delíquio para punir o homem que nega seus avanços. Aliás foi o
primeiro filme indicado em todas as categorias de atuação. Se eu fosse definir
o estilo de La Cava diria que seria no tocante a temática social um Capra e
pelos diálogos um Cukor (devido a acidez
desses). Já a mise em scène e o timming dos diálogos é uma mistura de Lubitsch e McCarey. Precisava
conhecer mais obras suas. Somente vi essa.
Agora se o restante for tão promissor quanto isso será muito bom. Lamentavelmente as cópias (DVD) que nos chegam são descuidadas. Uma pena já que a obra merecia um maior carinho. Talvez também melhor seria se tivéssemos adotado o título dado em Portugal: Doidos Milionários. Tem muito mais a ver que o usado no Brasil.
Agora se o restante for tão promissor quanto isso será muito bom. Lamentavelmente as cópias (DVD) que nos chegam são descuidadas. Uma pena já que a obra merecia um maior carinho. Talvez também melhor seria se tivéssemos adotado o título dado em Portugal: Doidos Milionários. Tem muito mais a ver que o usado no Brasil.
Nota: 8,0/10,0
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