quinta-feira, abril 3

Crítica: A Origem (2010)


Por Maurício Owada

"O labirinto da mente humana"

Christopher Nolan sempre teve um fascínio em criar histórias que giram acerca da complexidade da funcionalidade da mente humana, como Amnésia (Memento, 2000), seu segundo trabalho em longa-metragem e primeiro sucesso, aonde um homem tinha amnésia a cada momento e a história ia do final pro começo, fazendo o início da história ser todo o clímax, lidando com uma montagem que ajudava imensamente e uma direção que se preocupava bastante em deixar claro para o espectador o que acontece, mesmo diante de tantos fatos inseridos na trama que traziam mais complexidade e isso sempre foi o maior pecado de sua carreira: explicar demais a história. Ainda que seja um diretor que prefira fazer blockbusters com tramas mais inteligentes, o seu medo em não ser aceito causa explicações didáticas a todo momento ou criar personagens apenas para isso.

Filmes como Insônia (Insomnia, 2002) e O Grande Truque (The Prestige, 2006) também sempre lidou com as ilusões da mente, a confusão criada para se criar uma verdade dentro da mente de alguém. A Origem (Inception)é exatamente sobre isso: criar uma verdade dentro da mente de alguém, entrando na mente da pessoa. Seguindo a cartilha dos filmes de assalto, cada personagem tem uma função dentro do golpe que é desenvolvido na trama e antes disso, é apenas a preparação e as explicações de onde atacarão, por aí, alguns servem apenas para explicar, apesar de terem uma função relativamente importante na história, como os personagens de Ellen Page e Joseph Gordon-Levitt.

A história começa com um roubo de informações a partir da mente de Saito (Ken Watanabe), por Don Cobb (Leonardo DiCaprio) e Arthur (Gordon-Levitt) que dá errado devido a uma projeção da mente de Cobb que sempre sabota, resultado da culpa que carrega pela morte da esposa Mal (Marion Cotillard) que se projeta da mente do protagonista. Após o acontecimento, o próprio Saito contrata os dois para ao invés de roubar informações da mente de uma pessoa, inserir uma ideia na mente do filho de um grande empresário interpretado por Cillian Murphy, para que este possa dividir o império do pai após sua morte. Eles contratam Ariadne (Page), a arquiteta, que precisa construir os cenários dos sonhos, descritos como labirintos; Eames (Tom Hardy), o falsificador, que pode se transformar em outras pessoas nos sonhos; e Yusuf (Dileep Rao), o químico, que produz as drogas que possam sustentar os vários níveis de sonhos (sonhos dentro de sonhos).

Se o parágrafo acima parece ser explicativo demais, o filme segue esse método para manter o espectador atencioso com a narrativa, que para os menos acostumados, pode soar confuso e sem noção, mas a questão é que Nolan insere muitas informações que precisa ser processado na hora de entender o que se passa e se isso acaba pencando para o didatismo, se demonstra necessário para a compreensão. Porém, o estilo lógico e matemático do cinema de Christopher Nolan transforma o sonho em algo lógico demais, o que pode fazer fãs do cinema surreal e David Lynch a não sentirem-se tão atraídos, já que o onirismo aqui só se conta pelos objetos impossíveis que são inseridas no cenário como a Escada de Penrose e diversos outros objetos que cria ilusões de perspectiva que trazem um charme único para a direção de arte, que conta também com um cenário muitas vezes modernista e geométrico. Apesar de uma visão diferente do sonho, Nolan cria uma história muito mais engenhosa do que surreal, reforçando todo o seu cinema que vinha fazendo, baseado nos alicerces da lógica.

Conhecido por utilizar mais efeitos visuais práticos do que digitais, deixando-os no mínimo, Christopher Nolan cria uma das sequências mais famosas dos últimos anos do cinema, a luta no corredor no hotel que se passa no segundo nível do sonho, onde Arthur luta contra dois agentes treinados do inconsciente do alvo com a gravidade oscilando para todos os lados, contando com uma coreografia e um trabalho de câmera excepcional, aonde não há um eixo para o diretor seguir. A parceria com Hans Zimmer aqui se mostra ainda mais criativa do que nos trabalhos icônicos em Batman Begins (idem, 2005) e Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), que popularizou o estrondo que é usado em todos os trailers de filmes: o "baauumm" (escrito do modo mais porco que já foi visto em uma crítica), utilizando também notas da música Non, je ne rigrette rien, de Edith Piaf (que é usada na sua versão original), alterando as frequências e tempo.

A Origem é um blockbuster com uma pegada mais inteligente, uma trama que exige mais do cérebro do seu espectador que espera ver explosões em meio a tantas pipocas e mudou de certa forma o mercado do cinema-pipoca da época, dando mais espaço pra filmes que buscam uma história mais bem construída, ainda que se percam em explicações e mais explicações (ainda mais os grandes filmes de ficção-científica), mas que chamam a atenção de levar ao público um trabalho mais pautado em um conteúdo pautado em pesquisas científicas, carregadas da boa arte (a música de Piaf, as referências ao Penrose etc), além de demonstrar um diretor que pode ir além da trilogia que ajudou a crescer e ajudou em sua carreira também, revelando-se de vez um cineasta autoral, mas que falta mais um pouco pra ficar polido de vez.

Nota: 8,0/10,0




Trailer:

Um comentário:

  1. Um dos meus filmes preferidos, estimula minha mente. Adoro o Nolan, tenho todos os filmes dele.

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